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Após votação na madrugada, saiba próximos passos para privatização da Copasa

Retirada de referendo popular para autorizar a venda avançou na madrugada desta sexta-feira; ainda há outros projetos sobre o tema na Assembleia

Durante mais de dez horas de votação, servidores ocuparam as galerias do plenário da ALMG

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou, na madrugada desta sexta-feira (24), um passo importante para viabilizar a privatização da Copasa. Por 52 votos a 18 e após mais de dez horas de votação, a base do governador Romeu Zema (Novo) aprovou em primeiro turno a derrubada da exigência de um referendo popular para autorizar a venda da companhia de saneamento. O texto agora deve passar por mais uma votação em plenário. Há ainda outros dois projetos relativos a entrega da estatal à iniciativa privada tramitando na Casa.

Na quinta-feira (23), o debate sobre a venda da Copasa começou na Assembleia logo pela manhã e se estendeu até a madrugada seguinte, com mais de 18 horas de movimentação de deputados, servidores da companhia e sindicalistas nos corredores da Casa.

Às 10h, a mesa diretora da Casa acatou um pedido da oposição para cancelar uma das reuniões pregressas do debate da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, o que obrigou o adiamento da votação para as 18h do mesmo dia. Já durante a manhã, o bloco de oposição já anunciava que a obstrução ao texto seria longa no plenário. Promessa que se concretizou com a votação terminando só por volta de 4h30. O presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB) marcou reuniões extraordinárias para debater o texto às 0h01, 06h e 12h.

Para aprovar a PEC eram necessários 48 votos, a base de Zema conseguiu 52. O texto quer alterar a Constituição de Minas Gerais, que hoje prevê que as estatais de gás natural, energia elétrica e saneamento só podem ser privatizadas com a autorização da maioria dos eleitores mineiros via realização de referendo popular.

Por se tratar de uma proposta de emenda à Constituição, o projeto deve respeitar um período de três dias entre um turno e outro no plenário, como determina o regimento da Assembleia. Nesse intervalo, o texto volta a ser analisado pela comissão especial formada especificamente para a análise da PEC 24/2023. A previsão é de que o grupo se reúna novamente na terça-feira (28) e que a votação definitiva da derrubada do referendo já seja possível na próxima semana.

Objetivo antigo de Zema

Como a própria numeração da PEC já indica, o texto já está protocolado na Assembleia desde 2023 e se refere a uma iniciativa que está na pauta do governo Zema desde seu primeiro mandato. A trava constitucional para a privatização de Gasmig, Cemig e Copasa é um empecilho para o avanço da agenda privatista com a qual o governador foi eleito.

Desde o início do século, por iniciativa do então governador Itamar Franco e aprovada por unanimidade na Assembleia, o referendo popular foi incluído na Constituição de Minas Gerais como premissa para a privatização das estatais mineiras.

A PEC 24/2023 originalmente incluía a Cemig entre as empresas que poderiam ser vendidas sem consulta popular. O texto ficou emperrado na Casa e não avançou em sua tramitação durante quase dois anos, mas ganhou novo fôlego com a formulação e regulamentação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) no último mês de abril.

Minas Gerais tem uma dívida de R$ 170 bilhões com a União e, no âmbito do Propag, pode parcelar o pagamento do débito em até 30 anos e ainda reduzir os juros, hoje fixados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% do estoque devido ao ano.

O modelo de adesão ao Propag preconizado pelo governo Zema inclui federalizar ou privatizar ativos do estado para ter recursos e abater ao menos 20% do estoque da dívida e, com isso, reduzir os juros em dois pontos percentuais. Esse é um dos mecanismos disponibilizados pelo Propag. Para isso, o governo defendia a venda de Cemig e Copasa e, para isso, planejava a derrubada do referendo.

Após negociações feitas entre os deputados, durante a tramitação da PEC a Cemig foi retirada do texto e apenas a Copasa foi mantida.

O projeto para a privatização

Embora aprovar a PEC 24/2023 seja tratado pelo Executivo Estadual como um passo crucial para a privatização da Copasa, ela não é o texto que trata sobre a venda da empresa em si. O Projeto de Lei (PL) 4380/2025, que prevê a venda da companhia, começou a tramitar na Assembleia em setembro.

O PL da privatização da Copasa ainda está na primeira etapa da tramitação de um projeto na Assembleia: a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Antes de ir a plenário em primeiro turno, o texto ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU) e de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO).

Além do projeto de privatização, tramita na Assembleia o PL 3739/2025, que prevê alterações na Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado (Arsae), considerada pelo governo estadual como necessária para adequação da empresa ao Marco Legal do Saneamento.

O PL 3739/2025 está em discussão na Comissão de Administração Pública. Antes, na CCJ, o texto foi desmembrado e um novo projeto (PL 4552/2025) foi criado para tratar especificamente sobre as mudanças estruturais da agência enquanto o original versa sobre as adequações ao Marco Legal.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.