O governo da Argentina informou, na noite de quarta-feira (20), que não recebeu até o momento nenhum pedido formal de asilo político do ex-presidente Jair Bolsonaro. A declaração foi publicada pelo portal G1 após questionamento à Casa Rosada sobre a existência do documento que,
segundo a Polícia Federal (PF), foi encontrado no celular de Bolsonaro. O destinatário seria o atual presidente argentino, Javier Milei, um dos principais aliados internacionais do ex-mandatário brasileiro.
De acordo com relatório da PF, Bolsonaro mantinha em seu telefone um arquivo de 33 páginas com o pedido de asilo. O documento, salvo em fevereiro de 2024, dois dias após a operação que resultou na entrega de seu passaporte, alegava perseguição política no Brasil. A investigação aponta que o material indica uma tentativa de viabilizar a saída do país e evitar a aplicação da lei penal.
O relatório também fundamentou o
indiciamento de Jair Bolsonaro e de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), por suspeita de coação e obstrução da Justiça no processo que apura uma trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo os investigadores, diálogos extraídos do celular reforçam a intenção de intimidar autoridades brasileiras. Em uma das mensagens, Eduardo sugere a necessidade de “brecar o STF” e questiona se não seria melhor “resgatar a democracia” por meio de pressão política.
Além dos Bolsonaro,
o pastor Silas Malafaia também foi alvo da operação. Ele teve passaporte retido e materiais apreendidos após retornar de Lisboa. As diligências, autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, integram um inquérito aberto em maio a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que identificou tentativas de articulação junto a autoridades estrangeiras para pressionar o STF. A PF afirma que os indiciados buscavam, na verdade, garantir a própria impunidade.
Os investigadores destacam ainda que o documento de asilo foi criado por um usuário identificado como “Fernanda Bolsonaro”, possivelmente ligado à nora do ex-presidente. O relatório conclui que Bolsonaro tinha preparado meios para fugir do país, especialmente após a intensificação das apurações sobre os crimes de organização criminosa, tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito.
Agora, caberá ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, avaliar se apresenta denúncia formal contra Jair e Eduardo Bolsonaro ao STF.