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Morte de gari: advogado diz que há provas contundentes para indiciar Renê Júnior

Tiago Lenoir, advogado criminalista, tem atuado gratuitamente junto à família de Laudemir de Souza Fernandes

Renê Júnior, apontado preliminarmente como o assassino do gari Laudemir Fernandes, antes, durante e depois de sua prisão

O Itatiaia Patrulha recebeu, na tarde desta sexta-feira (15), o advogado criminalista Tiago Lenoir, que vem atuando como auxiliar da acusação no caso do assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos. Segundo ele, já existem provas contundentes para o indiciamento de Renê da Silva Nogueira Júnior, apontado preliminarmente como o autor do homicídio.

“Eu sou bastante técnico para analisar o processo. Eu não posso levar a questão para um lado emotivo, nem subjetivo. Nós temos provas contundentes para o indiciamento. E eu não vou sossegar enquanto esse indivíduo não for denunciado, processado, pronunciado, levado a júri popular e condenado. É um passo a passo, porque eu também não quero que uma nulidade aconteça”, afirmou Lenoir.

O advogado ainda recriminou a postura de Renê Júnior, que ameaçou um policial penal durante sua estadia no Ceresp Gameleira, onde foi preso em um primeiro momento.

“Ele agiu de forma dissimulada (na audiência de custódia). Ele não teve respeito pelo policial penal que estava fazendo a custódia dele dentro do Ceresp. Eu também coloquei isso no processo, chamei a atenção para esse fato gravíssimo. O indivíduo está preso e mesmo assim ele calunia, ele ameaça um policial penal. Isso não é normal. O indivíduo quando ele chega e começa a dissimular, a falar demais, acaba o prejudicando”, apontou Tiago.

Advogado pediu bloqueio de bens de suspeito e de delegada

Tiago Lenoir revelou, ainda, que pediu o bloqueio de bens de Renê da Silva Nogueira Júnior, apontado preliminarmente como o autor do homicídio, e de sua esposa, a delegada da Polícia Civil, Ana Paula Lamego Balbino Nogueira.

“Ontem mesmo eu entrei com o pedido de bloqueio de todos os bens, tanto do Renê, quanto da delegada Ana. Para que todas as pessoas que direta ou indiretamente sejam responsabilizadas por isso, eles reparem os danos materiais, morais e respondam criminalmente por tudo isso. Cada um na medida da sua culpabilidade”, revelou Lenoir.

O advogado explicou o que busca com o pedido.

“Isso é uma questão de tutela antecipada. O Código de Processo Civil, o Código de Processo Penal, prevê essa tutela antecipada. Eu não estou falando que a delegada é culpada de absolutamente nada. Por incrível que pareça, eu não posso nem falar que esse indivíduo é culpado. Ele tem todo o direito de defesa, do contraditório, e é ao final que ele será considerado culpado. Por enquanto há indícios suficientes de autoria e materialidade.

A tutela antecipada é pra garantir que eventualmente o patrimônio deles não seja dilapidado (deterioração intencional ou negligente de bens) e isso daí repare o mínimo. O máximo não tem como, que é incomensurável o retorno de uma vida, agora é o mínimo para essa família”, explicou Tiago Lenoir.

Gari morto em BH: arma usada no crime é de delegada da PC

A arma usada no assassinato do gari Laudemir de Souza era da delegada Ana Paula Balbino, esposa de Renê Júnior. O fato foi constatado após o teste balístico da arma. A informação foi confirmada pela Polícia Civil, que divulgou uma nota.

“De acordo com os exames periciais realizados, a arma de fogo utilizada no homicídio, ocorrido na última segunda-feira (11), no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte, que vitimou um homem, de 44 anos, está registrada em nome da servidora da instituição. Trata-se de uma arma de fogo particular”, diz comunicado.

Renê está preso desde a segunda-feira (11). Ele foi detido horas após o crime em uma academia na Avenida Raja Gabaglia, região Oeste de Belo Horizonte.

Já a delegada é investigada pela Corregedoria da Polícia Civil. Ela foi ouvida e teve duas armas recolhidas em sua casa: uma arma de fogo de uso particular e uma da corporação. Em um primeiro momento, a delegada havia dito que o marido não tinha acesso ao armamento.

Justiça quebra sigilo e PC terá acesso a rotas de carro e ligações de celular

A Justiça de Minas Gerais determinou a quebra do sigilo telefônico e do rastreamento do carro de Renê Júnior. A empresa BYD do Brasil e a operadora Claro deverão fornecer informações como rotas percorridas, comandos de voz, velocidade, registro de chamas e demais dados telemáticos do veículo no dia do crime.

Um dos pontos apurados envolve o tempo de deslocamento do suspeito entre a cena do crime e o local onde realizava testes como representante comercial, em Betim. Conforme as apurações, ele teria deixado o bairro Vista Alegre por volta das 9h07, chegando à empresa cerca de 30 minutos depois, às 9h37 - um intervalo considerado compatível com a distância e o trânsito no momento.

A polícia também analisa imagens registradas logo após a chegada de Renê ao trabalho, observando seu comportamento durante o período em que permaneceu na empresa.

“Essas quebras de sigilo telemático, telefônico, vão alicerçar todas as informações que já existem no processo”, garantiu Tiago Lenoir, em entrevista ao Itatiaia Patrulha.

O crime

Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, foi morto com um tiro no abdômen na manhã dessa segunda-feira (11), no bairro Vista Alegre, região Oeste de Belo Horizonte. De acordo com a Polícia Militar, o crime foi motivado por uma briga de trânsito. A vítima chegou a ser socorrida por populares, mas não resistiu.

Segundo o dono da empresa terceirizada que presta serviço à Prefeitura de Belo Horizonte, o suspeito ameaçou a motorista do caminhão de coleta, apontando um revólver para o rosto dela antes de disparar contra o gari. Ele afirmou que a rua era larga e que a motorista havia encostado o caminhão para permitir a passagem do carro do atirador, um BYD de grande porte.

Mesmo assim, o homem teria feito a ameaça de matar todos caso o veículo fosse encostado no dele.

Os garis tentaram convencer o agressor a não atirar, mas, após o carro passar, ele teria descido, atirado e atingido o abdômen de Laudemir. O trabalhador foi levado para o Hospital Santa Rita, mas morreu pouco depois.

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Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.
Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.
Jornalista formada pela PUC Minas. Mineira, apaixonada por esportes, música e entretenimento. Antes da Itatiaia, passou pelo portal R7, da Record.
Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.