Brasil desperdiça energia limpa enquanto paga mais caro por fontes termelétricas

Cortes de geração expõe desequilíbrios entre expansão das renováveis e infraestrutura do sistema elétrico

Brasil joga fora energia limpa enquanto paga mais caro por eletricidade

O Brasil gera muita energia, mas ainda assim enfrenta risco de apagões. O motivo não é a falta de oferta, e sim o excesso de geração.

O funcionamento do sistema depende do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por equilibrar oferta e consumo. Quando há energia sobrando e pouca demanda, o operador precisa desligar algumas usinas. Esse desligamento é chamado de curtailment — termo em inglês que significa redução ou limitação.

Em setembro de 2025, o país registrou recorde de cortes de geração, com cerca de 4,8 milhões de MWh fora da rede, segundo estudo da Volt Robotics. A sobra de energia pode causar instabilidade, aumentar o risco de apagões e até sobrecarregar equipamentos, provocando quedas no fornecimento.

Esse excesso vem, sobretudo, das fontes renováveis. Apesar da rápida expansão das energias limpas, a infraestrutura de transmissão não avançou no mesmo ritmo. Os incentivos públicos e privados à energia renovável são positivos para o meio ambiente, mas podem agravar o desequilíbrio do sistema quando a rede não acompanha.

O curtailment provoca perdas significativas, desperdiça energia limpa e gera ineficiências. Em momentos de alta demanda, como no início da noite, a geração solar cai, e o sistema precisa recorrer a fontes acionáveis a qualquer momento, como as termelétricas, que são mais caras e encarecem a conta de luz.

Walter Fróes, CEO da CMU Comercializadora de Energia, cita um exemplo de prejuízo envolvendo uma rede de supermercados atendida pela empresa, que não recebe toda a energia contratada por causa dos cortes do ONS em determinados horários, sendo obrigada a comprar energia no mercado para cumprir o contrato.

“Eu tenho um compromisso de entregar 30 megawatts-médios, mas só estou entregando 20. Isso porque fui impedido de gerar nesse horário. Então tenho que ir ao mercado spot, comprar a energia ao preço que ela estiver, registrar o nome dele, porque ele já consumiu essa energia. Eu vou receber pelo meu preço, que está mais baixo do que o da spot, e o prejuízo é todo meu. Esse cliente nosso tem um prejuízo hoje em torno de 1 bilhão e 200 milhões de reais, aproximadamente”, afirma.

Walter Fróes, CEO da CMU Comercializadora de Energia

Uma alternativa para mitigar o problema é concentrar grandes consumidores em regiões com excesso de oferta, como o Nordeste, que concentra grandes parques eólicos e alta geração solar. Segundo Aldemir Drummond, professor da Fundação Dom Cabral e coordenador do Imagine Brasil, essa estratégia já está em discussão.

“Hoje se discute bastante a ideia de atrair investimentos estrangeiros para localizar plantas industriais na região Nordeste, exatamente para poder se beneficiar dessa energia renovável”, explica.

Aldemir Drummond, professor da Fundação Dom Cabral e coordenador do Imagine Brasil

Também é importante considerar que os hábitos de consumo estão mudando. A demanda de energia no Brasil deve crescer, em média, 3,3% ao ano até 2035, segundo o Ministério de Minas e Energia. Com a abertura do Mercado Livre de Energia para mais consumidores a partir do ano que vem, a eletrificação de vários setores deve avançar. É o que afirma Alexandre Ramos, presidente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

“Essa nova possibilidade de contratação de energia, sem dúvida alguma, impulsiona, catapulta a eletrificação de outros setores da economia”, diz Ramos.

Alexandre Ramos, presidente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)

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Jornalista graduado pela PUC Minas; atua como apresentador, repórter e produtor na Rádio Itatiaia em Belo Horizonte desde 2019; repórter setorista da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
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