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8 de janeiro: em dois anos, STF já condenou 371 pessoas por participação nos atos antidemocráticos

Foram 535 acordos de não persecução penal, casos em que os réus cometeram crimes leves ou não há provas suficientes da participação direta nos atos

São 78 presos provisórios, 70 presos definitivos, ou seja, não cabe mais recurso

O Supremo Tribunal Federal (STF) já condenou 371 pessoas pelos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023., que completa dois anos nesta quarta-feira (8). Dentre os condenados, estão homens e mulheres, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que invadiram a Praça dos Três Poderes, contestando o resultado das eleições de 2022 e, parte deles, reivindicando uma intervenção militar por parte do Exército.

As investigações e julgamentos, que tem como relator o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, mostram a organização dos principais personagens e articuladores do movimento que trouxe um prejuízo superior a R$ 16 milhões.

Segundo o STF, são 1.552 ações penais em curso, 371 condenações e 535 acordos de não persecução penal, casos em que os réus cometeram crimes leves ou não há provas suficientes da participação direta nos atos.

Acordos e exigências

Nessas situações, os acordos tiveram exigências e foram fiscalizados. Ao selar o atendimento, o investigado se compromete a reparar o dano cometido e, em troca, o MP determinada prestação de serviços para a comunidade, pagamento de multas — que variam de R$ 5 a R$ 20 mil —, além de ficar proibido o uso de redes sociais abertas até o fim da execução do acordo.

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Condenações

Em casos que não houve acordo, devido à gravidade do delito, por exemplo, as penas variam de 3 a 17 anos de prisão. São 78 presos provisórios, 70 presos definitivos já cumprem penas de forma definitiva e não podem mais recorrer.

Eles respondem pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Quebra de relógio

O mecânico Antônio Cláudio Alves Ferreira, de 32 anos, foi condenado a 17 anos de prisão em regime fechado por participação nos atos antidemocráticos.

As imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto registraram imagens dele, durante a invasão, destruindo um relógio histórico do século XVII, presente do rei da França, Luís XIV, ao rei do Brasil, Dom João VI.

‘Perdeu, mané'

Débora Rodrigues dos Santos, moradora de Paulina, em São Paulo, foi flagrada pichando “Perdeu, mané" na estátua da Justiça, que fica na frente do STF.

A frase escrita por Débora faz referência à resposta do ministro do STF Luís Roberto Barroso a bolsonaristas durante uma viagem aos Estados Unidos.

Ela foi presa em março de 2023.

Transmissão ao vivo

Mateus Lima de Carvalho Lázaro foi um dos primeiros condenados de forma definitiva pelo STF. Ele pegou 17 anos e cinco meses de prisão.

O entregador foi preso na Esplanada dos Ministérios, quando retornava ao Quartel do Exército, portando um canivete. Ao ser abordado, Mateus tentou fugir da polícia e mensagens encontradas no celular mostraram uma conversa com a esposa em que ele diz que era necessário “quebrar tudo, fazer uma guerra, tomar o poder” para “esperar o Exército entrar”.

Nas redes sociais, Mateus publicou vídeos e fotos da invasão, chegando a fazer uma transmissão ao vivo da Praça dos Três Poderes.

Penas menores

Embora condenados, Orlando Ribeiro Júnior e Felipe Feres Nassau, conseguiram penas menores. Os dois cumprem pena de 3 anos prisão em regime aberto.

O relator, Moraes, considerou que não foram apresentadas provas suficientes de que Nassau e Ribeiro Júnior tivessem atendado contra o Estado Democrático. As condenações foram por dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Embora os réus tenham sido julgados de forma individual, a maioria dos ministros entendeu que houve a intenção de uma multidão para derrubar o governo democraticamente eleito através de meios violentos.

Além dos participantes diretos, o STF ainda investiga quem organizou e financiou os atos antidemocráticos.

A

Em novembro do ano passado, a PF concluiu o inquérito que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 39 pessoas pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

No texto, que foi encaminhado ao Supremo, a PF afirmou que a atuação dos aliados e do próprio Bolsonaro resultaram nas invasões de 8 de janeiro.

O indiciamento, no entanto, não garante que os envolvidos serão processados ou presos. A Polícia Federal apenas avaliou que houve crime, mas cabe a Procuradoria-Geral da República (PGR) fazer uma acusação, pedir mais provas ou solicitar o arquivamento do caso.

A PGR pode fazer uma denúncia única contra todos, como aconteceu no mensalão em 2006, ou mais de uma acusação, se entender que os crimes devem ser julgados de forma separada.

Evento de dois anos

Nesta quarta-feira, o presidente Lula irá fazer uma cerimônia solene para lembrar os atos antidemocráticos. O evento será dividido em três momentos. Às 9h30, na Sala de Audiências do Planalto, acontecerá a entrega de obras restauradas no Palácio da Alvorada.

Segundo o planejamento Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), na segunda etapa do evento, prevista para às 10h30, será apresentada a obra As Mulatas, de Di Cavalcante.

A terceira etapa será uma cerimônia com a presença de autoridades, no Salão Nobre do Palácio do Planalto, às 11h. Depois disso, Lula descerá a rampa do Palácio do Planalto, com seus ministros e demais autoridades, para encontrar o público.


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Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.