Tadeuzinho fecha ano de Propag na Assembleia e ‘passa a bola’ da dívida para Zema

Presidente da ALMG diz que projetos aprovados na Casa dão ao Governo de Minas a oportunidade de virar a página do tema da dívida e focar na resolução de outros problemas do estado

Tadeu Martins Leite (MDB) preside, nesta quinta-feira (18), a última sessão de plenário de 2025

Ao encerrar os trabalhos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em 2025, o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), concedeu entrevista coletiva em tom de virada de página após semestre carregado por projetos atrelados ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Nesta quinta-feira (18), último dia de trabalhos em plenário no ano, o parlamentar destacou que a responsabilidade de lidar com a questão fiscal do estado agora está diante do governador Romeu Zema (Novo).

Tadeuzinho destacou o papel do Propag como uma alternativa construída diante da resistência dos deputados em aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), tratado pelo Governo de Minas nos seis primeiros anos sob Zema como a medida essencial para lidar com a dívida do estado com a União. Hoje, o débito está avaliado em quase R$ 180 bilhões.

“Quando o Propag apareceu, essa casa disse não ao Regime de Recuperação Fiscal e hoje o enterramos de vez. Nós estamos conseguindo construir o futuro de Minas Gerais e o futuro futuro das próximas gerações. Agora cabe ao governo implementar as ideias do Propag, que vai muito além de apenas não pagar juros. O Propag dá oportunidade, dá fôlego para o estado de Minas Gerais agora em fazer as discussões prioritárias e necessárias. A partir de agora, vamos parar de falar sobre dívida e temos que começar a pensar, de fato, nas pessoas, no que resolve o problema da vida dos mineiros”, declarou o presidente da ALMG.

O RRF jamais foi votado na Assembleia e, em agosto de 2024, Zema conseguiu a adesão via Supremo Tribunal Federal (STF). O regime prevê medidas de austeridade que limitam os investimentos públicos, congelam salários de servidores e, inclusive, não preveem o pagamento real da dívida e a diminuição do estoque. O Propag foi planejado em 2024 como uma alternativa a partir do diálogo entre a Assembleia e do então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Destacando o que classificou como uma boa relação com os governos estadual e federal, Tadeuzinho recordou que a Assembleia aprovou mais de uma dezena de projetos enviados por Zema ao Legislativo para formatar a adesão do estado ao programa de refinanciamento. O presidente da Casa ainda ressaltou que outros textos foram reformulados diante da resistência de deputados em acatar a forma como chegaram as propostas vindas da Cidade Administrativa.

“A assembleia autorizou o Estado, incluindo todos os projetos que foram aprovados aqui, dos 14 que vieram, nós votamos 10 e outros quatro, nós construímos um acordo aqui para que eles não precisassem ser votados. Lembro aqui, por exemplo, da federalização da Uemg (Universidade do Estado de Minas Gerais), dissemos não à privatização e à retirada do referendo, por exemplo, da Cemig, que era também uma um pedido do Estado também para tentar aderir ao Propag. Tudo que nós podíamos fazer foi feito para que eles possam fazer adesão da melhor forma possível”, destacou

Ao longo do segundo semestre a Assembleia aprovou projetos para a adesão ao Propag como a mudança na estrutura da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário do Estado (Arsae-MG); a privatização da Copasa; a federalização da Codemig e da Minas Gerais Participações (MGI); e a própria entrada no programa em si, com a consequente saída do RRF.

O que diz o Propag

O Programa de Pleno pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi criado a partir das dificuldades encontradas pelo governador Romeu Zema (Novo) em aprovar a adesão de Minas Gerais ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) na Assembleia Legislativa (ALMG). Principal pauta do Executivo Estadual para lidar com a situação da bilionária dívida com a União, a medida foi considerada excessivamente austera pelos parlamentares e não caminhou na Casa.

O RRF foi instituído durante a presidência de Michel Temer (MDB) como uma forma de adequação orçamentária dos estados endividados. Durante nove anos de vigência do regime, os estados precisam conter investimentos, limitar os reajustes salariais dos servidores e congelar novos concursos para o funcionalismo público, por exemplo.

Sem conseguir aderir ao regime via Legislativa, Zema conseguiu o ingresso via Supremo Tribunal Federal (STF) em 2024. Minas, então, se somou a um grupo formado por Goiás, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, todos operando sob o RRF. Paralelamente à empreitada jurídica do governador, membros da oposição na Assembleia, o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), começaram a costurar o que viria a ser o Propag.

O projeto de lei complementar que propunha a criação do Propag foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024, sancionado parcialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro do ano seguinte e regulamentado em abril.

O programa prevê a criação de condições para que os estados endividados com a União consigam parcelar o pagamento do débito em até 30 anos. Neste contexto, o Propag estabelece mecanismos para a redução dos juros cobrados sobre as parcelas, hoje calculados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que estabelece a inflação — mais 4% do estoque da dívida ao ano.

O ingresso no Propag deve ser decidido pelos estados até o fim deste ano e pode ser feito em diferentes modelagens, todas elas com a possibilidade da redução dos juros reais com a eliminação dos quatro pontos percentuais cobrados além da inflação.

O modelo escolhido pelo governo mineiro e em discussão com um pacote com mais de uma dezena de projetos enviados à Assembleia prevê a redução de dois pontos percentuais a partir do abatimento de ao menos 20% do estoque da dívida. Hoje, Minas deve cerca de R$ 175 bilhões à União e, portanto, precisaria pagar R$ 35 bilhões para atingir seu objetivo.

Esse pagamento pode ser feito a partir da federalização de ativos estatais para amortizar a dívida com seu repasse ao governo federal ou via privatização dos bens com uso do recurso para o abatimento do débito. Neste contexto estão os polêmicos debates de venda de imóveis do estado e da Copasa e da federalização da Codemig, há meses monopolizando a discussão no Legislativo mineiro.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado.

Por fim, mais um ponto percentual pode ser suprimido com a contribuição com o Fundo de Equalização Federativa. Instituído pelo próprio Propag, essa medida foi tomada como uma forma de negociar a aprovação do texto no Congresso junto a parlamentares de estados que não estão em dívida com a União e que viam no programa de refinanciamento uma iniciativa de favorecimento das unidades federativas em débito. Os valores destinados ao fundo serão redistribuídos entre os estados do país.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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