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De olho em 2026, Zema se projeta no cenário nacional e repete fórmula de Bolsonaro de polarizar com esquerda

Interlocutores da direita avaliam que Zema é bem aceito entre liberais, mas precisa crescer em redutos bolsonaristas, núcleos religiosos e defender pauta de costumes

Nos últimos meses, o governador tem feito uma agenda concedendo entrevistas e subindo no palanque com outros nomes da direita

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), já está com agenda e atitude de quem está em busca de disputar a eleição presidencial em 2026. Nas eleições municipais deste ano, o governador fez incursões em redutos da direita como no Centro-Oeste do país para apoiar candidatos do campo conservador.

Apesar de não ser um quadro que surgiu em palanques, Zema já encarnou o político tradicional e subiu em vários palcos para defender os seus apadrinhados políticos. Em algumas agendas, dividiu o palco com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, em uma frente midiática, tem concedido cada vez mais entrevistas a veículos nacionais e criticado as políticas do presidente Lula (PT).

O político do Novo repete a fórmula de Bolsonaro de polarizar com a esquerda. No ‘tour’ eleitoral por Goiás e Mato Grosso, Zema aproveitou entrevistas para atacar o PT ao lembrar que recebeu um Estado economicamente destruído das mãos do petista Fernando Pimentel, que governou Minas Gerais entre 2015 e 2018. Recentemente, Zema criticou o aumento de impostos praticado pelo governo federal e disse que não cobraria DPVAT em Minas, apesar do imposto ser federal e a decisão não ser de sua competência.

Na Cúpula do Clima, em Baku, no Azerbaijão, o governador defendeu mais um argumento da direita e disse que é contra a PEC que prevê o fim da escala 6×1 (seis dias de trabalho e um de folga). Zema diz que defende a livre negociação entre empresa e funcionário. Ainda no cenário trabalhista, o governador afirmou em um evento com empresários que a falta de mão de obra no setor de comércio e varejo tem relação com grande número de pessoas recebendo Bolsa Família.

A voz de Zema ecoou em redes sociais e listas de mensagens de grupos liberais que são críticos ferrenhos de programas sociais. Em outro aceno à direita, Zema também parabenizou Donald Trump pela vitória nas eleições americanas e disse que o resultado mostra a ‘insatisfação com governos de esquerda’.

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Com B olsonaro impedido de disputar as eleições de 2026 por conta da inelegibilidade, o nome de Zema é defendido em algumas alas da direita, principalmente entre empresários e alas liberais, como um quadro forte para disputar o Palácio do Planalto. Herdeiro de um grupo empresarial que ajudou a fortalecer, o governador mineiro tem mantido agendas com o empresariado e dito coisas que eles gostam de ouvir.

Em um encontro do grupo Lide do ex-governador de São Paulo, João Doria Jr, em Portugal, o político do Novo criticou a burocracia brasileira que, segundo ele, atrapalha os empresários. “Aqueles que tentam preparar o Brasil para o futuro são sabotados”, disse o governador a uma plateia formada por empresários e investidores, além de políticos.

Além das Alterosas, políticos ouvidos pela reportagem avaliam que Zema é muito bem aceito entre defensores do livre mercado e eleitores que defendem o chamado “ Estado Mínimo”. Para crescer na direita, líderes disseram à Itatiaia que acreditam que Zema precisa crescer em redutos bolsonaristas, núcleos religiosos e defender pauta de costumes.

Tentando se projetar no cenário nacional, Zema tem nomes fortes para enfrentar internamente antes mesmo da eleição. Interlocutores destacam que líderes conservadores têm falado reservadamente sobre a importância de não dividir à direita na disputa presidencial. Com isso, há nomes importantes do campo da direita dizendo que vão atuar para que seja construída uma única chapa para disputar o Palácio do Planalto.

Se isso ocorrer, Zema, para ser o número um da direita nacional, terá que desbancar nomes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), governador do Paraná, Ratinho Jr (PSD), governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) e o empresário Pablo Marçal (PRTB), que, apesar das polêmicas, foi bem votado na disputa pela prefeitura da capital paulista.

Defendendo uma “super-chapa”, articulares da direita defendem a união de ao menos dois desses nomes. Mesmo nesta configuração de cabeça de chapa e vice, muitos nomes terão que ficar de fora da disputa. Antes de polarizar com a esquerda, Zema precisa ser “eleito” como o melhor quadro para representar à direita no país. O governador mineiro está disposto a trabalhar para isso. Para a Itatiaia, fontes no Governo de Minas disseram que Zema já comunicou ao alto escalão que quer disputar a Presidência da República e irá se afastar das funções de governador em março ou abril de 2026, cerca de seis meses antes das eleições.

Como as decisões finais ainda não estarão tomadas, Zema deixará o governo de Minas antes de ter o seu futuro definido no cenário nacional. Com tantos nomes no campo conservador, o político do Novo pode não conseguir emplacar o nome na corrida pelo Palácio do Planalto como o cabeça de chapa. Querendo contribuir com a direita, integrantes do governo dizem que Zema estaria disposto a aceitar o cargo de vice, caso líderes da direita entendam que o seu nome será importante para uma composição de uma chapa forte.

O cargo de vice é o limite para Zema. Em um café da manhã com jornalistas no qual a Itatiaia estava presente, o governador disse que não tem interesse em disputar uma vaga no legislativo.

Com base nas argumentações utilizadas pelo governador para justificar a afirmação, o político do Novo não está disposto a brigar por uma cadeira no Senado Federal, prática comum entre governadores de 2º mandato. Fontes garantem que o secretário-chefe da Casa Civil, Marcelo Aro, é o nome que será lançado pelo governo de Minas para disputar o Senado.


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Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.