Privatização da Copasa: Saiba próximos passos de projeto de Zema na Assembleia

Projeto que trata especificamente sobre a venda da companhia de saneamento começa a tramitar na Comissão de Constituição e Justiça nesta quinta-feira (13)

Galerias lotadas de servidores da Copasa durante a votação da PEC do Referendo na ALMG

Uma semana após a aprovação definitiva da derrubada da exigência de um referendo popular para a privatização da Copasa, o Projeto de Lei 4.380/2025, que trata especificamente sobre a desestatização da companhia de saneamento, começará a tramitar na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Estão marcadas para esta quinta-feira (13), três sessões da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para debater o texto de autoria do governador Romeu Zema (Novo). As múltiplas reuniões indicam a urgência da base governista para avançar com a proposta diante da promessa de obstrução feita pela oposição.

A CCJ é o primeiro estágio de tramitação do projeto na Assembleia. Vencida esta etapa, o texto ainda passará pelas comissões de Administração Pública (APU) e de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO). Nas comissões, um deputado fica responsável pela apresentação de um parecer acerca do texto original do PL e há espaço para que parlamentares apresentem requerimentos e emendas ao projeto original. Esses mecanismos são comumente utilizados como estratégia de obstrução.

A marcação de três reuniões consecutivas, às 9h, 12h e 15h de quinta-feira, indica uma estratégia da base governista para driblar a obstrução da oposição ao pautar a apreciação do texto em todas as oportunidades possíveis.

Entre as possibilidades previstas no regimento da Assembleia estão as chances de que a oposição peça vista para analisar o parecer apresentado pelo relator do projeto. Com isso, a apreciação na Comissão de Constituição e Justiça ficaria suspensa por apenas 24 horas.

Outra hipótese é a de que o parecer seja distribuído em avulso, o que anula a chance de pedido de vista, mas obriga a observância de um intervalo de seis horas entre a reunião de entrega do parecer e a sessão de avaliação e votação do documento.

Como ocorre com a maioria das comissões da Assembleia, a CCJ é composta por uma maioria governista. Entre os sete membros efetivos, cinco votaram a favor da PEC do Referendo na quarta-feira (5) passada, por exemplo. São eles: Doorgal Andrada (PRD); Zé Laviola (Novo); Bruno Engler (PL); Maria Clara Marra (PSDB); e Thiago Cota (PDT). A oposição é representada apenas por Lucas Lasmar (Rede) e Doutor Jean Freire (PT).

Oposição mira votação em ano eleitoral

Em entrevista coletiva concedida imediatamente após a aprovação da PEC do Referendo, o bloco Democracia e Luta, oposição a Zema na Assembleia, anunciou que seguiria com a estratégia de obstrução também durante a tramitação do PL específico de privatização da Copasa. Como a discussão de um projeto de lei prevê mais etapas de discussão em comissões antes da votação em plenário, os parlamentares projetam mais espaço para postergar a avaliação do texto em dois turnos.

A proximidade da virada do ano é analisada como um artifício importante pela oposição. Isso porque se o PL de privatização da Copasa invadir o ano eleitoral de 2026, o bloco contrário a Zema espera que deputados da base se sintam desconfortáveis em votar o projeto considerado impopular em suas bases de votação.

Por força do artigo 14 da Constituição de Minas Gerais, o mesmo que até o início deste mês exigia a realização de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa, a votação para a venda da empresa na Assembleia prescinde de maioria qualificada de três quintos da Casa. Para aprovar o PL 4.380/2025, portanto, são necessários votos autorizativos de 48 deputados.

Como foi a tramitação da PEC do Referendo para a Copasa

A mudança na Constituição foi aprovada em primeiro turno em uma reunião longa e conturbada no plenário. Marcada para as 18h da última quinta-feira (23) a votação foi estendida madrugada adentro e durou até as 04h30 da madrugada, quando 52 deputados governistas superaram a marca dos 48 votos exigidos para a aprovação da PEC.

Na semana passada, diante da obstrução da oposição, o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB) marcou reuniões para 0h01, 06h e 12h da sexta-feira.

A empreitada pela privatização da Copasa, além da PEC 24/2023, inclui o Projeto de Lei (PL)4380/2025, que versa especificamente sobre a venda da companhia em si. O texto ainda está em sua primeira etapa de tramitação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Antes de ser votada em primeiro turno no plenário, a proposta ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU); e Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO).

No segundo turno, a chamada PEC do Referendo foi aprovada pela conta mínima de 48 votos favoráveis contra 22 contrários na tarde de quarta-feira. A sessão durou mais de sete horas e foi marcada por situações inusitadas como a inversão de papéis entre base e oposição no momento de obstrução da pauta; uma troca de empurrões entre deputados; e com a validade do voto definitivo para a aprovação do texto feita através de análises das câmeras da Assembleia.

Copasa no Propag

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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