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Após dias de ‘velocidade máxima’, ALMG desacelera e deixa Propag para a próxima semana

Votações importantes sobre a venda de imóveis e a privatização da Copasa só voltarão à pauta da Casa

Servidores da Emater e alunos do Estadual Central na Assembleia nesta quarta-feira (29)

Um acordo envolvendo a base governista e a oposição na tarde desta terça-feira (29) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) postergou para a próxima semana a discussão sobre o projeto de lei (PL) que coloca imóveis do governo estadual à venda. Também para o começo de novembro ficou o debate sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retira a exigência de um referendo popular para autorizar a venda da Copasa. O leve respiro marca uma desaceleração das pautas privatistas do governador Romeu Zema (Novo) associadas ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) após dias de ritmo frenético no parlamento.

O PL 3733/2025, em que é apresentada uma lista com centenas de imóveis para venda ou federalização como forma de obter recursos para abater parte da dívida de R$ 170 bilhões com a União, não foi apreciado na Comissão de Administração Pública (APU) nesta tarde. Os governistas Rodrigo Lopes (União Brasil), relator do projeto, e João Magalhães (MDB), líder de governo, chegaram a um acordo com a oposicionista Beatriz Cerqueira (PT) para só voltar a discutir o assunto na próxima terça-feira (4).

O projeto dos imóveis é um dos mais polêmicos relacionados ao Propag por incluir na lista de ativos negociáveis prédios históricos e que são utilizados para prestar serviços públicos como é o caso do Palácio das Artes, do Hospital Risoleta Tolentino Neves, de sedes de prefeituras do interior, do colégio Estadual Central e da sede da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Os dois últimos citados estiveram presentes com alunos e servidores protestando na Assembleia na manhã desta quarta durante uma audiência pública marcada para debater o tema.

Com a audiência marcada para a manhã, a agenda da Casa previa o avanço do PL dos imóveis durante a tarde na APU às 14h e na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) às 16h30. Caso aprovado em ambos os momentos, o texto já ficaria pronto para votação em primeiro turno no plenário.

No entanto, os parlamentares preferiram adiar o debate para ter mais informações sobre quais imóveis o governo considera retirar da lista e quais emendas ao texto são viáveis. Beatriz Cerqueira, por exemplo, apresentou uma adição ao texto original para retirar a possibilidade de que a venda dos prédios e apenas permitir a federalização.

Em 8 de outubro, o parecer do projeto na APU foi apresentado pelo relator Rodrigo Lopes já com alterações importantes. Uma delas foi a retirada completa dos imóveis da Universidade do Estado (Uemg) da lista. A outra foi a mudança no desconto máximo oferecido no valor dos ativos no caso da privatização. No texto original de Zema, caso o primeiro leilão terminasse deserto, o preço poderia cair em até 45%. Com a mudança prevista no parecer, o percentual de desconto foi reduzido para 25%.

Esta quarta foi o segundo dia consecutivo em que a agenda da Assembleia trazia a previsão de votar o PL 3733/2025 nas duas comissões que antecedem a liberação do texto para o plenário. Em ambas as oportunidades, o projeto não avançou.

Referendo da Copasa também fica para a semana que vem

A votação da PEC 24/2023 em plenário no segundo turno também ficará para a próxima semana. O texto de autoria do governador Romeu Zema que retira a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa, deve cumprir seis sessões de discussão antes de ser, de fato, apreciada por todos os deputados estaduais e não há tempo hábil para fazê-lo até esta sexta-feira (31).

A chamada PEC do Referendo foi tema de dias agitados na Casa desde sua tramitação em primeiro turno no plenário. As seis sessões de discussão se encerraram na última quinta (23), quando o texto ficou pronto para votação na reunião extraordinária das 18h. Para garantir a votação, diante da promessa de obstrução da oposição, o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB) marcou sessões complementares desde a madrugada de sexta-feira (24) às 0h01; 06h e 12h.

O texto foi aprovado pela bancada governista por 52 votos a 18 por volta das 4h30 da madrugada após mais de dez horas de votação marcada pelo uso de instrumentos regimentais para obstruir a pauta. As PECs devem ser aprovadas por quórum qualificado de três quintos da Casa, ao menos 48 deputados, portanto.

Na semana seguinte, quando voltou à comissão especial de análise da PEC para votação entre os turnos, o clima não foi diferente. O grupo formado por quatro deputados governistas e apenas uma representante da oposição se reuniu primeiro às 9h da última terça-feira (28) em sessão marcada pela inesperada inclusão da Gasmig na proposta de derrubada do referendo. O relatório com a novidade foi distribuído em avulso entre os membros da comissão e uma nova reunião foi marcada para as 16h10 do mesmo dia.

Às 16h10 acontece uma nova reviravolta quando a própria base de Zema resolve retirar novamente a Gasmig do projeto. Em nota enviada à imprensa, a base governista afirma que o movimento foi feito para que os parlamentares consigam se concentrar na empreitada de privatização da Copasa.

A chamada “PEC do Referendo” visa permitir a privatização das estatais alterando a Constituição de Minas Gerais no ponto em que a venda de Cemig, Copasa e Gasmig só podem ser vendidas mediante autorização do eleitor do estado. Este artigo está na legislação mineira desde 2001, quando foi proposto pelo então governador Itamar Franco e aprovado por unanimidade na Assembleia.

O parecer na comissão especial foi votado após quase cinco horas de reunião, liberando o texto para votação em segundo turno. A Casa, no entanto, não marcou sessões extraordinárias em sequência para esgotar rapidamente as seis reuniões de discussão. Apenas a reunião ordinária aconteceu nesta quarta e outras três estão marcadas para a quinta-feira (30). A votação, portanto, só acontecerá na próxima semana.

Os ativos mineiros no Propag

O Propag permite a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União. A tentativa de venda dos imóveis é feita como forma de ingresso no programa abatendo parte do débito mineiro. Além deste projeto, há a já aprovada federalização da Codemig e a ainda em tramitação privatização da Copasa.

O programa prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.