Privatização da Copasa: debate começa com obstrução da oposição e pressa da base de Zema

Deputado Doorgal Andrada foi designado relator do projeto e apresentou seu parecer avulso na manhã desta quinta-feira (13)

CCJ da Assembleia começou nesta quinta-feira (13) análise sobre projeto de privatização da Copasa

O deputado Doorgal Andrada (PRD) foi designado relator do Projeto de Lei (PL) 4.380/2025, que trata sobre a privatização da Copasa. O deputado apresentou seu parecer em avulso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na manhã desta quinta-feira (13) em meio à obstrução da oposição ao governador Romeu Zema (Novo) na Casa. Novas reuniões foram marcadas para as 16:40 e 17h15 para discutir o parecer.

A estratégia de distribuição do parecer em avulso é uma forma da base governista driblar a obstrução da oposição ao impedir que um deputado peça vista e atrase a análise da comissão em 24 horas. Com o relatório entregue a cada deputado, o intervalo mínimo entre as sessões passa a ser de seis horas.

A sessão das 9h foi marcada pela apresentação de requerimentos pelos membros da oposição Beatriz Cerqueira (PT) e Lucas Lasmar (Rede). Entre seus questionamentos, a deputada defende que o projeto que trata da privatização em si não pode começar sua tramitação sem a promulgação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, texto que derruba a exigência de um referendo popular para autorizar a venda da companhia de saneamento.

A chamada PEC do Referendo foi aprovada em segundo turno no plenário na última semana, mas a redação final do texto — uma etapa protocolar— ainda não foi confirmada. Doorgal Andrada, relator do PL da privatização da Copasa e também presidente da CCJ, defende que a reivindicação de Cerqueira faria sentido se a constituição tratasse de um plebiscito e não de um referendo. O primeiro modelo de consulta acontece antes da decisão e o segundo, após a aprovação de um projeto no Legislativo.

O debate sobre o PL 4.380/2025 promete se arrastar nas reuniões vespertinas e adentrar a noite desta quinta-feira com a promessa de obstrução feita pela oposição.

“Nas três comissões, nós temos dois membros em cada cada uma. Então, é uma condição melhor do que nós tínhamos na comissão especial da PEC do Referendo, que nós tínhamos um um membro. Isso já dobra a nossa condição de obstrução.

Todos os requerimentos serão apresentados”, afirmou Beatriz Cerqueira.

Depois da CCJ, o projeto ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU) e Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) antes de ser votada em plenário em primeiro turno. A aprovação do texto exige maioria qualificada de três quintos da casa, ou seja, 48 dos 77 deputados.

Como foi a tramitação da PEC do Referendo para a Copasa

A mudança na Constituição foi aprovada em primeiro turno em uma reunião longa e conturbada no plenário. Marcada para as 18h da última quinta-feira (23) a votação foi estendida madrugada adentro e durou até as 04h30 da madrugada, quando 52 deputados governistas superaram a marca dos 48 votos exigidos para a aprovação da PEC.

Na semana passada, diante da obstrução da oposição, o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB) marcou reuniões para 0h01, 06h e 12h da sexta-feira.

A empreitada pela privatização da Copasa, além da PEC 24/2023, inclui o Projeto de Lei (PL)4380/2025, que versa especificamente sobre a venda da companhia em si. O texto ainda está em sua primeira etapa de tramitação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Antes de ser votada em primeiro turno no plenário, a proposta ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU); e Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO).

No segundo turno, a chamada PEC do Referendo foi aprovada pela conta mínima de 48 votos favoráveis contra 22 contrários na tarde de quarta-feira. A sessão durou mais de sete horas e foi marcada por situações inusitadas como a inversão de papéis entre base e oposição no momento de obstrução da pauta; uma troca de empurrões entre deputados; e com a validade do voto definitivo para a aprovação do texto feita através de análises das câmeras da Assembleia.

Copasa no Propag

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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