Ouvindo...

Após queda da tarifa zero, PBH quer montar um comitê para debater passagem de ônibus

Executivo quer criar um grupo de pesquisa sobre o preço do transporte na cidade e trabalha na elaboração de um projeto para instituir uma ‘tarifa social’

Prefeitura seguirá com a discussão sobre o preço das passagens na cidade com projeto próprio

Na semana seguinte à rejeição do projeto de lei (PL) que pretendia instaurar a gratuidade no ônibus de Belo Horizonte, a prefeitura da capital mineira promete manter o debate sobre as passagens com uma proposta própria. O Executivo trabalha na criação de um comitê para pensar em estratégias de redução do preço das passagens.

Segundo o secretário de Governo da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Guilherme Daltro, o Executivo planeja a criação de um grupo com pesquisadores do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG) e a equipe técnica da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Entre as atribuições do comitê está viabilizar um projeto que reduz pela metade a passagem para os belo-horizontinos listados no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e os que recebem Benefício de Prestação Continuada (BPC). O projeto da ‘Tarifa Social’ deverá ser enviado à Câmara Municipal e foi acelerado diante das intensas discussões em torno da tarifa zero.

“A gente estabeleceria a tarifa social para os beneficiários do BPC e do CadÚnico também. Por exemplo, a pessoa que está desempregada e precisa vir ao Centro da cidade para procurar emprego. A gente pode estabelecer uma tarifa social para que ela possa possa vir, e também não se utilizar desses outros modais. É muito importante que se diga isso. A queda hoje no número de usuários do sistema de transporte coletivo deriva justamente desses novos modais. Se você reduz a tarifa a metade, naturalmente você traz essa pessoa de novo para o sistema”, disse à Itatiaia nesta segunda-feira (6).

A prefeitura defende que o sistema de transporte coletivo tem perdido usuários para o transporte por aplicativo, em especial os feitos por motocicleta e para distâncias curtas, considerado mais atrativo economicamente.

Se reduzida pela metade, a tarifa base dos ônibus de BH cairia de R$ 5,75 para R$ 2,88. Com o preço cheio, a passagem em Belo Horizonte ocupa a quarta posição entre as mais caras das capitais brasileiras, atrás apenas de Florianópolis, Curitiba e Porto Velho.

No debate sobre a tarifa zero, a PBH orientou a bancada governista a votar contra o texto. Na visão do Executivo, o texto específico do PL 60/2025 não era financeiramente viável e era inconstitucional por estabelecer uma substituição do vale-transporte, um benefício estabelecido em âmbito federal.

Negociações com o governo federal

Para a adoção da tarifa social, a Prefeitura de Belo Horizonte espera avançar nas negociações com o governo federal para conseguir a transferência de recursos que subsidiem o benefício. Daltro afirma que uma medida de redução do preço no transporte público se insere nas mesmas características de outros programas lançados recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O secretário ainda cita projetos como a mudança na cobrança do Imposto de Renda (IR) para voltar a defender a posição da PBH contra o projeto da tarifa zero nos moldes apresentados na capital mineira.

“A gente tem visto uma política do governo Lula com o gás do povo para a população de baixa renda, na questão de zerar as contas de luz e de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil. Essa política do IR, por exemplo, foi calculada com a retirada de lucros e dividendos de uma camada superior, então, essa camada que vai custear, porque o dinheiro ele não brota de combustão espontânea, ele só muda de lugar. Se a gente vai fazer um tarifa zero, a gente tem que saber da onde que vai sair o recurso. Na forma como foi apresentado o projeto era insustentável, porque as empresas acima de 10 funcionários não teriam condição de sustentar um aumento da demanda dentro do transporte coletivo”, afirmou.

O PL 60/2025 previa criar um Fundo Municipal de Melhoria da Qualidade e Subsídio ao Transporte Coletivo (FSTC) e estabelecer a Taxa do Transporte Público (TTP) como forma de financiá-lo. Na prática, a lei substituiria o pagamento de vale-transporte por empresas sediadas na cidade para estabelecer o pagamento de um valor fixo para cada funcionário de organizações com mais de nove pessoas em seu quadro de trabalhadores.

Daltro se mostrou otimista em relação às negociações travadas junto ao governo federal para subsidiar o sistema de transporte da capital mineira. Ainda assim, o secretário de Álvaro Damião (União Brasil) não acredita que os valores serão suficientes para viabilizar a gratuidade nos transportes.

“A negociação com o Governo Federal tem avançado. Tem um marco legal da mobilidade urbana tramitando na Câmara Federal, que eu acredito que vai demorar muito, mas o Governo Federal tem sinalizado nesse sentido e eu acredito que é um momento oportuno de fazer esse projeto. Eu vejo como um projeto social para que se subsidie essa tarifa. E subsidiar não é estabelecer o tarifa zero, até porque o Haddad (ministro da Fazenda) tem sinalizado que seriam disponibilizados R$ 90 bilhões Não dá para fazer no país inteiro tarifa zero com apenas R$ 90 bilhões”, concluiu.

Leia também

Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.