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Reunião para tirar referendo da Copasa foi a única no século marcada para a madrugada

Sessão na ALMG foi marcada para o primeiro minuto desta sexta-feira (24) e só terminou por volta das 4h30

Em primeiro plano, de costas, Tadeu Martins Leite (MDB), o presidente da Assembleia, comanda reunião notívaga no plenário

A reunião de plenário que terminou com a aprovação em primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023 por volta das 4h30 desta sexta-feira (24) foi a única marcada para a madrugada neste século na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Desde 2011, foram 1.807 sessões marcadas de forma extraordinária na Casa, nenhuma delas marcada para além das 22h.

A PEC de autoria do governador Romeu Zema (Novo) prevê a derrubada da exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa. A base do governo aprovou o texto por 52 a 18 após mais de dez horas de debate na Casa. A reunião em que o texto foi, enfim, votado foi marcada para 0h01.

A reunião marcada para o primeiro minuto inclui uma jornada de mais de 18 horas prevista pelo presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB). A primeira reunião foi marcada para as 18h de quinta–feira (23) e tudo se resolveu na sessão de 0h01. Se a votação não ocorresse diante da perpetuação da obstrução feita pela oposição, já estavam marcadas reuniões extraordinárias para as 6h e para as 12h.

Em levantamento feito a partir da agenda de todas as reuniões da Assembleia desde janeiro de 2021, foram constatadas sessões em plenário em 12 horários diferentes. O mais tarde até esta sexta-feira era o de 22h. Em outras oportunidades, as discussões já adentraram a madrugada, mas nunca houve a marcação de uma reunião após a meia-noite.

Próximos passos

Com o texto aprovado em primeiro turno, a chamada ‘PEC do referendo’ agora voltará à ser avaliada pela comissão especial formada para analisá-la e pode retornar ao plenário após o cumprimento de intervalo de três dias entre os turnos. A votação definitiva pode, portanto, já acontecer na próxima semana.

No início do século, durante o governo de Itamar Franco, a Assembleia aprovou por unanimidade a inclusão de um artigo na Constituição de Minas Gerais que obriga a realização de um referendo popular para aprovar a privatização das estatais de gás natural, energia elétrica e saneamento.

A PEC 24/2023 buscava retirar esse artigo e viabilizar a privatização de Cemig e Copasa. Após acordos entre os deputados, o texto foi alterado e manteve apenas a retirada do referendo para a Copasa.

A Copasa no Propag

A privatização da Copasa já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Propag. Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.Servidores lotam a Assembleia contra a privatização da Copasa

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.