Ouvindo...

‘Privatização da Cemig não está nem estará em discussão’, diz presidente da ALMG

Tadeu Martins Leite (MDB) garantiu que, apesar de avanço da pauta de venda da Copasa, privatização da companhia energética não entra em debate na Assembleia

Em entrevista à Itatiaia, Tadeuzinho garantiu que privatização da Cemig não entrará em debate na Assembleia

O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Tadeu Martins Leite (MDB), garantiu que a privatização da Cemig não será debatida na Casa seja pela retirada da exigência do referendo popular ou com um projeto específico pela venda da companhia energética. A declaração foi feita na manhã desta quinta-feira (30) no Jornal da Itatiaia.

“O governo do estado mandou para a Assembleia o pedido de privatização da Cemig e da Copasa para fazer exatamente o pagamento dessas obrigações. Primeira coisa eu quero aqui avisar é que a Cemig não está em discussão e não será discutida na Assembleia, seja da retirada do referendo ou da privatização”, afirmou o deputado.

A privatização das companhias energética e de saneamento integram a pauta do governador Romeu Zema (Novo) desde seu primeiro mandato, iniciado em 2019. As agendas, no entanto, nunca avançaram na Assembleia.

Com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), a pauta privatista do Executivo Estadual ganhou novo fôlego após anos parada na Assembleia. Como o projeto regulamentado pelo governo federal em abril deste ano prevê a federalização ou venda de estatais para abater o débito com a União— hoje orçado em R$ 170 bilhões— a agenda de privatizações avançou entre os deputados mineiros.

A Cemig e o referendo

Desde 2001, a Constituição de Minas Gerais prevê a exigência de uma consulta popular aos eleitores mineiros para autorizar a privatização das companhias estatais de saneamento, energia elétrica e gás natural. O trecho foi incluído nas leis do estado em 2001 em um projeto do então governador Itamar Franco e aprovado por unanimidade pela Assembleia.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023 foi enviada à Assembleia pelo governador Romeu Zema há dois anos para derrubar a exigência da consulta. O projeto ficou parado na Casa por mais de um ano, mas passou a tramitar na esteira do Propag.

Após negociações com a oposição e a presidência da Casa, a chamada PEC do Referendo foi desidratada e Cemig e Gasmig, estatais de energia e gás natural, foram retiradas do texto. Restou apenas a derrubada da consulta popular para a venda da Copasa.

A votação da PEC em primeiro turno aconteceu de forma polêmica com uma vitória da base governista por 52 a 18 realizada por volta das 4h30 de sexta-feira (24). A reunião extraordinária marcada para 0h01 foi a primeira sessão definida para a madrugada neste século na Assembleia.

Inclusão da Gasmig acendeu alerta da oposição

Na última terça-feira (28), um movimento da base governista na Assembleia acendeu o alerta da oposição ao governador Romeu Zema na Casa para o risco da Cemig entrar novamente na agenda privatista.

Durante a manhã, em reunião da comissão especial de análise da PEC do Referendo, o deputado Gustavo Valadares (PSD), relator do texto, incluiu a Gasmig em seu parecer. A medida foi recebida com surpresa pelos oposicionistas e pelos servidores da Copasa presentes na Assembleia para protestar pela manutenção do referendo.

O debate na comissão especial foi retomado no fim da tarde do mesmo dia quando, cerca de sete horas após a inclusão da Gasmig na PEC, a própria base do governo voltou atrás e decidiu pela retirada da companhia do projeto.

O vai e volta envolvendo a companhia de gás natural foi lido pela oposição como uma sinalização de que o governo não hesita em ampliar sua agenda de privatizações e que a venda da Cemig pode voltar à pauta.

À Itatiaia, Tadeuzinho analisou como legítima a divergência dos parlamentares acerca da pauta privatista, mas garantiu que a Assembleia terá sua agenda focada apenas nos debates relativos ao Propag.

“Existem alguns parlamentares que defendem a inclusão de outras empresas nessa discussão. O que ficou definido e decidido, não só por mim, mas obviamente pelos líderes e pelos deputados da Casa, é que a Assembleia só irá discutir o que envolve diretamente a questão do Propag. Tudo além do que envolve o Propag não será discutido na Assembleia neste momento. O que é necessário para pagar as obrigações do Propag é a Copasa, então, Gasmig, Cemig e outras discussões a mais não entram na pauta”, declarou.

As estatais no Propag

A privatização de Cemig e Copasa já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Propag. Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.Servidores lotam a Assembleia contra a privatização da Copasa

Criado a partir de negociações entre deputados estaduais capitaneados pelo presidente da Assembleia, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o governo federal, o Propag nasceu como uma alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). O projeto foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024, sancionado por Lula e regulamentado em abril deste ano.

Leia também

Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.
Eustáquio Ramos é repórter e apresentador da Itatiaia
Kátia Pereira é jornalista formada pelo Uni-BH e tem especialização em História e Cultura Política pela UFMG. Está na Itatiaia desde 2002. Desde 2005 é titular do Jornal da Itatiaia 1ª Edição. Também apresenta o Jornal da Itatiaia Tarde, é editora e apresentadora do Palavra Aberta e apresenta conteúdo no canal da Itatiaia no Youtube. Recebeu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Âncora de Rádio. Tem passagens por Record TV Minas, Super Notícias/O Tempo e assessoria na Assembleia Legislativa
Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.