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Horas depois de incluir, base de Zema volta atrás e retira Gasmig da PEC do Referendo da Copasa

Em nota enviada à imprensa, a base governista afirma que o movimento foi feito para que os parlamentares consigam se concentrar na empreitada de privatização da Copasa

O líder de governo de Romeu Zema, João Magalhães

Cerca de sete horas após incluir a Gasmig nos efeitos da Proposta de Emenda à Constituição 24/2023, a base do governador Romeu Zema (Novo) decidiu retirar novamente a companhia de gás natural do texto que derruba a exigência de um referendo popular para a privatização de estatais. Os deputados da situação alegam que precisam focar os esforços na venda da Copasa.

A Gasmig foi incluída na PEC no parecer apresentado durante a reunião da comissão especial de análise da proposta na manhã desta terça-feira (28). A sessão foi então cancelada e marcada para o fim desta tarde. Por volta das 17h40, o membro da comissão e líder do governo Zema na Assembleia, João Magalhães (MDB) pediu a retirada da companhia de gás natural do texto.

Em nota enviada à imprensa, a base governista afirma que o movimento foi feito para que os parlamentares consigam se concentrar na empreitada de privatização da Copasa.

“Com o avanço do diálogo entre os parlamentares e diante da necessidade de concentrar esforços no tema central da PEC - o enquadramento da Copasa no contexto do Propag e sua relevância para a sustentabilidade da dívida de Minas - entendemos que o melhor encaminhamento, neste momento, é manter o foco integralmente no saneamento básico”, diz trecho do documento.

O vai e volta da Gasmig na PEC do Referendo foi recebido com surpresa pelos membros da oposição tanto de manhã como durante a tarde. Os servidores da Copasa que lotam o plenarinho e o saguão de espera da Assembleia protestando pela manutenção da consulta popular também ficaram surpresos.

A chamada “PEC do Referendo” visa permitir a privatização das estatais altera o a Constituição de Minas Gerais no ponto em que a venda de Cemig, Copasa e Gasmig só podem ser vendidas mediante autorização do eleitor do estado. Este artigo está na legislação mineira desde 2001, quando foi proposto pelo então governador Itamar Franco e aprovado por unanimidade na Assembleia.

A PEC foi aprovada em primeiro turno na madrugada da última sexta-feira (24), quando a base governista conseguiu votar o texto às 4h30 após mais de dez horas de sessão em plenário.

O que diz a PEC do referendo?

No início do século, durante o governo de Itamar Franco, a Assembleia aprovou por unanimidade a inclusão de um artigo na Constituição de Minas Gerais que obriga a realização de um referendo popular para aprovar a privatização das estatais de gás natural, energia elétrica e saneamento.

A PEC 24/2023 buscava retirar esse artigo e viabilizar a privatização de Cemig e Copasa. Após acordos entre os deputados, o texto foi alterado e manteve apenas a retirada do referendo para a Copasa.

A Copasa no Propag

A privatização da Copasa já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Propag. Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.