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Luciana Pepino | Cirurgia íntima após uso de hormônios: o que ninguém fala, mas você precisa saber

Uso de hormônios está cada vez mais presente na vida de muitas mulheres — seja na terapia hormonal feminina tradicional, em protocolos para transição de gênero

O uso de hormônios está cada vez mais presente na vida de muitas mulheres — seja na terapia hormonal feminina tradicional, em protocolos para transição de gênero, ou ainda como parte de tratamentos estéticos e funcionais. Com isso, surgem também dúvidas importantes que nem sempre são discutidas abertamente: como o uso de hormônios afeta a anatomia genital e o que considerar antes de uma cirurgia íntima?

Eu sou a Dra. Luciana Pepino, cirurgiã plástica há mais de 20 anos, e hoje quero compartilhar um tema extremamente necessário e ainda pouco abordado — especialmente nos consultórios e na mídia: a cirurgia íntima após o uso de hormônios. Um assunto que precisa ser tratado com acolhimento, ciência e responsabilidade, porque envolve corpo, identidade, saúde e autoestima.

Se você faz uso de hormônios e já pensou em fazer uma cirurgia íntima — ou se simplesmente quer entender como o uso hormonal pode impactar essa região —, esse conteúdo é para você.

O que é a cirurgia íntima?

A cirurgia íntima feminina — também chamada de ninfoplastia ou labioplastia — tem como objetivo remodelar os pequenos lábios da vulva, promovendo harmonia estética, alívio de desconfortos físicos e melhora da autoestima. Ela é indicada em casos de:

  • Hipertrofia dos pequenos lábios (quando os lábios são muito aumentados)
  • Assimetria entre os lados
  • Incômodo ao usar roupas justas ou durante relações sexuais
  • Questões estéticas, funcionais ou psicológicas

Em geral, é um procedimento de pequeno porte, com recuperação rápida e resultados muito satisfatórios. Mas quando a paciente faz uso de hormônios — especialmente hormônios masculinos como a testosterona —, tudo muda. E é sobre isso que precisamos falar com seriedade.

O que o uso de hormônios muda na anatomia genital?

Quando uma mulher faz uso de testosterona, seja por transição de gênero (transmasculinidade), modulação hormonal ou reposição não convencional, seu corpo passa por uma série de mudanças fisiológicas. Uma delas ocorre diretamente na genitália.

As principais alterações são:

  • Aumento do clitóris (clitoromegalia), que passa a ter características semelhantes a um micropênis
  • Espessamento da pele e dos tecidos da região íntima
  • Mudanças de vascularização e sensibilidade
  • Alterações no tecido mucoso (região interna, mais sensível)

Essas mudanças são importantes e, muitas vezes, desejadas — especialmente em pacientes trans que buscam maior congruência corporal com sua identidade de gênero. No entanto, quando há a vontade de realizar uma cirurgia íntima, essas alterações podem representar desafios específicos para o cirurgião plástico.

Cirurgia íntima em pacientes que usam testosterona: quais os cuidados?

Essa é uma realidade clínica que poucos profissionais abordam: a anatomia da paciente muda com o uso contínuo de hormônios, e isso interfere diretamente em como será feita a cirurgia íntima.

Por isso, a consulta pré-operatória precisa ser ainda mais cuidadosa. Como cirurgiã plástica, preciso avaliar:

  • Qual é o tempo de uso dos hormônios?
  • Houve aumento significativo do clitóris?
  • Existe atrofia dos pequenos lábios?
  • Há cicatrizes internas ou sinais de trauma?
  • Como está a sensibilidade da região?

Em pacientes com clitoromegalia, por exemplo, é comum que o clitóris fique mais aparente, mais rígido e sensível, o que muda completamente a forma de planejar a incisão, o reposicionamento dos tecidos e até mesmo a quantidade de pele que pode ser removida com segurança.

Anatomia hormonizada: um novo paradigma cirúrgico

Antigamente, os manuais de cirurgia consideravam uma anatomia “padrão”. Hoje, isso não é mais possível. Com o uso de hormônios cada vez mais presente, a anatomia da região íntima pode variar enormemente entre pacientes.

É preciso, portanto, que a cirurgia íntima respeite esse novo padrão anatômico — e mais do que isso: que respeite a história, o corpo e a identidade de cada paciente.

E isso vale tanto para mulheres cisgênero que usam testosterona, quanto para homens trans que mantêm sua genitália biológica, mas desejam pequenos ajustes para conforto e bem-estar.

A técnica cirúrgica também precisa ser adaptada

Com as alterações causadas pelos hormônios, a técnica de ninfoplastia tradicional pode não ser a mais indicada. Em muitos casos, é necessário:

  • Evitar incisões profundas, por causa da maior vascularização
  • Preservar terminações nervosas do clitóris aumentado
  • Adaptar o formato final dos pequenos lábios para manter harmonia
  • Considerar eventuais procedimentos futuros (como faloplastia ou metoidioplastia, em pacientes transmasculinos)

Essa complexidade técnica exige experiência, sensibilidade e uma visão ampliada da cirurgia plástica — não só como um procedimento estético, mas como uma ferramenta de resgate da identidade e da qualidade de vida.

Resultados: o que esperar?

A cirurgia íntima em pacientes que usam hormônios pode, sim, ter resultados muito satisfatórios. O segredo está na personalização da abordagem.

Muitas pacientes relatam melhora significativa na autoestima, no conforto com o próprio corpo, nas relações íntimas e até na prática de atividades físicas (como ciclismo, por exemplo, que pode causar atrito desconfortável quando há hipertrofia dos lábios).

No entanto, é importante ter expectativas realistas:

  • O objetivo da cirurgia é remodelar, não “padronizar” a genitália
  • Em alguns casos, o resultado visual será diferente do que se vê em pacientes que não fazem uso de hormônios
  • A sensibilidade da região pode estar aumentada ou diminuída, dependendo do grau de hormonização

O mais importante é que o resultado respeite a individualidade da paciente, com segurança e naturalidade.

E a recuperação? Existe alguma diferença?

A recuperação da cirurgia íntima em pacientes hormonizadas segue princípios semelhantes à cirurgia tradicional, mas exige atenção redobrada com:

  • Cicatrização: em alguns casos, o uso prolongado de hormônios pode influenciar no processo cicatricial, exigindo mais acompanhamento.
  • Sensibilidade local: pode haver mais sensibilidade ou dormência, dependendo da anatomia.
  • Ajustes estéticos posteriores: em alguns casos, pode ser necessário um pequeno retoque após a cicatrização completa, o que é normal e previsto.

O retorno às atividades sexuais geralmente é liberado após 30 a 45 dias, conforme avaliação médica.

O papel da informação e do acolhimento

Um dos maiores desafios desse tema é a falta de informação clara, técnica e empática. Muitas pacientes chegam ao consultório sem saber que o uso de hormônios pode impactar a cirurgia. Outras têm medo de não serem compreendidas, julgadas ou mal orientadas.

Por isso, faço questão de reforçar: você tem o direito de entender o seu corpo, suas mudanças e suas possibilidades. A cirurgia íntima é uma ferramenta poderosa de autocuidado e deve ser conduzida com respeito, acolhimento e conhecimento técnico.

Quando procurar um cirurgião plástico?

Se você está pensando em realizar uma cirurgia íntima e faz uso de hormônios, procure um profissional que:

✅ Tenha experiência em anatomia genital diversificada
✅ Esteja aberto ao diálogo sobre identidade de gênero e modulação hormonal
✅ Trabalhe com escuta ativa e cuidado humanizado
✅ Ofereça segurança cirúrgica e acompanhamento próximo

Cada detalhe importa — desde a anestesia escolhida até o tipo de sutura. E, acima de tudo, é fundamental que você se sinta confortável e respeitada em cada etapa.

Conclusão: cirurgia íntima é muito mais do que estética

A cirurgia íntima não é só sobre aparência. É sobre reconexão com o próprio corpo, bem-estar sexual, identidade e liberdade. Em tempos em que o corpo feminino (e também o corpo trans) ainda é alvo de tanto julgamento, cuidar de si é um ato de autonomia.

Se você faz uso de hormônios e está considerando uma cirurgia íntima, saiba: existe técnica, existe segurança e existe um caminho feito para você. Com uma avaliação adequada e um plano personalizado, é possível conquistar um resultado bonito, funcional e alinhado com sua história.

Agende sua avaliação

Se esse tema ressoou com você, agende uma consulta comigo. Será um prazer conversar com respeito, acolhimento e técnica sobre o que é melhor para o seu caso.

🩺 Dra. Luciana Pepino
Cirurgiã Plástica – CRM-SP 94982 | RQE 55.435
www.lucianapepino.com.br
Instagram: @dralucianapepino

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Cirurgiã Plástica mineira, radicada em São Paulo. Especialista em cirurgias estéticas, faciais e corporais. CRM: 106.491 / RQE: 25827

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.