Bertha Maakaroun | Quem será o porta-voz de Jair Bolsonaro?

Em prisão preventiva e com a expectativa de que seja iniciado o cumprimento da pena pela condenação na trama golpista, a comunicação de aliados com o ex-presidente ficará mais difícil

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

A comunicação entre Jair Bolsonaro e seus aliados agora estará mais difícil. O ex-presidente está em prisão preventiva na Polícia Federal e, a partir desta terça-feira, o ministro Alexandre de Moraes já poderá determinar o cumprimento definitivo da pena. Nesta segunda, foi encerrado o prazo para as defesas apresentarem novos recursos. É o momento em que se inicia um novo debate: onde Jair Bolsonaro irá cumprir a pena? Ficará na Polícia Federal, será conduzido a um estabelecimento penal ou retornará para cumprir pena em casa, como querem os familiares, aliados e a defesa. Com a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica, o que precipitou no sábado, a prisão preventiva, a hipótese de cumprir a pena na residência fica menos provável. Pelo menos, pelo momento.

Em meio às articulações para as eleições de 2026, quem vai falar em nome do ex-presidente da República? Os familiares e bolsonaristas que se intitulam autênticos querem evitar ser atropelados pelos políticos do Centrão e pela direita que vive na carona do bolsonarismo. Há muitos conflitos nos estados para a definição de chapas e alianças, como no caso de Minas Gerais, de Santa Catarina. Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e alguns senadores e deputados do núcleo bolsonarista estão preocupados em evitar que terceiros possam manipular, em interesse próprio, as orientações políticas de Bolsonaro nos estados.

Por isso, toda a comunicação ficará concentrada no senador Flávio Bolsonaro, indicado como o porta-voz oficial do pai. Até a prisão preventiva de Jair Bolsonaro neste sábado, Flávio Bolsonaro era o nome cotado na família para uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto. Isso manteria capital político e eleitoral do pai na família, como desejam Eduardo Bolsonaro e os demais filhos.

Mas, por ora, Flávio o perde força porque foi colocado ao centro de eventos que levaram à prisão preventiva do ex-presidente: ao mesmo tempo em que o ex-presidente tentava violar a tornozeleira eletrônica, Flávio Bolsonaro convocava mobilização sob a forma de “vigília”, o que foi entendido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como ameaça à ordem pública que poderia facilitar uma tentativa de fuga.

Flávio Bolsonaro procura, neste momento, retomar no Congresso Nacional a tramitação do Projeto de Anistia para os condenados pela trama golpista. Mas esta não é disposição do Centrão, que agora ganha impulso para construir a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sem o sobrenome Bolsonaro na chapa. O que ganhará força na pauta do Congresso será não o Projeto de Anistia, mas o novo texto chamado Projeto da Dosimetria, relatado pelo deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que reduz as penas para os condenados pela tentativa de golpe de estado, sem prever anistia.

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Jornalista, doutora em Ciência Política e pesquisadora

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

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