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Tema central da política mineira em 2025, debate sobre Propag avança sobre ano eleitoral

Com extensão dos prazos do programa de refinanciamento da dívida do estado com a União, tema seguirá em alta em 2026

Propag foi um dos principais focos da política mineira em 2025 e cenário persistirá no próximo ano

O termo do ano na Assembleia Legislativa de Minas Gerais é “Propag”. A sigla para o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados foi repetida à exaustão na Casa desde que, em maio, o Governo de Minas protocolou mais de uma dezena de projetos para preparar a adesão ao plano de refinanciamento do débito de cerca de R$ 170 bilhões junto à União. Uma decisão recente do governo federal indica que o debate não vai ficar restrito a 2025 e vai invadir a pauta do ano eleitoral.

Durante audiência pública na Assembleia na última quarta-feira (29), a secretária de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), Sílvia Listgarten, anunciou que a adesão de Minas Gerais ao Propag deve acontecer nos próximos dias. Se se concretizar, a medida acontecerá enquanto os deputados estaduais ainda debatem os últimos projetos de privatizações e federalizações de ativos estatais que serão usados para abater a dívida com a União no âmbito do programa de refinanciamento.

O entendimento do comando da Assembleia é que, diante do decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 7 de outubro, aderir ao Propag permitirá começar a pagar imediatamente as parcelas da dívida (refinanciada em 30 anos) já sem os juros cobrados além da inflação. A continuidade das negociações em 2026, porém, devem garantir que o assunto continue em alta em concomitância com as movimentações eleitorais.

Decreto joga a negociação para o ano eleitoral

Os prazos do Propag, inicialmente, determinavam que os estados deveriam aderir ao programa até 31 de dezembro deste ano e precisariam apresentar ao governo federal uma lista de ativos que pretendia federalizar até 31 de outubro. A determinação do valor dos bens deveria ser feita exclusivamente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O decreto de outubro mantém o prazo de adesão ao programa até o fim deste ano, mas permite que a inclusão de ativos e a negociação sobre seu valor para federalização e abatimento do estoque da dívida se dê até dezembro de 2026. Além disso, permitiu que instituições financeiras independentes façam a avaliação das empresas.

A medida motivou a suspensão temporária das atividades de plenário na Assembleia até que os deputados e corpo técnico da Casa entendessem os efeitos do decreto. A suspensão durou uma semana até que os trabalhos voltassem a todo vapor com direito à aprovação em primeiro turno de uma proposta de emenda à Constituição que derruba a exigência de um referendo popular para a privatização da Copasa às 4h30 da madrugada da sexta-feira (24).

A Itatiaia apurou que o entendimento da Assembleia após o decreto é de que, ao aderir ao Propag imediatamente, o estado já pode começar a pagar as parcelas da dívida com o efeito dos mecanismos de redução dos juros. O estado pode apresentar sua avaliação dos ativos que serão envolvidos na transação e se adequar à condição de amortização de 20% do estoque devido (cerca de R$ 34 bilhões no caso de Minas).

O que resta em suspensão é saber se a avaliação do governo federal, a ser apresentada durante 2026, será condizente com os valores apresentados pelo estado. No caso do valor não ser suficiente para atingir a marca que permite a redução de juros, Minas precisará se adequar para chegar aos 20% exigidos ou pagar retroativamente pela supressão anterior de juros.

Essa situação é empregada pelo Governo de Minas como justificativa para ter a maior quantidade possível de ativos autorizados para venda ou federalização pela Assembleia. Quanto mais bens na negociação, maior seria a margem para atingir o valor exigido de amortização do estoque da dívida no Propag, na lógica do Executivo Estadual.

O cenário que se apresenta, portanto, é de que o ano de 2026, mesmo que a Assembleia esgote neste ano todos os projetos relacionados ao Propag, ainda será de negociações. As tratativas neste caso se darão entre a Cidade Administrativa e o Palácio do Planalto em pleno ano eleitoral e envolve figuras que terão embates nas urnas como o governador mineiro Romeu Zema (Novo) e o presidente Lula, rivais a nível nacional.

Além disso, em nível estadual, o tema ainda em voga deixará no ar o debate sobre a paternidade do Propag. Essa discussão envolve o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB) e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cotado como candidato ao Governo de Minas com apoio de Lula. Simões, que será em 2026 o governador titular em busca da reeleição, pode também se apresentar como o responsável por ter conduzido a adesão do estado ao programa de refinanciamento.

Entenda o Propag

O Propag surgiu de negociações entre Tadeu Martins Leite, deputados da oposição na Casa, o governo federal e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O contexto para as tratativas foi a insistência do governador Romeu Zema (Novo) em aprovar o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) como forma de adequar os cofres do estado ao pagamento da dívida.

Como alternativa às medidas de austeridade do RRF — que não previam o pagamento da dívida em si — o Propag foi formulado como um plano de refinanciamento do débito em 30 anos que traria mecanismos para a redução dos juros cobrados sobre as parcelas pagas, hoje fixados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que determina a inflação, acrescido por 4% do estoque devido ao ano.

O Propag foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024 e regulamentado pelo governo federal em abril deste ano. Entre os mecanismos para reduzir os juros se incluem: a contribuição para um Fundo de Equalização Federativa (FEF), instrumento para distribuir recursos entre os estados que não devem à União e não lesá-los com a criação do programa de refinanciamento; e o reinvestimento da economia relativa à supressão de um ponto percentual dos juros em infraestrutura, segurança pública, educação profissionalizante e outros serviços sociais.

Além deses, o mecanismo que mais movimenta a política mineira é o que prevê a federalização ou privatização de ativos para abatimento de ao menos 20% do estoque devido. Se os estados conseguirem amortizar esta quantia do débito, dois pontos percentuais são retirados do indexador de juros.

Se um estado se adequar a todos os mecanismos citados, portanto, ele pode dividir o pagamento da dívida em 30 anos sem aumento real do valor do estoque, que será corrigido apenas pela inflação.

Para conseguir amortizar os 20% da dívida, o governo Zema ressuscitou projetos há muito escanteados na Assembleia, como as privatizações de Cemig e Copasa (sendo que apenas a votação da segunda caminhou na Casa). Uma lista com centenas de imóveis para privatização também foi apresentada aos deputados federais.

Além dos projetos dos imóveis e das estatais, o Executivo Estadual já conseguiu aprovar a federalização da Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado (Codemig) e o repasse de créditos da dívida ativa e da diferença na contribuição previdenciária.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.
Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.