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Chanceler cita filhos de Bolsonaro e diz que Trump recebe informações distorcidas

Ministro das Relações Exteriores do Brasil questionou a percepção de Trump sobre o cenário político brasileiro

Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil

O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, disse que as informações que chegam a Donald Trump sobre o cenário político brasileiro são distorcidas. Em entrevista à CNN dos Estados Unidos nesta terça-feira (23), o chanceler defendeu a independência entre os poderes e que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi transparente e justo.

Durante a entrevista, Vieira foi perguntado pela repórter Christiane Amanpour sobre a realidade das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. No decreto em que anunciou a sobretaxa de 50% às importações brasileiras, Trump disse que há um desequilíbrio desfavorável aos EUA, mas o déficit é observado nos cofres do país sul-americano há mais de uma década.

“Ele não está bem informado. Talvez a assessoria dele tenha passado os números incorretos. O Brasil nos últimos 15 anos, tem um déficit superior a U$ 400 bilhões, é algo como U$ 20 bilhões todo ano. E a tarifa média do Brasil para importar dos Estados Unidos é de 2,7%, é muito baixa”, afirmou o chanceler.

O ministro complementou em tom contemporizador que entende o fato de que o presidente americano tenha muitas ocupações. Vieira fez alusões à participação da família Bolsonaro entre as fontes de informação que abastecem Trump sobre a situação interna no Brasil.

“Trump é um homem muito ocupado por ser o presidente dos Estados Unidos e talvez ele não esteja bem informado. Eu não sei de onde ele consome as informações sobre o cenário político do Brasil, eu não sei se ele se encontrou pessoalmente com os filhos do ex-presidente (Bolsonaro) ou como essas informações chegam até ele, mas elas são distorcidas”, afirmou.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho 03 do ex-presidente, está nos Estados Unidos desde abril em auto atribuída missão para conseguir sanções contra autoridades brasileiras que, segundo o parlamentar, perseguem seu pai.

Na empreitada, Eduardo viu Trump adotar medidas individuais como a supressão de vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes e sua esposa, especificamente. Punições gerais ao Brasil, por outro lado, também foram adotadas, como o caso do tarifaço.

Na entrevista, Vieira também falou sobre a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes. O chanceler defendeu a lisura do processo e disse que a anistia debatida no Congresso será declarada inconstitucional se parlamentares insistirem em um perdão generalizado.

“O julgamento foi muito longo, há centenas de milhares de provas contra Bolsonaro, os generais e pessoas que trabalharam com ele. Todos eles foram condenados. [...] Isso está feito, porque os poderes são totalmente independentes e não há a possibilidade de interferência, nem mesmo em termos de anistia.[...] Houve grandes manifestações populares nas ruas nos últimos dias contra a anistia. Eles (parlamentares) estão discutindo, mas se eles aprovarem uma anistia muito ampla, seria inconstitucional e não seria aplicada”, concluiu.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.