Federalização da MGI avança em sessão marcada por polêmicas da Operação Rejeito

Comissão da Assembleia aprova novo projeto associado ao Propag; sessão foi marcada por repercussão da investigação de fraudes no licenciamento ambiental a mineradoras

Dr. Jean Freire (PT) e Lucas Lasmar (Rede) repercutiram a Operação Rejeito durante a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desta quinta-feira (18)

A federalização da Minas Gerais Participações (MGI) avançou na Assembleia Legislativa (ALMG) nesta quinta-feira (18). O Projeto de Lei 4222/2025, enviado pelo governo estadual, trata do repasse da estatal ao governo federal como forma de abatimento da dívida mineira com a União e foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. A reunião foi marcada pela tentativa de obstrução da oposição, feita a partir da repercussão da operação da Polícia Federal (PF) que, na véspera, prendeu integrantes do governo estadual suspeitos de receber propinas para ceder licenciamento ambiental para mineradoras atuarem na Região Metropolitana de BH.

A discussão do projeto durou cerca de duas horas, utilizadas pelos deputados da oposição que integram a CCJ para postergar a votação do texto. Dr. Jean Freire (PT) e Lucas Lasmar (Rede) apresentaram requerimentos petra retirar o PL de pauta e para adiar a reunião, mas os recursos foram negados pelos demais integrantes da comissão: Doorgal Andrada (PRD), Zé Laviola (Novo), João Magalhães (MDB) e Antônio Carlos Arantes (PL).

Durante a tentativa de obstrução da pauta, os deputados da oposição fizeram a leitura de reportagens e dos documentos da Operação Rejeito para questionar setores da fiscalização ambiental do Executivo Estadual. O governador Romeu Zema (Novo) e o vice, Mateus Simões (Novo), também foram lembrados e tiveram seu silêncio sobre o caso criticado.

Na quarta-feira (17), a PF cumpriu mais de uma centena de mandados, incluindo a prisão de suspeitos de operar uma organização criminosa que, entre outros delitos, fraudava licenciamento ambiental para mineradoras por meio de pagamento de propina a diretores de órgãos fiscalizadores.

A rede de contatos para viabilizar as fraudes tinha influência na Agência Nacional de Mineração (ANM); na Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam); no Instituto Estadual de Florestas (IEF); e no Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam).

Durante a votação do projeto da MGI na CCJ, Lasmar e Freire fizeram longos discursos com ataques a Zema e associaram a postura privatista do Executivo ao escândalo ambiental. “O governo quer vender tudo e até mesmo licenças ambientais”, disse Lucas Lasmar.

Integrante da comissão e líder governista na Assembleia, João Magalhães respondeu às críticas feitas ao Executivo Estadual ao recordar que a Operação Rejeito também prendeu diretores da ANM, agência da instância federal.

“Omitiram uma operação muito importante: havia três servidores da ANM, do governo federal. Será que estavam fazendo a mesma coisa? Vendendo licenciamento para financiar a campanha do Lula?”, perguntou o deputado aos oposicionistas.

A oposição na Assembleia é refratária aos projetos de alienação de bens estatais no âmbito do Propag. Diante da rejeição dos requerimentos apresentados pelo adiamento da decisão acerca do projeto, Lucas Lasmar e Jean Freire se retiraram da sessão. O projeto foi aprovado apenas com o voto dos membros de blocos governistas.

O ingresso da MGI no Propag

Como efeito prático, a aprovação do projeto de federalização da MGI na CCJ libera o texto para os próximos passos da tramitação dentro da Assembleia. Antes de ir a plenário em primeiro turno, a proposta de autoria de Zema ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU) e de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO).

Repassar a empresa para o governo federal faz parte do pacote de medidas para ingresso de Minas no Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). O projeto prevê que estados em débito com a União possam dividir o pagamento em até 30 anos e com medidas de redução dos juros, hoje fixados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano.

Com privatizações e federalizações de ativos estatais, o governo mineiro trabalha para abater 20% do estoque da dívida, hoje orçada em R$ 170 bilhões, para conseguir reduzir dois pontos percentuais de juros. Para isso, é preciso obter uma autorização dos deputados estaduais.

Outros mecanismos aos quais o estado pretende se adequar permitem que a cobrança adicional se limite apenas ao índice inflacionário. A adesão ao Propag deve ser feita junto ao governo federal até o fim deste ano.

A MGI gere participações do governo em empresas e administra o patrimônio estatal. A participação acionária da organização em companhias como a Cemig geraram um lucro de cerca de R$ 250 milhões no ano passado.

O projeto de lei para a federalização da MGI foi o último a ser apresentado por Zema na Assembleia, protocolado já em agosto. A Casa já aprovou a federalização da Codemig e Codemge e se prepara para votar uma proposta de emenda à constituição (PEC) que viabiliza a votação apenas na Assembleia para decidir sobre a privatização da Copasa. A lei mineira vigente determina que a companhia de saneamento só pode ser vendida mediante aprovação em referendo popular.

O ingresso da MGI no pacote do Propag se deu após o vice-governador Mateus Simões anunciar que já há um entendimento de que o governo federal não tem interesse em absorver a Empresa Mineira de Comunicação (EMC) como forma de abater parte da dívida.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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