AMM propõe que municípios possam encerrar contrato com a Copasa em caso de privatização

Associação Mineira de Municípios apresentou uma emenda ao projeto de privatização da companhia para permitir que cidades possam assinar vínculos com outras empresas de saneamento

Wederson Advincula Siqueira, consultor jurídico da AMM, durante audiência pública na Assembleia sobre impacto da privatização da Copasa nos municípios

A Associação Mineira de Municípios (AMM) espera incluir no Projeto de Lei 4.380/2025, que prevê a privatização da Copasa, uma emenda que permita que as cidades interrompam seus contratos com a companhia em caso de aprovação da venda. O texto foi apresentado diretamente ao presidente da Assembleia Legislativa (ALMG), Tadeu Martins Leite (MDB), e sua apreciação em plenário será definida em reunião de líderes da Casa prevista para a tarde desta segunda-feira (15).

Em entrevista à Itatiaia nesta segunda-feira, o consultor jurídico da AMM, Wederson Advincula Siqueira, explicou o escopo da emenda apresentada pela associação. Segundo ele, a ideia é evitar interpretações dúbias da legislação vigente e garantir a segurança jurídica ao processo de privatização.

“A lei 14026/2020 ( Marco Legal do Saneamento Básico) estabelece uma regra de transição, mas há lacunas nela. O objetivo dessa emenda trazida ao processo é dar mais segurança jurídica aos municípios, inclusive deixando claro, uma coisa óbvia: o município que não quiser o contrato com a Copasa está livre para encerrar o seu o contrato e, inclusive, pode fazer uma nova licitação, uma concessão com uma outra empresa”, destacou Siqueira.

O objetivo da AMM é que a emenda seja aceita pelas lideranças da Assembleia e incluída na votação do PL de privatização da Copasa durante a discussão do texto em plenário. A previsão é de que a votação em segundo turno aconteça na próxima quarta-feira (17).

Nas últimas semanas, a AMM entrou de forma incisiva no debate sobre a privatização da Copasa. Em entrevistas e discursos, o prefeito de Patos de Minas e presidente da associação, Luís Eduardo Falcão (sem partido), disse reiteradamente que os municípios não foram convidados a participar do debate acerca da venda da companhia.

Na mesma toada, Siqueira ainda destacou que a AMM quer, além da emenda pensada para dar segurança aos contratos, debater um planejamento mais amplo sobre o saneamento em Minas Gerais.

“A AMM quer dar garantia a esses contratos, independentemente do processo de privatização. Além disso, a grande discussão que a AMM também coloca é: ‘qual é o plano de Minas Gerais para o saneamento básico?’. Independente se a empresa é privada ou pública, não se tem em Minas Gerais um plano estadual de saneamento com metas, com procedimentos que serão empreendidos”, complementou.

Conforme determinado na Constituição de Minas Gerais, para aprovar um projeto de privatização de uma companhia de saneamento são necessários votos de três quintos da Casa — 48 dos 77 deputados, portanto. No primeiro turno, o projeto foi aprovado com 50 votos.

A Copasa no Propag

O PL 4.380/2025 teve sua tramitação precedida por uma atribulada discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, também de autoria de Zema, que derrubou a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa.

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados, incluindo os imóveis do estado.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido. Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado. A venda da Copasa é defendida como forma de obter recursos para fazer tais investimentos no primeiro ano de adesão ao Propag.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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