De janeiro a dezembro, ônibus estiveram no foco da política de BH em 2025

Das discussões sobre tarifa zero, passando pela renovação do contrato com as empresas de transporte e fechando o ano com o aumento tarifário, os ônibus foram tema central de 2025 na capital mineira

Presente no cotidiano do belo-horizontino, transporte público esteve no centro do debate político de BH em 2025

O transporte público é um assunto inerente às campanhas eleitorais em ano de pleito municipal de grandes cidades e não foi diferente na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em 2024. Na capital mineira, no entanto, o tema não se limitou às urnas e tornou-se um dos assuntos principais do primeiro ano de legislatura, sendo o assunto mais quente no Legislativo e Executivo desde os primeiros dias de 2025 até os instantes finais, com o recente anúncio do aumento no valor das passagens.

Na Câmara Municipal (CMBH), já em fevereiro, foi protocolado o Projeto de Lei 60/225 com a proposta de instituir na capital mineira a tarifa zero nos ônibus. O texto avançou lentamente na Casa até ser derrotado em plenário em outubro, não sem muita repercussão midiática e popular. A Casa também começou o ano criando uma Comissão Especial de Estudo para estabelecer as bases para a renovação do contrato da cidade com as empresas de transporte, cujo vínculo atual se encerra em 2028.

O Executivo também se debruçou sobre o tema ao longo do ano, primeiro debatendo com vereadores e em declarações públicas contrárias ao PL da tarifa zero. Em dezembro, depois do encerramento do caminho do texto na Câmara, o prefeito Álvaro Damião (União Brasil) anunciou o Programa Catraca Livre com a gratuidade das passagens aos domingos e feriados. Três semanas após a benesse, foi o momento de estabelecer um aumento de 8,6% no valor da passagem a partir de 2026.

Entre as discussões sobre o contrato com as empresas de ônibus e a tarifa dos ônibus houve ainda espaço para o debate sobre a retomada de linhas noturnas e nas madrugadas; a tentativa de alinhamento de políticas de financiamento da rede de transportes com o governo federal; e a redução no quadro de horários durante férias escolares. Independentemente do viés, quem se atentou ao cenário político de BH em 2025, acompanhou também a situação do transporte na cidade.

Tarifa zero e renovação de contrato em debate na Câmara

O PL 60/2025 foi apresentado na Câmara no primeiro mês de trabalhos do ano. Proposto por Iza Lourença (PSOL), o projeto recebeu a assinatura 22 dos 41 vereadores da Casa e tramitou entre as comissões por oito meses antes de receber a autorização para ir a votação em plenário.

A tramitação do texto na Câmara foi conturbada. Nas comissões de Legislação e Justiça e de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços, o texto foi aprovado com ressalvas pelos relatores.

Nas comissões seguintes — Administração Pública e Orçamento e Finanças Públicas — os relatores Juninho Los Hermanos (Avante) e Marcela Trópia (Novo) optaram por sequer apresentar um parecer sobre o texto, que chegou sem as avaliações ao plenário.

O dia da votação foi o mais polêmico do ano na Câmara. As galerias do plenário foram abarrotadas por manifestantes favoráveis à gratuidade nos ônibus, que encheram também os espaços externos da Casa. Toda a mobilização não foi suficiente para evitar a derrota do projeto por 30 votos a 10, com manifestações contrárias mesmo dos vereadores que assinaram a proposta.

Ao longo da tramitação do projeto da tarifa zero na Câmara, Álvaro Damião e o secretário de Governo da PBH, Guilherme Daltro, argumentaram que o projeto era inviável financeiramente. Na votação, o Executivo orientou a base da situação a votar contra o PL 60/2025.

A ideia apresentada no projeto era criar um Fundo Municipal de Melhoria da Qualidade e Subsídio ao Transporte Coletivo (FSTC) e estabelecer a Taxa do Transporte Público (TTP) como forma de financiá-lo.

Na prática, o projeto previa substituir o pagamento de vale-transporte por empresas sediadas na cidade para estabelecer o pagamento de um valor fixo para cada funcionário de organizações com mais de nove pessoas em seu quadro de trabalhadores.

O texto calcula um custo de R$ 168,82 por empregado, R$ 5,63 diários para cada funcionário a partir do décimo integrante do quadro da organização. Além da contribuição privada, o fundo seria abastecido com um subsídio do Executivo, já pago desde 2022.

Além da tarifa zero, a Câmara começou a discutir (e segue fazendo) projetos como o PL 52/2025, que propõe o fim da escala reduzida de ônibus durante as férias escolares.

Os vereadores também formaram, em maio, a Comissão Especial de Estudo - Contrato de Ônibus para analisar as tratativas de renovação de contrato do município com as empresas de transporte. O vínculo atual foi assinado em 2008 e dura 20 anos.

A comissão seguirá os trabalhos em 2026 e é presidida por Fernanda Pereira Altoé (Novo) e tem Pedro Rousseff (PT) como relator. Pablo Almeida (PL), Rudson Paixão (Solidariedade) e Helon Júnior (PSD) completam a lista de membros efetivos do grupo. Braulio Lara (Novo), Luiza Dulci (PT), Cláudio do Mundo Novo (PL), Wagner Ferreira (PV) e Helinho da Farmácia (PSD) são os suplentes.

Prefeitura anuncia Catraca Livre e aumento de passagem

Em dezembro, o centro irradiador do debate sobre os ônibus migrou da Avenida Andradas para a Afonso Pena, deixando a Câmara e embarcando na PBH. No dia 7, Damião foi às redes sociais para anunciar que a capital mineira passaria a ter passagens gratuitas aos domingos e feriados.

A medida foi anunciada como parte do programa “Catraca Livre”, que integra as comemorações do aniversário de 128 anos da capital, comemorados em 12 de dezembro. Se a média for mantida, a decisão significará a gratuidade em quase dez mil viagens aos domingos e feriados, de acordo com dados disponibilizados no painel de controle da Superintendência de Mobilidade Urbana (Sumob) e ainda não atualizados a partir do dia 14, primeiro com a passagem zerada na cidade.

Ainda no escopo do Catraca Livre, em 11 de dezembro foi a vez de Damião anunciar a ampliação das viagens de ônibus nas madrugadas. Batizado de ‘Madrugão’, programa consiste em 127 linhas que circulam entre 0h e 3h59, além da criação da Linha 10 para circular nas seguintes áreas boêmias da cidade: Floresta, Savassi e Lourdes, Praça da Liberdade, Praça Raul Soares, Mercado Novo, região hospitalar e estações de transferência Carijós e Rio de Janeiro

Na contramão dos anúncios positivos para os usuários do transporte público, nos instantes finais do ano, a PBH anunciou um aumento de quase 9% na passagem para 2026. A partir de janeiro, a tarifa principal na capital mineira passará de R$ 5,75 para R$ 6,25.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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