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Vereadores de BH se organizam para votar tarifa zero nos ônibus já em outubro

Projeto de lei está pronto para análise no plenário e inclusão do texto na pauta será defendida na reunião dos líderes da Câmara Municipal

Projeto de lei prevê zerar a passagem dos ônibus em Belo Horizonte

Os vereadores signatários do Projeto de Lei (PL) 60/2025, que institui a gratuidade da passagem dos ônibus em Belo Horizonte, vão propor que o texto seja votado em plenário em outubro. A ideia será apresentada no colégio de líderes e, caso tenha a aprovação da presidência da Câmara Municipal, pode ser apreciada em primeiro turno no próximo mês. A tarifa principal da cidade atualmente é de R$ 5,75

A ideia de tornar os ônibus gratuitos em Belo Horizonte é discutida na Câmara desde o início das atividades desta legislatura, em fevereiro. A tramitação do texto nas comissões que precedem a votação em plenário foi marcada por discussões sobre a viabilidade orçamentária da medida e por reiteradas manifestações de dúvida por membros da prefeitura.

Autora do projeto, a vereadora Iza Lourença (PSOL) afirmou à reportagem que espera ter sucesso na votação em primeiro turno. A parlamentar, no entanto, não ignora que aprovar o projeto de forma definitiva exigirá esforço de negociação na Casa.

O PL da tarifa zero foi assinado por 22 dos 41 vereadores da capital. Embora já tenha, por essa conta, a maioria da Casa, a aprovação do texto exige a aprovação por dois terços do plenário, 28 votos. A exigência de um quórum qualificado se dá pelo fato de que o projeto prevê uma alteração no código tributário do município.

Para financiar a tarifa zero, o PL 60/2025 determina a criação de um fundo de mobilidade para a capital mineira. Parte dos recursos seria obtida a partir da criação de uma taxa cobrada de empresas sediadas na cidade com ao menos dez funcionários na folha de pagamento.

Procurado pela reportagem, o líder da prefeitura na Câmara, Bruno Miranda, afirmou que a base governista ainda não se reuniu para definir qual será a postura da situação em relação à proposta de votar o PL da tarifa zero em primeiro turno já em outubro.

Projeto teve tramitação conturbada

Até ficar pronto para ser votado em plenário, o projeto da tarifa zero passou por quatro comissões temáticas da Câmara. A apreciação do texto foi atravancada por críticas e indefinições dentro e fora da Casa.

Na Comissão de Legislação e Justiça (CLJ), a relatora Fernanda Pereira Altoé (Novo) deu parecer favorável à continuidade da tramitação do texto, mas fez ressalvas em relação a um dos pontos nevrálgicos da proposta. A vereadora ressaltou a necessidade de supressão do artigo que prevê a criação da Taxa do Transporte Público (TTP), considerada inconstitucional pela parlamentar.

Na comissão seguinte, a de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços, o relator Lucas Ganem (Podemos) apresentou um texto substitutivo sem a previsão da contribuição empresarial para financiar a gratuidade do transporte.

O substitutivo também argumenta pela adoção da gratuidade de forma progressiva. As etapas incluem prioridade para grupos sociais em situação de vulnerabilidade e experiências-piloto com a tarifa zero em dias específicos como domingos e feriados.

Nas duas últimas etapas, o projeto avançou automaticamente diante da recusa dos relatores em apresentar um parecer sobre o tema. Na Comissão de Administração Pública e Segurança Pública, o vereador governista Juninho Los Hermanos (Avante) não se pronunciou sobre o texto e perdeu o prazo para apresentar um relatório.

Já na Comissão de Orçamento e Finanças Públicas, última etapa antes do plenário, a relatora Marcela Trópia (Novo) não apresentou um relatório por considerar o projeto incompleto na explicação de sua viabilidade orçamentária.

“A principal pergunta ficou sem resposta: quanto custa o sistema de transporte público em BH? Sem esse dado, não tem como debater com seriedade uma proposta tão importante! Precisamos de transparência para realizar esse diálogo da melhor forma”, escreveu Trópia em suas redes sociais, à época.

O que o texto propõe

O projeto estabelece a Taxa do Transporte Público (TTP) como uma das formas de financiamento de um Fundo Municipal de Melhoria da Qualidade e Subsídio ao Transporte Coletivo (FSTC), cuja criação também está prevista no texto.

A ideia é substituir o vale-transporte pago por empresas para funcionários que utilizam os ônibus por uma taxa fixa. Desta forma, os empregadores passariam a contribuir com um valor tabelado para cada trabalhador a partir da décima pessoa na folha de pagamento da companhia.

O texto original calcula que o custo para as empresas seria de R$ 168,82 mensais por empregado. Além da contribuição privada, o fundo seria abastecido com um subsídio do Executivo, já pago às empresas de ônibus desde 2022.

Prefeitura questiona o projeto

Enquanto o projeto tramitava na Câmara, integrantes da prefeitura questionaram a viabilidade da proposta. O secretário de Governo Guilherme Daltro já afirmou que seria necessário um aporte de origem federal ou estadual para tornar a tarifa zero factível em Belo Horizonte.

O próprio prefeito Álvaro Damião (União Brasil) já chegou a classificar o projeto como uma “utopia”. O chefe do Executivo da capital manifesta reiteradamente sua preocupação com a possibilidade de aplicação da tarifa zero e a chance de oneração das empresas sediadas na cidade.

A última declaração do prefeito sobre o assunto aconteceu na quarta-feira (10). Na ocasião, durante agenda na região da Pampulha, Damião disse que as empresas de ônibus em BH são parte interessada na aprovação da tarifa zero, já que teriam uma previsibilidade na renda.

“Para ele (empresário dos ônibus) é a melhor coisa. Aí dá impressão de que ele não quer falar. Ele está caladinho, torcendo pra acontecer. Porque a partir do momento que você fala assim ó: ‘todo dia 1º de janeiro eu deposito na sua conta R$ 3 milhões Você fala…. ‘Não preciso concorrer com mais ninguém, estou hiper feliz’”, disse o prefeito.

Quem assina o PL da tarifa zero?

Ao todo, 22 vereadores são signatários do PL 60/2025, incluindo nomes governistas como o vice-líder da situação, Helton Junior (PSD). Veja quem são:

  • Iza Lourença (PSOL);
  • Arruda (Republicanos);
  • Cida Falabella (PSOL);
  • Cleiton Xavier (MDB);
  • Diego Sanches (Solidariedade);
  • Bruno Pedralva (PT);
  • Michelly Siqueira (PRD);
  • Edmar Branco (PCdoB);
  • Helton Junior (PSD);
  • Irlan Melo (Republicanos);
  • Janaina Cardoso (União Brasil);
  • Juhlia Santos (PSOL);
  • Leonardo Ângelo (Cidadania);
  • Luiza Dulci (PT);
  • Neném da Farmácia (Mobiliza);
  • Osvaldo Lopes (Republicanos);
  • Pedro Patrus (PT);
  • Pedro Rousseff (PT);
  • Rudson Paixão (Solidariedade);
  • Tileleo (PP);
  • Wagner Ferreira (PV);
  • Wanderley Porto (PRD).

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.