AMM critica privatização da Copasa: ‘Governo não procurou e não ouviu os municípios’

Luís Eduardo Falcão, presidente da Associação Mineira de Municípios, disse que processo avançou de forma acelerada e quer ampliar o debate sobre futuro da companhia de saneamento

Luís Eduardo Falcão, presidente da AMM, durante apresentação de uma pesquisa da associação nesta sexta-feira (5)

O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Luís Eduardo Falcão (sem partido) voltou a manifestar preocupação com processo de privatização da Copasa. Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (5), ele disse que o Governo de Minas não procurou a associação que reúne 837 das 853 cidades do estado e que as prefeituras pretendem apresentar alterações ao texto que tramita na Assembleia Legislativa (ALMG).

Falcão anunciou que a AMM apresentará emendas ao Projeto de Lei (PL) 4.380/2025, em que o governador Romeu Zema (Novo) propõe a venda da companhia, durante a discussão do texto em plenário no segundo turno. Atualmente a proposta está em debate na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO), última etapa antes da votação definitiva.

“O governo não nos procurou, não ouviu os municípios [...] O que foi discutido aqui em alguns momentos foi uma mobilização dos prefeitos, porque eu acho que não cabe a um prefeito o papel de manifestante.Temos que respeitar o papel da Assembleia de votar ou não. Nós estamos entrando com as emendas no momento em que nós temos a prerrogativa para fazer isso. Como eu disse, a discussão foi muito apressada e talvez até de propósito, para que realmente a discussão avance com maior facilidade”, afirmou Falcão.

Falcão não detalhou o teor das emendas, que serão enviadas diretamente ao presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB). O presidente da AMM ainda afirmou que a associação pretende ouvir mais prefeitos e vereadores para construir as propostas de alteração do projeto.

Prefeito de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, Falcão também comparou o processo de privatização da Copasa com o da Sabesp, companhia de saneamento paulista concedida à iniciativa privada em 2024. Ele argumenta que o processo mineiro acontece de forma mais acelerada e manifestou preocupação com o impacto da venda da estatal mineira nos pequenos municípios do estado.

“Se a privatização for bem feita, pode significar a melhoria do serviço perfeitamente. Desde que em um estado com 853 municípios e mais de 600 deles com o Copasa, você faça o subsídio cruzado, porque mais de 90% dos municípios são deficitários, eles dão prejuízo para Copasa ou para qualquer outra empresa que vá assumir o serviço. [...] Quando a gente compara o processo da Sabesp com o que está sendo feito aqui em Minas Gerais, a gente percebe que aqui em Minas está muito apressado, um pouco atropelado e é um direito dos municípios querer que as suas prerrogativas sejam respeitadas”, declarou o prefeito.

A privatização da Copasa

O PL 4.380/2025 teve sua tramitação precedida por uma atribulada discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, também de autoria de Zema, que derrubou a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa.

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados, incluindo os imóveis do estado.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido. Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado. A venda da Copasa é defendida como forma de obter recursos para fazer tais investimentos no primeiro ano de adesão ao Propag.

Leia também

Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

Ouvindo...