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Senado deve barrar PEC da Blindagem após parecer contrário de Alessandro Vieira

Proposta aprovada na Câmara amplia proteções a parlamentares contra processos e prisões; relator chama texto de “golpe fatal” na legitimidade do Congresso

PEC da Blindagem será votada nesta quarta (24), no Senado Federal

A chamada PEC da Blindagem (PEC 3/2021), que amplia as proteções legais a parlamentares contra investigações e prisões, deve ser analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado nesta quarta-feira (24). A proposta foi aprovada pela Câmara dos Deputados na semana passada, mas enfrenta forte resistência no Senado, onde já há expectativa de rejeição tanto na comissão quanto em plenário.

O relator da matéria, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), apresentou parecer contrário e classificou a PEC como um “golpe fatal” na legitimidade do Congresso. Em sua avaliação, o texto não protege a democracia, mas sim a impunidade.

O que prevê a PEC da Blindagem

A Proposta de Emenda à Constituição altera regras de imunidade parlamentar. Atualmente, deputados e senadores já contam com duas proteções fundamentais:

  • Imunidade material: não podem ser responsabilizados por palavras, opiniões e votos ligados ao mandato;
  • Imunidade processual: não podem ser presos, exceto em flagrante de crime inafiançável, e qualquer processo criminal depende de autorização da Casa Legislativa.

A PEC da Blindagem reforça esses mecanismos e cria novas barreiras. Entre elas:

  • exige que o Supremo Tribunal Federal só possa abrir ação penal contra parlamentar após autorização da Câmara ou do Senado, com votação secreta em até 90 dias;
  • determina que prisões em flagrante também sejam submetidas a decisão sigilosa das Casas;
  • amplia o foro privilegiado para presidentes de partidos políticos com representação no Congresso.

Resistência no Senado

A proposta chegou ao Senado sob forte desgaste. O presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), foi taxativo ao afirmar que a matéria é “uma falta de respeito ao eleitor e ao povo brasileiro”. Para ele, aprovar a PEC seria um retrocesso em relação a conquistas de transparência e combate à corrupção.

A análise na CCJ está marcada para as 9h de quarta-feira e inclui outros cinco itens na pauta, entre eles projetos sobre endurecimento de penas para crimes violentos, proteção de mulheres contra violência virtual e medidas para facilitar a amamentação de mães trabalhadoras.

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O relatório de Alessandro Vieira

Em seu parecer, o senador Alessandro Vieira lembra que a exigência de autorização prévia para processar parlamentares foi regra durante décadas, mas produziu resultados desastrosos. “Quase nenhum pedido de investigação contra deputados e senadores prosperava. A consequência foi a impunidade, que fragilizou ainda mais a confiança da sociedade no Parlamento”, escreveu.

Ele também critica a volta do voto secreto, argumentando que a medida enfraquece a transparência e o controle social. “O eleitor tem direito de saber como vota o seu representante em temas que envolvem ética e responsabilidade pública”, pontuou.

Quanto ao foro privilegiado para presidentes de partidos, Vieira considera o dispositivo “absolutamente despropositado”. Para o relator, a medida cria uma casta política ainda mais protegida da Justiça, sem qualquer justificativa ligada ao exercício do mandato parlamentar.

Debate sobre democracia e impunidade

A polêmica em torno da PEC reacendeu o debate sobre até que ponto as regras de imunidade são necessárias para proteger a independência do Legislativo sem abrir espaço para abusos. Defensores da proposta alegam que o texto evitaria perseguições políticas contra parlamentares e preservaria a separação de Poderes.

Por outro lado, críticos apontam que o histórico brasileiro demonstra o contrário: em períodos em que a autorização prévia foi exigida, os casos eram sistematicamente barrados, criando um manto de impunidade em torno da classe política. Além disso, a ampliação do foro privilegiado é vista como um privilégio injustificado.

Próximos passos

Caso seja rejeitada na CCJ, a PEC segue para o plenário do Senado. Para ser aprovada, precisaria do apoio de três quintos dos senadores em dois turnos de votação, cenário considerado improvável diante da resistência manifestada por lideranças da Casa.

A leitura do relator Alessandro Vieira reforça a tendência de sepultamento da proposta ainda nesta semana. “Essa PEC não fortalece o Parlamento, ela fragiliza a democracia. Ao tentar blindar parlamentares contra a Justiça, cria-se um ambiente propício à impunidade e ao descrédito das instituições”, conclui o parecer.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.