Bertha Maakaroun | Centrão põe Flávio Bolsonaro em fogo brando

Sem Tarcísio de Freitas na disputa à Presidência da República, o bloco de partidos que integra o Centrão tende a caminhar com menos coesão, segundo os interesses das disputas estaduais

Senador Flávio Bolsonaro (PL).

O Centrão ainda não digeriu bem a substituição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) pela candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto. Os presidentes do União Brasil, Antônio Rueda, e do Progressistas, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), se reuniram nesta segunda feira à noite com Flávio Bolsonaro sem ainda firmar compromisso. Antes do encontro, Ciro Nogueira chegou a declarar que embora seja amigo pessoal de Flávio Bolsonaro, considera que o nome dele não seja viável para disputar a presidência em 2026. Ciro Nogueira também considerou que a decisão não pode caber apenas ao PL. Já o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, que também costurava a candidatura de Tarcísio de Freitas, não participou da conversa: avisou que tinha outro compromisso mais importante. E o próprio Tarcísio de Freitas, três dias depois do anúncio, rompeu o silêncio. Tarcísio de Freitas declarou apoio a Flávio Bolsonaro, ressaltando que há também outros nomes nesse campo político: mencionou os governadores presidenciáveis e de oposição Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (Uniao) e Ratinho Júnior (PSD).

Desde que anunciou que será o nome de Jair Bolsonaro na disputa presidencial, o discurso de Flávio Bolsonaro teve idas e vindas. Chegou a declarar que a sua candidatura teria um “preço”, sugerindo que tal preço seria a aprovação da anistia ampla pelo Congresso Nacional. Mas isso, não vai acontecer. O deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do projeto de lei da Dosimetria, descartou nesta segunda-feira a anistia ao ex-presidente e a outros envolvidos na trama golpista. Disse que se não houver acordo para que o seu projeto de redução de penas seja aprovado sem emendas, não será votado. Além de reiterar que não haverá anistia ampla, Paulinho afirmou em vídeo nas redes sociais, que a redução de penas soltaria todas aquelas pessoas presas em 8 de janeiro. Devolveu a bola para a família Bolsonaro: é pegar ou assumir o desgaste com aqueles que estão presos até hoje.

A definição por Flávio Bolsonaro era esperada: Jair Bolsonaro nunca considerou apoio a qualquer outro nome fora de sua família, porque não cogita entregar o seu capital político para um terceiro sobre o qual não terá controle integral. Na hipótese de Flávio não ganhar as eleições em 2026, terá visibilidade e poderá se consolidar como o sucessor deste campo, o que pode por fim ao sonho de Tarcísio, inclusive para 2030. O Centrão apostou na carona. Bolsonaro deixou todos na estrada. É o preço que paga a autointitulada direita brasileira, que se associou ao bolsonarismo, abraçando até mesmo as mais constrangedoras narrativas.

O que acontece na sucessão presidencial afeta Minas Gerais. O PSD de Gilberto Kassab trabalhava por Tarcísio de Freitas. Sem aliança no plano nacional entre PSD e Republicanos, como ocorreria com Tarcísio de Freitas, fica mais difícil ao vice-governador Mateus Simões (PSD) forçar pela via nacional, a desistência da candidatura do senador Cleitinho (Republicanos) ao governo de Minas. A tendência é de que não apenas em Minas, mas também em outros estados, os partidos que integram o Centrão, caminhem não em bloco, mas, com mais foco nos interesses das disputas regionais em relação à eleição presidencial.

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Jornalista, doutora em Ciência Política e pesquisadora

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

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