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Oposição a Zema promete acionar STF contra fim de referendo para venda da Copasa

Deputada Bella Gonçalves afirmou que, se ALMG aprovar medida, oposição pretende acionar o Supremo Tribunal Federal para derrubar mudança

Texto será apresentado pelas deputadas Bella Gonçalves (PSOL) e Beatriz Cerqueira (PT)

A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) anunciou que acionará o Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, que retira a exigência da realização de um referendo popular para a privatização da Copasa.

O texto está em discussão em uma comissão especial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta terça-feira (7) e, se for aprovado, fica pronto para votação em primeiro turno no plenário da Casa.

Segundo a parlamentar, alterar a lei mineira para retirar a exigência do referendo representaria um retrocesso legislativo. Ela defende que o caso permite a judicialização do tema e que o PSOL já se comprometeu em acionar a Suprema Corte caso a Assembleia aprove a PEC.

“Vamos entrar com uma ação no STF para questionar a violação do princípio do não retrocesso legislativo. A casa pode apresentar projetos de emenda Constituição pra ampliar direitos e pra adequar direitos, mas nunca pra retirar direitos. Isso é um princípio basilar da Constituição. Não se pode fazer uma emenda lá no governo federal pra instituir a ditadura militar por emenda constitucional mesmo que seja votado por deputados. Uma medida dessa não pode ser aprovada por um princípio do retrocesso”, exemplificou a deputada.

Proposta do governo Zema

Se aprovada em dois turnos em plenário, a PEC 24/2023 altera a Constituição de Minas Gerais no ponto em que é prevista a exigência de uma votação popular para a venda das companhias estatais de saneamento, gás natural e energia elétrica. Para ser aprovada, a proposta precisa de maioria qualificada de 3/5 da Casa, 48 deputados.

A lei mineira determina a exigência do referendo desde o início do século, quando o então governador Itamar Franco aprovou uma PEC por unanimidade para estabelecer a consulta popular. A medida foi feita em represália à venda de ações da Cemig na gestão anterior, comandado por Eduardo Azeredo (PSDB).

A PEC 24/2023 previa a inelegibilidade do referendo também para a Cemig. A companhia energética foi retirada do texto durante a tramitação da proposta em articulação capitaneada pelo presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB).

A Copasa no Propag

A ideia da retirada do referendo já estava na pauta do governo estadual desde 2023 e fazia parte dos esforços pela privatização de Cemig e Copasa. Com maioria refratária à empreitada na Assembleia, o projeto nunca avançou na tramitação.

Com a criação do Propag, regulamentado em abril deste ano, as propostas de privatização ganharam novo gás. O projeto, apresentado pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e elaborado junto aos deputados mineiros como alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), prevê o parcelamento da dívida mineira com a União em até 30 anos e a redução dos juros, hoje fixados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano.

Um dos mecanismos do Propag prevê a redução de dois pontos percentuais de juros com a amortização de 20% do estoque da dívida, hoje orçada em R$ 170 bilhões. Para pagar o valor, o Governo de Minas aposta na federalização ou privatização de ativos estatais, incluindo a Copasa.

Se a exigência do referendo for derrubada, o governo pode avançar com o Projeto de Lei (PL) 4380/2025, que versa especificamente sobre a autorização da privatização da Copasa.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.