Debates sobre privatização da Copasa podem adentrar dezembro ainda em 1° turno na ALMG

Discussão foi adiada para a próxima semana com duas comissões antes da votação em plenário; oposição tenta empurrar decisão sobre o projeto para o ano eleitoral

Servidores da Copasa protestaram contra a privatização da companhia durante audiência pública na ALMG na última terça-feira (18).

Em um dia longo e atribulado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na última terça-feira (19), o Projeto de Lei (PL) 4.380, em que o governador Romeu Zema (Novo) propõe a privatização da Copasa, não avançou e o debate sobre o texto deve seguir na casa na próxima semana, a última de novembro.

O projeto de privatização da Copasa foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na segunda-feira (17) após mais de uma semana de discussão nesta etapa. No dia seguinte, o texto passou a ser debatido na Comissão de Administração Pública (APU). Pela manhã, o PL teve seu parecer distribuído em avulso pelo relator Rodrigo Lopes (União Brasil).

A estratégia de distribuir o parecer em avulso é utilizada pela base governista para evitar que a oposição ganhe tempo de obstrução com um pedido de vista, o que obrigatoriamente posterga o debate em 24 horas. Com o relatório repassado individualmente para cada integrante da comissão, uma nova sessão de discussão e votação do texto pode ser marcada após o cumprimento de um intervalo mínimo de seis horas.

Na terça-feira, estava marcada uma reunião da APU para as 18h, quando a base esperava votar o parecer do projeto e liberá-lo para tramitar na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO), última etapa antes da votação em plenário no primeiro turno. A sessão do início da noite, no entanto, não aconteceu diante do prolongamento de uma audiência pública marcada para as 14h e que durou toda a tarde.

Na audiência pública, o presidente da Copasa, Fernando Passalio, defendeu a privatização da companhia como condição imprescindível para a universalização do saneamento básico em Minas Gerais. Ele foi confrontado por deputados da oposição, que deixaram a sessão insatisfeitos com a falta da apresentação de estudos técnicos que embasem a defesa da venda da estatal.

No cômputo final de mais um dia movimentado na Assembleia por textos que tratam da privatização da Copasa, a oposição conseguiu ganhar mais alguns dias em sua estratégia de obstrução. Nenhuma reunião da APU foi marcada para esta quarta-feira (19) e a próxima sessão marcada na agenda da Casa acontecerá na segunda-feira (24), às 14h. Com o feriado do Dia da Consciência Negra nesta quinta (20), os deputados encerraram seus trabalhos de forma antecipada.

Nos bastidores da Assembleia, a base governista reforça seu interesse em votar o projeto em dezembro. Pelo lado da oposição, um dos principais objetivos é fazer o debate adentrar o ano eleitoral de 2026. A expectativa é fazer com que a pauta considerada impopular perca força diante da proximidade das urnas.

Os servidores da Copasa, organizados pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos (Sindágua), planejam uma mobilização contida na próxima segunda-feira, com cerca de 70

A Constituição de Minas Gerais determina que as votações de projetos de lei para privatização de estatais de energia, gás natural e saneamento exijam maioria qualificada de três quintos da Casa — 48 dos 77 deputados — para sua aprovação.

Copasa no Propag

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisou retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Como foi a tramitação da PEC do Referendo para a Copasa

A mudança na Constituição foi aprovada em primeiro turno em uma reunião longa e conturbada no plenário. Marcada para as 18h da última quinta-feira (23) a votação foi estendida madrugada adentro e durou até as 04h30 da madrugada, quando 52 deputados governistas superaram a marca dos 48 votos exigidos para a aprovação da PEC.

Na semana passada, diante da obstrução da oposição, o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB) marcou reuniões para 0h01, 06h e 12h da sexta-feira.

A empreitada pela privatização da Copasa, além da PEC 24/2023, inclui o Projeto de Lei (PL)4380/2025, que versa especificamente sobre a venda da companhia em si. O texto ainda está em sua primeira etapa de tramitação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Antes de ser votada em primeiro turno no plenário, a proposta ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU); e Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO).

No segundo turno, a chamada PEC do Referendo foi aprovada pela conta mínima de 48 votos favoráveis contra 22 contrários na tarde de quarta-feira. A sessão durou mais de sete horas e foi marcada por situações inusitadas como a inversão de papéis entre base e oposição no momento de obstrução da pauta; uma troca de empurrões entre deputados; e com a validade do voto definitivo para a aprovação do texto feita através de análises das câmeras da Assembleia.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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