Copasa e Codemig: entenda divergência entre base e oposição na ALMG sobre ativos do estado

Bloco opositor diz que apenas a Codemig já garantiria abatimento exigido pelo Propag; governo afirma que, além dos 20%, Estado precisa cumprir metas de investimento — que seriam cumpridas com a venda da Copasa

Assembleia Legislativa de Minas Gerais

A divulgação do valor da Codemig — estimada em R$ 33,36 bilhões pelo corpo técnico da empresa — colocou mais combustível na disputa entre base e oposição na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em meio às discussões dos projetos de lei que tratam da adesão do estado ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) - entre eles o da privatização da Copasa.

O principal ponto de divergência é se a federalização da Codemig é suficiente para cumprir as exigências do Propag ou se o Estado precisa vender outros ativos - como a Copasa - para conseguir reduzir os juros, aplicando o valor necessário previsto no programa federal e cumprindo as contrapartidas de investimento necessárias no processo de adesão.

Dentro do Propag, o abatimento de 20% do estoque da dívida representa a possibilidade de parcelar o pagamento do débito em até 30 anos com a redução de dois pontos percentuais dos juros. A cobrança adicional hoje é calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Há, no entanto, a possibilidade de reduzir mais os encargos, caso cumpridas outras contrapartidas.

Para chegar a este percentual, o governo Zema elaborou uma lista de ativos que serão oferecidos ao governo federal para abater o valor e reduzir o estoque da dívida, uma vez que a cessão dos bens do estado precisa de autorização legislativa. Durante a semana, o projeto de lei que autoriza o governo de Minas a transferir imóveis do Estado para a União avançou na Casa, após receber parecer favorável da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO).

Leia também

A oposição tem se manifestado contra o projeto por acreditar que apenas o valor levantado da Codemig - equivalente a cerca de 19% do estoque da dívida de R$ 175 bilhões de Minas Gerais com a União - é praticamente suficiente para chegar aos 20%, o que retiraria a necessidade da cessão de mais bens à União, entre eles a Copasa.

“O projeto é danoso, danoso e desnecessário, porque após a divulgação do valor da CODEMIG, a gente sabe que não precisa entregar nenhum patrimônio a mais do estado de Minas Gerais para iniciativa privada. O Propag poderia se resolver apenas com a federalização da CODEMIG, que precisa ser negociada com o governo federal, considerando inclusive o caráter estratégico desses minérios hoje para a soberania nacional”, pontuou a deputada Bella Gonçalves (PSOL).

O que diz a base?

A avaliação de deputados da base do governo Zema é que, apesar do alto valor levantado na Codemig, o Propag ainda estabelece exigências distintas. Além do abatimento no valor devido, o programa federal ainda tem como contrapartida o cumprimento de metas anuais de investimento para reduzir ou zerar os juros reais sobre o saldo remanescente da dívida.

Para o deputado Gustavo Valadares (PSD), a Codemig pode até permitir alcançar os 20%, mas não resolve a necessidade de novos aportes, o que justificaria a privatização da Copasa.

“O Estado, além de atingir os 20% que poderia ou poderá atingir com a Codemig, ainda precisa de dinheiro para investimento para diminuir os juros cobrados do restante do valor que permanecerá como dívida do Estado para com a União. Nós não vamos conseguir abater o 100% do valor. Nós estamos lutando para chegar aos 20%. Se chegarmos aos 20% de uma dívida de hoje 180 bi, ainda vão restar mais de 100 bilhões para que sejam parcelados ao longo dos próximos 30 anos”, explica.

Além disso, a base governista defende a privatização da Copasa como uma forma de melhorar o serviço prestado pela empresa e ajudar a cumprir o Marco Legal do Saneamento, que estipula metas para que seja alcançada a universalização dos serviços de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgoto, até 2033.

“A Copasa sob gestão estadual não vai conseguir atingir a universalização até 2033. Vamos utilizar os recursos da venda para investimentos em infraestrutura e para abater nos juros da dívida com a União”.

Cálculos do Propag

O Propag permite que Estados renegociem suas dívidas, desde que cumpram combinações de:

  • amortização extraordinária (pagamento imediato),
  • investimentos anuais,
  • aportes em um fundo de equalização.

Essas combinações definem qual será o juro real aplicado ao saldo: 0%, 1% ou 2%, além do IPCA. O documento técnico que acompanha o programa prevê, por exemplo, para juros reais de 0%:

  • 20% de amortização + 1% de investimentos + 1% de aporte;
  • ou 10% de amortização + 1,5% de investimentos + 1,5% de aporte;
  • ou 0% de amortização + 2% de investimentos + 2% de aporte.

Sendo assim, mesmo sem amortização, o Estado continuaria obrigado a realizar investimentos, ponto usado pela base para afirmar que a Codemig, embora suficiente para abater o principal, não supriria as exigências adicionais.

Para a oposição, porém, o caminho é o que inclui a federalização da Codemig, sem entrega de novos ativos e sem privatização da Copasa.

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.

Ouvindo...