Copasa: ação de PT e PSOL contra PEC do Referendo será relatada por Fux no STF

Partidos acionaram o Supremo para suspender efeitos de projeto de Zema que derrubou a exigência de um referendo popular para autorizar a venda da Copasa

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF) será o relator de ação movida por PT e PSOL

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) movida pelo Partido dos Trabalhadores e o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) para suspender os efeitos da chamada PEC do Referendo será relatada no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ministro Luiz Fux. Na instância máxima do Judiciário brasileiro, as legendas buscam anular a derrubada da exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa. No início deste mês, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou um projeto do governador Romeu Zema (Novo) que retirou a prerrogativa da consulta aos eleitores do estado para decidir o futuro da estatal de saneamento.

A ação foi enviada ao STF na segunda-feira (24) e distribuída ao gabinete de Fux no dia seguinte. No documento preparado pelos partidos que integram a oposição a Zema na Assembleia, as legendas argumentam que a retirada do referendo é inconstitucional por violar a soberania popular e reduzir direitos políticos dos mineiros em favor da aceleração de um processo de privatização.

Um dos argumentos apresentados por PT e PSOL na ação é que a derrubada do referendo representaria um retrocesso institucional ao alterar a lei para retirar um direito previamente adquirido pela população — no caso, o de decidir sobre a venda das estatais.

Com Fux definido como relator, cabe ao ministro agora elaborar seu parecer sobre a ação e pautar a votação na corte. Em uma análise inicial, ele pode ainda tomar uma decisão monocrática a favor ou em prejuízo da ADI, se julgar necessário. O magistrado foi recentemente criticado por petistas e psolistas por seu voto pela absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na sessão do Supremo que o condenou a mais de 27 anos por crimes como golpe de Estado e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

Referendo foi instituído em 2001

Em 2001, então sob o governo de Itamar Franco (1930-2011), foi incluído na Constituição de Minas Gerais um artigo que determinava que a privatização de empresas públicas de fornecimento de gás natural, energia elétrica e saneamento careceria de uma aprovação popular via referendo.

Então no PMBD, Itamar sucedeu Eduardo Azeredo (PSDB) e reagia a um momento de avanço da pauta privatista no estado e no Brasil. Em 1997, por exemplo, 33% das ações da Cemig foram vendidas.

Eleito em 1998, Itamar enviou à Assembleia, três anos depois, a PEC 50/2001 em março. O texto tramitou na Casa durante sete meses e foi aprovado por unanimidade em outubro, alterando a Constituição de Minas Gerais para proteger, primordialmente, Gasmig, Cemig e Copasa.

Com uma pauta privatista desde seu primeiro mandato, Zema apresentou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para derrubar o referendo e também a exigência de uma votação com maioria qualificada de três quintos da Assembleia para privatizar estatais.

O texto enviado aos deputados estaduais em 2023 só começou a tramitar dois anos depois, no âmbito do Programa de Pleno Pagamento de Dìvidas dos Estados (Propag) e foi desidratado no processo com a retirada de Cemig e Gasmig do projeto e a manutenção da exigência de maioria qualificada.

Como foi a tramitação da PEC do Referendo

A mudança na Constituição foi aprovada em primeiro turno em uma reunião longa e conturbada no plenário. Marcada para as 18h da última quinta-feira (23) a votação foi estendida madrugada adentro e durou até as 04h30 da madrugada, quando 52 deputados governistas superaram a marca dos 48 votos exigidos para a aprovação da PEC.

Na semana passada, diante da obstrução da oposição, o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB) marcou reuniões para 0h01, 06h e 12h da sexta-feira.

A empreitada pela privatização da Copasa, além da PEC 24/2023, inclui o Projeto de Lei (PL) 4380/2025, que versa especificamente sobre a venda da companhia em si. O texto ainda está em sua primeira etapa de tramitação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Antes de ser votada em primeiro turno no plenário, a proposta ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU); e Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO).

No segundo turno, a chamada PEC do Referendo foi aprovada pela conta mínima de 48 votos favoráveis contra 22 contrários na tarde de quarta-feira. A sessão durou mais de sete horas e foi marcada por situações inusitadas como a inversão de papéis entre base e oposição no momento de obstrução da pauta; uma troca de empurrões entre deputados; e com a validade do voto definitivo para a aprovação do texto feita através de análises das câmeras da Assembleia.

Copasa no Propag

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Leia também

Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

Ouvindo...