Laudemir de Souza Fernandes, 44 anos, assassinado há um mês, em 11 de agosto, enquanto trabalhava como gari no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte, deixou saudades. Filha, esposa, familiares, amigos, companheiros de trabalho, todos lamentam a falta do homem tímido e solidário, de vida e jeito simples.
Além de seus entes queridos, “Lau” também deixou seus sonhos, interrompidos por um tiro disparado por Renê da Silva Nogueira Júnior, que se irritou com a presença do caminhão de lixo em que Fernandes trabalhava em uma rua apertada.
Essa é a série de reportagens especiais “Um mês sem Laudemir”, onde contaremos um pouco da vida do homem que não reclamou nem quando uma mulher atirou um pacote de sal sobre ele enquanto recolhia o lixo. “É doida”, alegou, chegando em casa, à uma esposa indignada com as queimaduras no pescoço causadas pelo produto exposto ao sol quente. Que tinha sonhos muitos distantes de roupas caras, carrões ou status. Queria ver o mar, ter seu cantinho e viver com a mulher que amava.
Em entrevista exclusiva à Itatiaia, Liliane França da Silva, 44 anos, técnica de higiene bucal e esposa de Laudemir, contou alguns dos desejos do homem que, somados ao perfil trabalhador e amor pela profissão, o faziam acordar às 2h30 da manhã para trabalhar diariamente.
Liliane, Laudemir e o netinho João Lucca, xodó da casa
Casa própria
O maior sonho de Laudemir era compartilhado com Liliane: uma casa própria, só dos dois. O casal já se movimentava rumo à conquista. Há quatro meses eles saíram da casa onde moravam de favor para dividir aluguel com as duas filhas da mulher e o genro, marido de uma delas. Os cinco ainda tinham o pequeno João Lucca, netinho do coração de Lau, de apenas um ano e sete meses, como a alegria da casa.
Com mais pessoas para dividirem as contas, o casal conseguiria juntar mais dinheiro e assim buscar o “cantinho” deles.
“A gente estava se programando para ter nosso cantinho, a nossa casa, porque eu morava de favor na casa do meu irmão. Então a gente veio pra cá para juntar um dinheiro. Era nosso intuito, estávamos lutando por isso”, contou ela.
A ida à praia que virou prejuízo
Um dos grandes desejos de Laudemir, como bom mineiro, era conhecer a praia. Mais um sonho que ele não pôde realizar.
E talvez tenha sido o que esteve mais próximo, já que as malas chegaram a ser feitas. Porém, a euforia virou frustração e prejuízo.
“A cena da praia foi de cortar o coração, as malas ficaram aqui na sala todas arrumadas. A mulher me mandou mensagem pouco antes, perguntando: ‘Liliane é você que ia à praia?’ Ia? Eu vou à praia”, lembrou, “rindo de tristeza”, como se diz.
Segundo ela, logo em seguida foi adicionada em um grupo de quase viajantes indignados e o sonho de conhecer a praia acabou. Liliane e Laudemir haviam caído em um golpe. Depois tentaram um resort e acabaram sofrendo outro calote.
“Foi um dia tão azarado que até uma pizza que a gente pediu deu ruim. Então eu falei assim: ‘Não vou nem sair na porta hoje’”, contou Liliane.
“Ele nunca tinha ido, então foi muito triste. Ele estava animado e nem chegou a ir. Era uma grande vontade dele”, afirmou.
O fim de semana na pousada que nunca aconteceu
Além da praia, Laudemir vinha planejando passar um fim de semana em uma pousada com Liliane. Ele já havia contado à ela o desejo, porém vinha acertando os últimos detalhes em segredo. A esposa contou que Lau gostava de fazer surpresas. Ela só soube do passeio após a morte do homem, quando acessou seu celular.
“Tava ele fazendo a surpresa dele, olhando a pousada para nós. Depois que eu vi no telefone dele. Ele estava me planejando pedir em casamento lá”, lembrou ela.
Laudemir e Liliane estudaram na mesma escola, mas começaram a se falar muitos anos depois
Laudemir queria se casar
Apesar de viverem juntos, Liliane e Laudemir não eram casados oficialmente. E o homem sonhava em viver esse momento, na igreja evangélica que frequentavam. A ida à pousada seria o momento perfeito para o pedido.
Porém, Lau não tinha muita cerimônia quando o assunto era casar com Liliane, com o perdão do trocadilho irônico. No dia em que assinou o divórcio do seu casamento anterior, já queria providenciar a união com sua amada.
“No dia que ele se divorciou, me ligou todo feliz e o advogado estava do lado. E ele falou assim: ‘O doutor falou que, se você quiser, pode mandar a documentação que ele vai casar a gente agora’. Falei: ‘Menino, você nem viveu sua vida de solteiro e quer casar de novo? Vai fazer sua despedida de solteiro. Você vai casar, vai se arrepender e eu não vou divorciar não, vai achando’”, contou Liliane, entre muitas risadas.
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