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Tarifa zero é derrotada na Câmara, mas discussão sobre passagens em BH ainda repercute

Vereadores e movimentos sociais prometem manter debate sobre gratuidade viva na cidade; prefeitura aposta em uma proposta de tarifa social

Manifestantes protestam em frente a CMBH pela aprovação da tarifa zero

Após a rejeição do Projeto de Lei 60/2025, que previa a adoção da gratuidade nos ônibus de Belo Horizonte, na última sexta-feira (3), o debate sobre a tarifa zero ainda não arrefeceu na capital mineira. Manifestantes, capitaneados pelos vereadores que votaram a favor da proposta, se reuniram no domingo (5) no hipercentro da cidade em meio a discursos dos parlamentares, que prometeram apresentar novas ideias para reduzir o valor da passagem do transporte belo-horizontino.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) saiu fortalecida da votação com o placar de 30 a 10 contra o projeto considerado inviável pelo Executivo. O apelo popular da pauta, no entanto, faz com que o Executivo se movimente para ter a paternidade de uma proposta que trate sobre o preço das passagens, hoje fixado em R$ 5,75 na capital.

À Itatiaia, o presidente da Câmara Municipal, Juliano Lopes (Podemos), afirmou que o Executivo lhe comunicou estar realizando estudos para adotar uma ‘tarifa social’ na cidade. Em outra frente, a PBH segue pleiteando um aporte federal para financiar o transporte municipal.

“A ideia é contemplar, principalmente, as pessoas que estão no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais) e fazer um projeto de lei para introduzir a tarifa social. Seria um projeto da própria prefeitura. A PBH também está olhando a possibilidade junto ao governo federal para iniciar o tarifa zero, inicialmente, aos domingos”, disse à reportagem.

Para Lopes, a sinalização da prefeitura junto à Câmara Municipal é importante para apaziguar os ânimos na Casa. A votação do Tarifa Zero na sexta-feira foi conturbada, com galerias lotadas de manifestantes e bastidores tensos entre os vereadores.

“É uma medida que pode ajudar a acalmar o clima na Câmara e até, quem sabe, no futuro, viabilizar a tarifa zero na cidade. A gente ainda está no calor do momento, mas vamos fazer o possível para colocar todos os vereadores em um projeto só”, complementou.

Os planos da prefeitura

À reportagem, o secretário de Governo da Prefeitura de Belo Horizonte, Guilherme Daltro, afirmou que o Executivo Municipal trabalha para criar um comitê de estudos sobre a questão da tarifa dos transportes na cidade. O grupo será formado por pesquisadores do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG) e a equipe técnica da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Segundo Daltro, a ideia de criar um projeto para adoção da tarifa social na capital mineira já existia, mas foi acelerada pela discussão do PL da tarifa zero. O secretário destacou que o plano, ainda incipiente, prevê reduzir pela metade a passagem das pessoas inscritas no CadÚnico e as que recebem Benefício de Prestação Continuada (BPC). Para incrementar o financiamento do modelo, a PBH espera conseguir um subsídio federal.

“A gente estabeleceria a tarifa social para os beneficiários do BPC e do CadÚnico também. Por exemplo, a pessoa que está desempregada e precisa vir ao Centro da cidade para procurar emprego. A gente pode estabelecer uma tarifa social para que ela possa possa vir, e também não se utilizar desses outros modais. É muito importante que se diga isso. A queda hoje no número de usuários do sistema de transporte coletivo deriva justamente desses novos modais. Se você reduz a tarifa a metade, naturalmente você traz essa pessoa de novo para o sistema”, afirmou.

A prefeitura defende que o sistema de transporte coletivo tem perdido usuários para o transporte por aplicativo, em especial os feitos por motocicleta e para distâncias curtas, considerado mais atrativo economicamente.

A resistência do tarifa zero

A prefeitura defende que a gratuidade das passagens nos moldes apresentados pelo PL 60/2025 não era financeiramente viável e era inconstitucional por estabelecer uma substituição do vale-transporte, um benefício estabelecido em âmbito federal.

Apesar da argumentação do Executivo, os vereadores que votaram a favor do texto, defendem que a ideia siga em pauta e que novas tentativas de adotar a tarifa zero sejam perpetradas nos anos seguintes. Os dez votos pela aprovação do projeto vieram dos nomes mais alinhados à esquerda na casa, os petistas Bruno Pedralva, Luiza Dulci, Pedro Patrus e Pedro Rousseff; as psolistas Cida Falabella, Juhlia Santos e Iza Lourença; Wagner Ferreira (PV); e Helton Júnior (PSD).

No plenário da Câmara, logo após a votação, o vereador Bruno Pedralva (PT) afirmou que, apesar da rejeição do texto, o movimento pela gratuidade no transporte saiu vencedor após a tramitação da proposta por ter conseguido espaço no debate público. O parlamentar ainda antecipou que voltará a apresentar um projeto semelhante ao PL 60/2025 em 2026.

“Perdemos a votação, mas vou dizer para vocês que perdemos a batalha, mas não a guerra. A gente está mais forte ainda para seguir daqui para frente. Vou dizer para vocês que saímos vitoriosos no debate, porque nós convencemos a cidade de Belo Horizonte que é possível implantar a tarifa zero. Além disso, a gente aqui assume um compromisso com tudo que, já que a tarifa zero é inevitável e mais cedo ou mais tarde vamos vencer. Assim que acabar esse ano, do dia 31 de dezembro para 1º de janeiro, a gente já pode apresentar de novo um projeto de tarifa zero”, declarou sob aplausos das galerias.

No domingo, movimentos sociais protestaram contra o resultado da votação na Câmara de BH e mantiveram o discurso da tarifa zero como uma proposta viável para a capital mineira.

O PL 60/2025 previa criar um Fundo Municipal de Melhoria da Qualidade e Subsídio ao Transporte Coletivo (FSTC) e estabelecer a Taxa do Transporte Público (TTP) como forma de financiá-lo.

Na prática, a lei substituiria o pagamento de vale-transporte por empresas sediadas na cidade para estabelecer o pagamento de um valor fixo para cada funcionário de organizações com mais de nove pessoas em seu quadro de trabalhadores.

O texto calculava um custo de R$ 168,82 por empregado, R$ 5,63 diários para cada funcionário a partir do décimo integrante do quadro da organização. Além da contribuição privada, o fundo seria abastecido com um subsídio do Executivo, já pago desde 2022.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.