O evento Comida di Buteco se tornou motivo de mal-estar entre vereadores de Belo Horizonte. Diferentes decretos da Prefeitura de Belo Horizonte têm feito parlamentares reivindicarem a autoria de leis que reconheceram o evento como elemento cultural da cidade, ou que incluíram o Comida di Buteco no calendário oficial do município.
Vereadores trocaram indiretas em conversas internas, e nas redes sociais, sobre projetos que tratam do evento.
No mês de maio, a prefeitura publicou um decreto que reconhecia o concurso Comida di Buteco como uma manifestação cultural da capital mineira. A proposta, reivindicada pela vereadora Marcela Trópia (Novo), também menciona que o evento passa a integrar o Calendário Oficial de Eventos do município, com realização anual.
À época, nas redes sociais, a parlamentar se apresentou como autora da indicação que se tornou decreto.
“Já contei aqui pra vocês que indicação que enviei pra Prefeitura e o projeto de lei que apresentei se tornaram realidade: o Comida di Buteco virou manifestação cultural e está no calendário oficial de Belo Horizonte”, disse.
Na ocasião, um projeto de lei da vereadora chegou a ser apresentado, mas a prefeitura decretou a ideia mesmo antes da proposta terminar de tramitar.
E o último decreto, relacionado ao mesmo tema, é de 11 de agosto, quando a prefeitura publicou a oficialização da inclusão do Comida di Buteco no Calendário Oficial de Festas e Eventos do Município, com a citação de projeto de lei de autoria do vereador Sargento Jalyson (PL), no próprio Diário Oficial do Município (DOM).
O vereador postou o decreto nas suas redes sociais, e escreveu que é autor do projeto que incluiu o evento no calendário da cidade.
“Para que todos saibam quem é o verdadeiro autor do projeto que colocou o Concurso Comida di Buteco no Calendário Oficial de Festas e Eventos de Belo Horizonte. Filho bonito muita gente quer ser pai (ou mãe), mas contra fatos não há argumentos. A verdade está aí”, afirmou.
O debate sobre o tema já havia começado em março deste ano, quando um projeto de autoria da vereadora Fernanda Pereira Altoé (NOVO), foi sancionado pela prefeitura. O texto pedia o reconhecimento do Carnaval e de todas as manifestações culturais que promovam a gastronomia mineira, clássica ou contemporânea, incluindo a cozinha dos bares e botecos.
Proposta de regulação de horário do comércio iniciou mal-estar
Na Câmara, o que alvoroçou a discussão foi a apresentação de projeto de lei que tentava limitar até às 23h o funcionamento de adegas, distribuidoras de bebidas e estabelecimentos comerciais que tenham como atividade principal a venda de bebidas alcoólicas para consumo fora do local, de autoria do vereador Sargento Jalyson. O objetivo é evitar a realização de eventos clandestinos nestes locais.
O parlamentar chegou a usar, em audiência pública, a palavra ‘bares’ para explicar a proposta, mas ao protocolar o projeto de lei, não incluiu o termo no projeto. Ele afirmou nas redes sociais que a proposta não incluía bares, e reforçou ser autor do texto que colocou o concurso Comida di Buteco no calendário da cidade.
Com a repercussão do tema, a vereadora Marcela Trópia publicou uma nota criticando o projeto, afirmando que o projeto não resolve o problema de festas ilegais, e que a proposta limita a liberdade econômica.
“Retroceder no horário de funcionamento do comércio significa limitar a liberdade econômica de diversos negócios e prejudicar quem trabalha em horários alternativos. Todos têm direito de trabalhar e de se divertir”, disse Trópia.
Em um grupo interno de mensagens entre todos os vereadores da atual legislatura, o parlamentar defendeu seu projeto, e reforçou que ele não afeta bares nem restaurantes.
Organização elogia todos os projetos de reconhecimento
Procurada pela reportagem, a organização do Comida di Buteco confirmou que houve iniciativas diferentes dos dois vereadores para reconhecer o evento como manifestação cultural, ou para incluí-lo no calendário oficial do município. Afirmou ainda que as duas ideias valorizam o setor de bares e restaurantes.
A proposta que reconhece culturalmente o concurso, é de autoria de Marcela Trópia. A que inclui no calendário municipal, tem como autor Sargento Jalyson, segundo a organização. As duas propostas foram apresentadas separadamente, em iniciativas distintas, e comunicadas aos idealizadores do concurso.
Maria Eulália Araújo, cofundadora do Comida di Buteco, foi procurada pela reportagem. Ela afirmou que estes projetos são importantes para ratificar que o evento é belo-horizontino, diante do sucesso do concurso, que acabou chegando a outros locais do país.