Privatização da Copasa: PT e PSOL acionam STF para suspender a derrubada de referendo

Partidos de oposição ao governo Zema querem judicializar a PEC que acabou com a necessidade de uma consulta popular para vender a Copasa

PSOL e PT querem derrubar a PEC que acabou com a exigência de referendo para autorizar a privatização da Copasa

O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) acionaram o Supremo Tribunal Federal (STF) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a derrubada da exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa. Em 5 de novembro, a base do governador Romeu Zema (Novo) aprovou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que retirou da legislação mineira a previsão da consulta aos eleitores do estado.

Na ação, os partidos que integram a oposição na Assembleia defendem que a retirada do referendo viola a soberania e reduz direitos políticos em favorecimento de uma aceleração da privatização da companhia de saneamento. PT e PSOL pedem uma medida cautelar para suspensão imediata da emenda constitucional oriunda da PEC 24/2023, conhecida como PEC do referendo.

“A população tem o direito de decidir sobre o destino do patrimônio público. A extinção do referendo abre caminho para uma privatização feita a portas fechadas, sem transparência e sem debate público. Por isso acionamos o STF: estamos defendendo a democracia e o acesso universal à água”, disse a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL).

Desde o início da tramitação da PEC do Referendo, Gonçalves já apontava a possibilidade de acionar o STF no caso de aprovação da proposta do governador Romeu Zema. A deputada argumenta que há um princípio constitucional que impede um retrocesso legislativo. Na visão da parlamentar, derrubar a prerrogativa de consulta popular seria uma forma de regredir ante um direito conquistado pela sociedade.

A reportagem solicitou um posicionamento da base governista, do Governo de Minas e da Assembleia sobre a ADI movida por PT e PSOL. O espaço segue aberto para a manifestação de todas as partes.

Com a PEC do Referendo aprovada, a base de Zema na Assembleia passou a pautar o debate do Projeto de Lei (PL) 4.380/2025, que trata especificamente sobre a venda da Copasa. O texto hoje está em discussão na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO), a última antes da votação em primeiro turno em plenário.

Como foi a tramitação da PEC do Referendo

A mudança na Constituição foi aprovada em primeiro turno em uma reunião longa e conturbada no plenário. Marcada para as 18h da última quinta-feira (23) a votação foi estendida madrugada adentro e durou até as 04h30 da madrugada, quando 52 deputados governistas superaram a marca dos 48 votos exigidos para a aprovação da PEC.

Na semana passada, diante da obstrução da oposição, o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB) marcou reuniões para 0h01, 06h e 12h da sexta-feira.

No segundo turno, a chamada PEC do Referendo foi aprovada pela conta mínima de 48 votos favoráveis contra 22 contrários na tarde de quarta-feira. A sessão durou mais de sete horas e foi marcada por situações inusitadas como a inversão de papéis entre base e oposição no momento de obstrução da pauta; uma troca de empurrões entre deputados; e com a validade do voto definitivo para a aprovação do texto feita através de análises das câmeras da Assembleia.

Copasa no Propag

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

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Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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