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Cadeia com dignidade

A APAC é uma gota d`água no deserto de nosso sistema penitenciário

prisão

Faço parte, com muito orgulho, do movimento Conspiração Mineira pela Educação. Nosso coordenador, Evando Neiva, convidou para palestra que proferiu nesta quinta-feira na APAC feminina de Belo Horizonte. Como sou fã dele e do modelo Associação de Proteção e Assistência ao Condenado, fui à Gameleira. Uma tarde de fortes emoções que só reforçaram minha convicção de que precisamos separar criminoso de bandido e, assim, valorizar esforços para a obtenção do verdadeiro sentido do cumprimento da pena: a ressocialização.

Quando soube, no final dos anos 90, que havia uma APAC em Itaúna, fiz um programa de rádio de lá, ao vivo. Foi paixão à primeira visita, pois, é um espaço no qual quem cometeu um crime paga a pena em ambiente humano, com proximidade com a família, sem celas escuras e insalubres e castigos frequentes.

O detento tem atividades como faxinar, cozinhar, arrumar as camas, enfim, o custo para o estado é menor, considerando que os próprios internos são a maioria dos trabalhadores. Detalhe: a sociedade é chamada a participar da implantação e gestão, de diversas formas.

Desde então, sonho com o dia em que cada um dos 853 municípios mineiros terá sua APAC, para abrigar seus criminosos. É só conferir o pequeno índice de reincidências para não haver dúvidas de que funciona bem.

Os presídios, tais como conhecemos, ficariam reservados para bandidos, ou seja, assaltantes, homicidas contumazes, estupradores e traficantes. Com isso teríamos um ambiente inapropriado para o que dizem ser “escolas do crime” - alguém que cometeu um deslize convive com bárbaros e se torna um deles.

Enquanto falava sobre a importância, a magia e a sensibilidade das plantas, professor Evando presenteou as internas com orquídeas e o ambiente ficou carregado de emoção. Uma detenta, com os olhos marejados, contou que era a flor preferida da mãe dela e agora teria um motivo para se agarrar à esperança enquanto a liberdade não vem; outra lembrou que, antes de se apresentar para cumprir o mandado de prisão olhou para uma árvore no terreiro de casa e, passados cinco anos, a orquídea a ajudaria a sonhar com o dia em que vai rever a planta de seu quintal.

A APAC é uma gota d`água no deserto de nosso sistema penitenciário. Ou alguém acredita que, se tratarmos quem derrapou na vida como animalenjaulado teremos um ser humano melhor quando ele for solto?

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Antes de trabalhar no rádio, Eduardo Costa foi ascensorista e office-boy de hotel, contínuo, escriturário, caixa-executivo e procurador de banco. Formado em Jornalismo pelo UNI-BH, é pós-graduado em Valores Humanos pela Fundação Getúlio Vargas, possui o MBA Executivo na Ohio University, e é mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Agora ele também está na grande rede!

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.