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Ciro Gomes ensaia guinada à centro-direita e reforça distanciamento do PT

Possível pré-candidato ao governo do Ceará em 2026, Ciro (DPT) esteve na última terça-feira (19), em Brasília, com nomes do União Brasil e do PP

Ciro participou do evento de “superfederação” do PP e do União Brasil na última terça-feira (29).

O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), tem se aproximado da centro-direita e é cortejado por partidos do campo político. O ex-presidenciável pode estar na mira de siglas aliadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afastando-se, cada vez mais, da legenda pela qual disputou os dois últimos pleitos presidenciais, em 2018 e 2022 — ficando em terceiro e quarto lugar, respectivamente.

No gesto mais recente, Ciro participou da convenção que oficializou a criação da federação partidária entre União Brasil e Progressistas (PP), em Brasília — evento que contou com a presença de nomes como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e também do senador e ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil).

Entenda a linha do tempo

Em 2018, quando disputou a presidência pela primeira vez pelo PDT, Ciro não poupou críticas ao atual ministro da Fazenda e, à época, candidato, Fernando Haddad (PT), e também ao próprio presidente Lula (PT), que não disputou as eleições.

Fora do segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, Ciro apoiou discretamente o candidato petista.

Em 2022, já com Lula concorrendo e Bolsonaro disputando a reeleição, Ciro subiu o tom contra o ex-chefe — o ex-governador atuou como ministro da Integração Nacional durante o primeiro mandato de Lula, em 2003.

Amargando o quarto lugar, com a pior votação em uma campanha presidencial, Ciro voltou a declarar apoio ao PT, mas sem citar diretamente o nome de Lula. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o ex-governador afirmou que lamentava que “a trilha democrática tenha se afunilado a tal ponto que restem aos brasileiros duas opções”, consideradas por ele como “insatisfatórias”.

O ano de 2022, no Ceará, ainda marcou o fim de uma aliança de 16 anos no estado, que começou com a eleição de Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, para o governo estadual em 2006.

Além de ser reeleito, Cid também emplacou um de seus secretários, o atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), ao governo do estado. Santana deixou o cargo em 2022 para a vice, Izolda Cela (PDT), disputar uma vaga no Senado Federal.

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Izolda era a candidata apoiada por Santana para a disputa ao governo em 2022. No entanto, não era o nome preferido do PDT, que acabou lançando a candidatura de Roberto Cláudio — favorito de Ciro. Ao fim, Izolda se desfiliou da sigla, e o PT lançou a candidatura de Elmano de Freitas, atual governador do Ceará.

Racha no PT em Fortaleza

Em 2024, nas eleições municipais, o partido de Ciro disputava a reeleição da capital, Fortaleza, com José Sarto. A candidatura do prefeito, no entanto, não decolou, ficando de fora do segundo turno.

Com a prefeitura sendo disputada por Evandro Leitão (PT) e André Fernandes (PL), o partido optou pelo posicionamento oficial de neutralidade. Sarto seguiu a postura do PDT e, em nota, liberou os aliados para apoiarem os antigos adversários.

Internamente, a legenda se dividiu: parte apoiava a candidatura de Leitão, e outros apoiavam Fernandes.

Ao final, o candidato petista venceu um segundo turno acirrado, com uma diferença de 10.838 votos.

Ciro não chegou a declarar apoio a nenhum dos dois candidatos publicamente, mas, em outubro de 2024, o ex-presidente Bolsonaro chegou a afirmar que o ex-governador apoiou o nome de André Fernandes no segundo turno.

Fraudes no INSS

Neste ano, no centro dos escândalos de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), estava o então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.

Para ser ministro, Lupi havia se licenciado da presidência nacional do PDT. Na época em que o caso estourou, o pedetista chegou a ser defendido por Ciro, mas acabou pedindo demissão.

Com a saída de Lupi da pasta, a bancada do PDT na Câmara deixou a base aliada do governo federal.

Oposição no Ceará

Mirando uma “aliança” para 2026 contra a candidatura à reeleição de Elmano no Ceará, Ciro se reuniu mais de uma vez com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, por sua vez, fazem oposição ao atual governo cearense.

Em um dos encontros, com vereadores da oposição a Leitão em Fortaleza, Ciro chegou a receber elogios do deputado federal André Fernandes, derrotado nas eleições municipais. Antes crítico do ex-governador, Fernandes classificou o pedetista como “inteligente” e “corajoso”.

Com deputados estaduais na Assembleia, Ciro afirmou que esperava votar no Pastor Alcides Fernandes (PL), pai de André, como senador em 2026.

Na última terça-feira (19), em um evento do PP e do União Brasil, Ciro, durante discurso, disse aos políticos presentes que a “superfederação” das duas legendas era um sinal de que “nem tudo está perdido”.

“Façam desse gesto, dessa iniciativa, um ato de gravitação universal, ou seja, chamem tudo que o brasileiro pode oferecer, da centro-esquerda à centro-direita, para nós tirarmos o Brasil desse desastre”, disse o pedetista.

Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.