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STF encerra primeiro dia de julgamento do ‘núcleo 4' da trama golpista

Primeira Turma ouviu relatório de Moraes, manifestação da PGR e defesas dos sete réus

Julgamento da Ação Penal 2694 (Núcleo 4).

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu nesta terça-feira (14) o primeiro dia de julgamento dos sete réus que compõem o núcleo 4 da denúncia sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo teria usado a estrutura do Estado, incluindo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para disseminar desinformação sobre as urnas eletrônicas, atacar autoridades públicas e desacreditar o processo eleitoral.

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Os réus do núcleo 4 são:

  • Ailton Gonçalves Moraes Barros, major da reserva;
  • Ângelo Martins Denicoli, major da reserva;
  • Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, engenheiro e presidente do Instituto Voto Legal;
  • Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército;
  • Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel do Exército;
  • Marcelo Araújo Bormevet, agente da PF e ex-integrante da Abin;
  • Reginaldo Vieira de Abreu, coronel do Exército.

Início do julgamento

O julgamento teve início na manhã desta terça-feira, com a leitura do relatório da ação penal feita pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.

Segundo o ministro, a denúncia da PGR descreve a atuação do grupo na montagem de uma estrutura paralela de inteligência — apelidada de “Abin Paralela” — que teria sido utilizada para monitorar adversários políticos do então presidente Jair Bolsonaro e promover campanhas de desinformação.

“Propagaram sistematicamente notícias falsas sobre o processo eleitoral e realizaram ataques virtuais a instituições e autoridades que ameaçavam os interesses da organização criminosa”, afirmou Moraes.

Após a leitura do relatório, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou a acusação e pediu a condenação de todos os réus.

“As campanhas promovidas pelos acusados, essenciais para o levante popular contra as instituições democráticas, encontram-se confirmadas pelas provas dos autos. Dá-se conta de que, por meio da ação dos réus, a organização criminosa capitalizou guerra e violência informacional crescente”, afirmou Gonet.

Defesas

Na segunda parte da sessão, foram ouvidas as sustentações orais das defesas dos sete acusados.

Todas as defesas pediram a absolvição dos réus, alegando falta de provas concretas para sustentar as acusações apresentadas pela PGR.

O advogado Gustavo Zortea, defensor de Ailton Gonçalves, afirmou que seu cliente tinha apenas motivações políticas e não participou de nenhuma ação golpista.

“A hipótese é de absolvição porque não há provas suficientes para a condenação”, disse o advogado.

O advogado Leonardo Avelar, que representa Guilherme Almeida, também afirmou que o réu “jamais divulgou fake news” e que apenas compartilhou conteúdos de veículos de imprensa.

Já o advogado Hassan Souki, defensor de Marcelo Bormevet, apresentou duas teses: a de absolvição e, subsidiariamente, o reconhecimento de uma participação de menor relevância em caso de condenação.

Outros advogados seguiram na mesma linha, negando a existência de provas que liguem os acusados à tentativa de golpe ou à estruturação de um sistema de inteligência paralelo.

Sessão cancelada

Ao final da sessão, o presidente da Primeira Turma do STF, ministro Flávio Dino, anunciou o cancelamento da sessão prevista para esta quarta-feira (15), que daria continuidade ao julgamento do núcleo 4.

Com a decisão, o julgamento será retomado apenas na próxima terça-feira (21). Quando for reiniciado, a sessão será dedicada à votação dos ministros, que seguirá a seguinte ordem: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Cármen Lúcia e, por último, Flávio Dino.

A expectativa é que a análise desse núcleo se estenda por mais de uma sessão, devido à complexidade do caso e ao número de réus envolvidos.

Repórter de política em Brasília, com foco na cobertura dos Três Poderes. É formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e atuou por três anos na CNN Brasil, onde integrou a equipe de cobertura política na capital federal. Foi finalista do Prêmio de Jornalismo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2023.