Liderança do PL diz que Câmara decidir sobre dosimetria é ‘absolutamente ilegal’

Domingos Sávio afirma que ideia de transformar ‘PL da anistia’ em ‘PL da dosimetria’ é inconstitucional

Presidente do PL em Minas, deputado Domingos Sávio em ato bolsonarista na Avenida Paulista, em São Paulo

Presidente do Partido Liberal (PL) em Minas Gerais, o deputado federal Domingos Sávio se manifestou de forma contrária à ideia de transformar o Projeto de Lei (PL) 2162/2023, um dos textos defendidos como o ‘PL da anistia’, no PL da dosimetria. O movimento de suavização do texto é arquitetado pelo relator da proposta e preconiza uma revisão das sanções aos condenados por atos antidemocráticos em detrimento do perdão total das penas.

Na quarta-feira (17), os deputados federais aprovaram a adoção do regime de urgência para o PL da anistia. Com a medida, o texto pode ser apreciado em plenário sem passar antes pelas comissões permanentes da Câmara.

No dia seguinte à votação comemorada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB) designou Paulinho da Força (Solidariedade-SP) como o relator do projeto. A escolha sinalizou que o texto a ser enviado para votação seria uma versão amenizada da reivindicação bolsonarista por perdão amplo e irrestrito aos condenados.

Articulação pelo ‘PL da dosimetria’

A escolha de Paulinho da Força como relator do projeto pode ser considerada um esforço de Hugo Motta para balancear o relacionamento da Câmara com os demais poderes. Na véspera da votação da urgência do PL da anistia, os deputados aprovaram em dois turnos Proposta de Emenda à Constituição 3/2021, apelidada de ‘PEC da Blindagem’, prevendo que um deputado ou senador só possa ser processado com autorização prévia das casas.

Paulinho da Força é próximo ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso que condenou Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão e alvo preferencial de movimentos bolsonaristas. Imediatamente após ser designado relator do PL da anistia, o parlamentar já afirmou que construiria um parecer que não agradaria extremos à esquerda ou à direita.

O relator do projeto terminou a mesma quinta (18) em que foi designado relator, em uma reunião com o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e Michel Temer (MDB-SP), na casa do ex-presidente. O encontro terminou com a divulgação da ideia do ‘PL da dosimetria’.

O novo nome sugerido faz referência ao processo jurídico de fixação de penas de acordo com o crime cometido e as situações específicas do condenado. Como PL da dosimetria, o texto não deve absolver os condenados, mas determinar a redução das penas a eles atribuídas.

STF como fiel da balança

A prerrogativa de estabelecer a dosimetria das penas é o ponto central da argumentação de Domingos Sávio. À Itatiaia, o parlamentar que integra os quadros do bolsonarismo mineiro afirmou que a ideia articulada entre Aécio, Paulinho da Força e Temer seria considerada inconstitucional pela Suprema Corte.

“A anistia é absolutamente legal e constitucional , alterar pena ou fazer dosimetria de pena do que já está julgado é inconstitucional e fatalmente seria derrubado pelo STF . Defendo a anistia plena. O que considero que seria possível discutir é que os crimes de depredação de patrimônio não sejam considerados prescritos com a anistia e o MP poderá, ‘tendo provas’, acionar de forma individual , na instância devida, aqueles que depredaram o patrimônio público”, disse o deputado.

Do outro lado, a adoção de uma visão mais branda do PL da anistia é defendida por Paulinho da Força justamente como uma forma de se manter dentro do entendimento da constitucionalidade. O parlamentar afirma que o STF já deu sinais de que não aceitaria uma anistia ampla e irrestrita e, portanto, votá-la no Congresso Nacional seria um desperdício.

Bolsonaristas insatisfeitos

A declaração de Domingos Sávio faz eco às reclamações bolsonaristas com a sinalização de que a Câmara dos Deputados votará uma versão ‘light’ da anistia. Isso porque o objetivo central para o núcleo duro de apoiadores do ex-presidente era não apenas pleitear o perdão aos milhares de condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, mas estender a medida a Jair Bolsonaro.

O ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses de prisão em 11 de setembro. A primeira turma do STF o considerou culpado pelos crimes de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e ameaça grave; e deterioração de patrimônio tombado.

A opção por votar apenas a possível redução de penas manteria a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Além de ter tido os direitos políticos suspensos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em duas decisões de 2023, a condenação criminal afasta Bolsonaro das urnas por ao menos oito anos além da pena estabelecida, conforme o que dita a Lei da Ficha Limpa nos parâmetros atuais.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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