Indústria questiona projeto de logística reversa em tramitação na Câmara de BH

Setor industrial argumenta que projeto de caráter ambiental inviabiliza atuação do setor na cidade; autor do texto disse que diálogo está aberto para adequações

Projeto para favorecer reciclagem e retorno de resíduos à cadeia produtiva está em debate na Câmara Municipal de Belo Horizonte

O Projeto de Lei (PL) 533/2025, em tramitação na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), causou preocupação no setor de indústria de alimentos e bebidas. O texto de autoria do vereador Helton Júnior (PSD) trata sobre a criação de uma política pública específica de logística reversa para a capital mineira e ligou o alerta no setor empresarial por prever uma exigência na alteração nas embalagens dos produtos.

A ideia do projeto é estabelecer medidas para viabilizar ações de coleta e restituição de resíduos sólidos de volta à cadeia produtiva ou o descarte adequado de materiais que podem ser reciclados. As ações incluem iniciativas de fortalecimento de cooperativas de catadores.

O parágrafo 1º do artigo 5º do projeto determina que empresas não sediadas e sem filial em BH devam comprovar nas embalagens de seus produtos que possuem um sistema de logística reversa próprio ou integrem um mecanismo coletivo.

A argumentação do segundo setor é de que tal exigência inviabilizaria a produção por exigir a manufatura de embalagens e rótulos específicos para a comercialização de seu produto em Belo Horizonte.

Winicius Segantine Dantas, presidente da Câmara da Indústria de Alimentos e Bebidas da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), defende que seja seguida a legislação federal sobre a política de logística reversa como forma de uniformizar as estratégias para o setor empresarial

“Existe uma lei federal e uma estadual para isso. Um projeto municipal seria uma redundância legislativa, uma duplicidade regulatória. O projeto da Câmara não tem nenhum estudo de impacto. Por exemplo: quem é que vai mandar para Belo Horizonte um refrigerante de produção em larga escala com uma especificidade de rótulo? Ninguém vai atender a essa demanda. Isso dificulta a execução do próprio projeto, da própria lei”, disse Dantas.

Autor do projeto, Helton Junior disse que o projeto ainda está em fase de debates e que o texto pode ser aperfeiçoado durante sua tramitação na Câmara Municipal. O PL 533/2025 foi aprovado na Comissão de Legislação e Justiça e atualmente está em discussão na Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana.

Estamos em uma construção pensando em resolver um problema muito importante da cidade que é a deposição irregular de resíduos sólidos. A logística reversa é um meio para chegar até um fim. O projeto está começando a tramitar agora e a gente quer incluir o máximo de categorias possíveis para que a gente chegue no meio-termo. Obviamente, cada setor tem a sua responsabilidade. Essa medida já funciona também em alguns setores econômicos da cidade, como o polo de indústria de moda e não necessariamente acarretou um atraso de produção. Vamos ouvir todos os setores para poder chegar num consenso”, disse o vereador à Itatiaia.

Dentro da Câmara de BH, há representações que acompanham a linha argumentativa dos industriais. A vereadora Marcela Trópia (Novo) avalia que o projeto amplia a burocracia na capital mineira e afeta a capacidade competitiva de empresas que atuam na cidade.

“Esse projeto cria uma nova camada de custos e obrigações para comerciantes e prestadores de serviços de vários segmentos em BH. Na prática, ele transfere para o pequeno e médio empresário a responsabilidade operacional e financeira de um sistema complexo, que deveria ser debatido pelo próprio poder público em parceria com a iniciativa privada. É uma proposta que amplia burocracias, impõe despesas e afeta diretamente a competitividade de quem gera emprego na cidade. Belo Horizonte precisa de um ambiente de negócios mais leve e eficiente, e não de novas exigências que dificultam a atividade econômica”, afirmou a parlamentar.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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