Antes conhecido por ser um “camaleão” do centro, o PSD, de Gilberto Kassab, agora se define abertamente como um partido da centro-direita, marcando uma guinada conservadora na maior legenda do Brasil em número de prefeituras e com uma das maiores bancadas no Congresso Nacional.
Apesar de ter em seus quadros parlamentares que se identificam com o espectro progressista, como Helton Júnior, em Belo Horizonte, que chegou a abandonar a vice-liderança de Governo da Câmara Municipal para votar a favor do projeto da Tarifa Zero, e compor ministérios do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o partido agora fala em manter seus valores ao redor da economia de mercado e no “conservadorismo pragmático”.
Na “Declaração de São Paulo”, documento sobre a conjuntura política brasileira assinado e aprovado pelo PSD na última sexta-feira (21), o partido fala abertamente em compor a centro-direita e pontua desafios para o campo político.
“Considerando que a centro-direita democrática encontra-se numa encruzilhada crítica, necessitando reinventar-se sem abandonar seus princípios fundamentais alicerçados no diálogo, na democracia como valor inegociável, na economia de mercado com responsabilidade social e no conservadorismo pragmático”, lê-se em um trecho do documento.
O texto fala ainda em propor uma “Concertação Democrática”, entendida como “um mecanismo de articulação política e social voltado à formação de consensos mínimos em sociedades pluralistas”. “Trata-se de um processo deliberativo que busca conciliar diferentes interesses e visões de mundo por meio do diálogo estruturado, da cooperação interinstitucional e da construção de compromissos compartilhados entre atores públicos e privados”, explica a declaração.
No evento em que foi assinada, Gilberto Kassab destacou em sua fala que a centro-direita está “fragmentada” na América Latina e que o campo reúne desde liberais, conservadores sociais, democratas-cristãos até libertários.
Kassab defendeu que a centro-direita se reposicione como defensora da democracia e da institucionalidade. “A renovação precisa combinar crescimento com inclusão e novas pautas sociais, incorporar novas lideranças, construir reputação de integridade, ampliar a presença além das elites urbanas e dialogar com movimentos sociais e atores cívicos”, disse.
Em nível estadual, especialmente na Assembleia Legislativa, o partido é alinhado à direita, compondo a base de governo de Romeu Zema (Novo). O presidente estadual da sigla, deputado estadual Cássio Soares, definiu o partido como de “centro” e “equilibrado”, mas ponderou que, em Minas, “o caminho que julgamos mais adequado é a centro-direita”.
Soares também acredita que movimentos eleitorais do partido, como a possibilidade de que o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), seja candidato à Presidência da República, demonstram aptidão da legenda para caminhar à direita no próximo pleito.
“O Kassab sempre respeita a posição do partido nos estados, porém ajuda na construção. É público que ele, ao estar ao lado do governador Tarcísio e defender como alternativa a candidatura a presidente do governador Ratinho, está sinalizando que o partido caminhará com a centro-direita”, avaliou.
Alinhamento à direita em Minas chegou às eleições
Em Minas Gerais, o PSD firmou seu alinhamento à direita com a filiação do vice-governador Mateus Simões, que antes compunha os quadros do Novo, e na aposta de sua candidatura ao Palácio Tiradentes em 2026, em detrimento de uma possível candidatura de Rodrigo Pacheco, que é do mesmo partido, e é o preferido de Lula para o cargo.
Pacheco chegou a sinalizar que, caso concorra ao governo do estado, não o faria pelo PSD. “A opção do PSD nacional foi ter uma aderência ao projeto do governo Zema. Isso não me incomoda. É uma opção feita pelo partido. E, óbvio, se minha decisão for continuar na política e ser candidato ao governo, não será pelo PSD”, destacou, em nota à imprensa.