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Segundo maior diamante do país é apreendido pela PF e vira alvo de disputa judicial em MG

Segundo geólogo, morfologia e inclusões da pedra revelam características únicas de cada região produtora

. Conforme a prefeitura da cidade, o diamante bruto foi encontrado em maio e a pedra é avaliada em R$ 16 milhões

Após a Polícia Federal apreender um diamante bruto de mais de 600 quilates, considerado o segundo maior do país, o item milionário virou alvo de disputa judicial e de suspeitas sobre a origem, podendo valer até R$ 16 milhões.

Garimpeiros da região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, afirmam que mesmo havendo provas e testemunhas de que a pedra preciosa foi encontrada em maio deste ano em Coromandel, há denúncias que tentam apontar que, na verdade, ela teria sido achada em Araguari e poderia ser resultado de furto ou fraude.

Mineradoras das duas cidades se colocam como extratoras do diamante, levantando a hipótese de que ele tenha sido levado de um município a outro antes do registro oficial, na intenção de fraudar documentos para viabilizar a venda.

Tudo começou com a apreensão realizada pela Polícia Federal em 27 de agosto, quando a pedra foi retida durante a análise de documentos para a emissão do Certificado do Processo de Kimberley (CPK), passo necessário para a exportação e solicitado pelo comprador, o empresário Oswaldo Borges da Costa Neto.

Inconsistência

Conforme apurado pela reportagem, a linha de investigação da PF parte da denúncia que coloca a empresa Carbono Mineração, que tem mina em Araguari, como possível extratora.

Por outro lado, registros recebidos pela Agência Nacional de Mineração (ANM) indicam que a pedra teria sido extraída em Coromandel pela Diadel Mineração. Diante da inconsistência, a PF decidiu não autorizar a exportação até que a análise seja aprofundada.

A Itatiaia conversou com integrantes do mercado de pedras preciosas de Coromandel e o descontentamento com a suspeita levantada sobre a origem da pedra é unânime. Fontes afirmaram que o encontro do diamante se tornou um evento na cidade, celebrado por garimpeiros e autoridades locais.

Vídeo nas redes sociais

O filho do garimpeiro que diz ter encontrado a pedra apresentou um vídeo divulgado nas redes sociais pela mineradora, onde o pai retira o diamante de rejeitos do maquinário e o arremessa para fora.

Ele afirma que existem provas no garimpo que demonstram a veracidade do fato e acredita que a polêmica em torno do diamante possa ser resultado de intriga pessoal envolvendo o comprador e outras pessoas, não relacionada à venda em si.

O geólogo Daniel Fernandes, especializado em pedras preciosas, explicou que o selo Kimberley para exportar a pedra exige que o material tenha sido extraído por mineradora legalizada, com guia de utilização, licença de lavra, licença de operação e licenças ambientais em dia. Segundo ele, tanto para comprar quanto para vender um diamante, é necessário que o produto esteja incluído no Cadastro Nacional de Comércio de Diamantes.

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“Às vezes, se um lote tiver gemas de origens diferentes, o avaliador consegue identificar facilmente pela própria morfologia do diamante. Cada região tem características próprias: o diamante de Juína é muito diferente do de Coromandel, que por sua vez difere dos de Barra do Garças, de Araguari e de outras áreas de Minas Gerais. Eles apresentam formas e inclusões típicas de cada local”, disse.

O responsável pela Carbono Mineração respondeu às tentativas de contato afirmando que o caso está sob investigação das autoridades competentes e que, por isso, não poderia comentar. A Prefeitura de Coromandel informou que não foi notificada para integrar o inquérito que investiga a origem da pedra.

Já a Diadel Mineração e a Prefeitura de Araguari não responderam. A Agência Nacional de Mineração confirmou que, apesar da apreensão, a análise para certificação do diamante continua em andamento, mas disse que não comenta casos específicos e que presta apoio técnico sempre que solicitado.

O empresário Osvaldo Borges da Costa Neto não foi localizado.

Jornalista graduado pela PUC Minas; atua como apresentador, repórter e produtor na Rádio Itatiaia em Belo Horizonte desde 2019; repórter setorista da Câmara Municipal de Belo Horizonte.