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Dívida: Assembleia de Minas começa nova semana com avalanche de projetos do Propag

Após semana encerrada com votação na madrugada, deputados terão agenda lotada de textos sobre programa de refinanciamento da dívida com a União

Assembleia Legislativa de Minas Gerais terá mais uma semana movimentada com debates sobre o Propag

Após a maratona notívaga para aprovar em primeiro turno a proposta de emenda à Constituição (PEC) que derruba a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa na última sexta-feira (24), o Governo de Minas Gerais abrirá a próxima semana na Assembleia Legislativa (ALMG) acelerando ainda mais as pautas relacionadas ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) na Casa.

Com o feriado do Dia do Servidor Público na segunda-feira (27), as atividades legislativas retornam na terça-feira (28) e à todo vapor. A própria ‘PEC do Referendo’ será debatida na comissão especial, etapa necessária para a tramitação entre os turnos. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), um dos projetos da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário (Arsae-MG) será debatido. Já o projeto para a venda de centenas de imóveis do estado está pautado nas comissões de Administração Pública (APU) e de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO).

A PEC 24/2023, que elimina o referendo popular para a venda da Copasa voltará a pauta para cumprir a necessária reunião na comissão especial de análise da proposta. Formado por maioria governista, o grupo precisa elaborar um parecer para liberar o texto para a votação em definitiva no segundo turno. Ainda na próxima semana, o plenário pode decidir por extinguir a consulta popular e liberar a venda da companhia de saneamento apenas com a aprovação dos parlamentares.

Imóveis em debate

A comissão especial da PEC está marcada para 9h e 9h30. Já durante a tarde, às 14h, a Comissão de Administração Pública (APU) debaterá o Projeto de Lei (PL) 3733/2025, em que o Governador Romeu Zema (Novo) tenta a autorização para federalizar ou vender centenas de imóveis do estado como forma de obter recursos para o refinanciamento da dívida de cerca de R$ 170 bilhões com a União.

Em 8 de outubro, na própria APU, o deputado governista Rodrigo Lopes (União Brasil) apresentou um parecer desidratando a lista original de mais de 300 imóveis retirando, por exemplo, todos os prédios da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg) do plano de privatização. A deputada da oposição Beatriz Cerqueira (PT) pediu vista para analisar a nova composição do projeto.

Para as 15h da mesma terça-feira está marcada a discussão do projeto dos imóveis na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. Se aprovado em ambas as comissões, o texto fica pronto para ir a plenário.

Arsae também está na pauta

O Projeto de Lei 4.552/2025, que reorganiza a estrutura da Arsae-MG, está na pauta da Comissão de Constituição e Justiça marcada para as 10h da terça-feira. O texto também está associado aos esforços de privatização da Copasa e adequa o regulamento da agência reguladora ao Marco Legal do Saneamento.

O texto é fruto de um desmembramento do PL 3.739/2025, ideia original do Governo Zema para Arsae no âmbito do Propag. A Assembleia separou a proposta em duas e deixou no texto inicial apenas o debate sobre a criação de Unidades Regionais de Saneamento Básico (URSBs).

Mudança de ritmo

A votação da PEC do Referendo durou dez horas na madrugada de quinta para sexta-feira passadas, mas o debate poderia ter sido ainda mais amplo. Isso porque o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB), marcou reuniões extraordinárias que poderiam estender a discussão em plenário por mais de 18 horas com sessões marcadas para 18h, 0h01, 06h e 12h.

A urgência na votação no fim da última semana é prosseguida pela abertura dos trabalhos na terça-feira com uma avalanche de projetos relativos ao Propag. As decisões mostram uma mudança de postura no comando da Assembleia em relação ao programa de refinanciamento das dívidas dos estados com a União.

Em 7 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou um decreto que permite que as negociações sobre os ativos envolvidos no Propag possam ser feitas até o fim de 2026. O prazo anterior era o fim deste ano. A medida foi recebida com otimismo pela oposição na Assembleia, que acreditava que mais tempo de debate reduziria a velocidade da pauta privatista na Casa.

Tadeuzinho, o presidente da Assembleia, afirmou no dia seguinte ao decreto que suspenderia todas as decisões em plenário até que os deputados e o corpo técnico da Casa compreendessem melhor a decisão do governo federal.

Os dias posteriores ao decreto foram de calmaria na Assembleia, mas, na última semana, o debate sobre o Propag voltou com força total. Os últimos dias foram marcados por protestos de servidores da Copasa e pela única sessão marcada em plenário para a madrugada neste século.

O que diz o Propag?

Criado a partir de negociações entre deputados estaduais, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o governo federal, o Propag nasceu como uma alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). O projeto foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024, sancionado por Lula e regulamentado em abril deste ano.

O Propag prevê o parcelamento da dívida dos estados em até 30 anos e mecanismos para a redução dos juros, hoje fixados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Minas deve cerca de R$ 170 bilhões à União.

Com a privatização e a federalização de companhias estatais e imóveis, o Governo de Minas almeja amortizar, ao menos, 20% do estoque da dívida e, com isso, reduzir os juros em dois pontos percentuais cobrados acima da inflação. Para a alienação dos bens, o Executivo precisa do aval da Assembleia.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.