Justiça inglesa nega pedido para impedir depoimento de ex-presidente da Fundação Renova

Pedido feito pela mineradora BHP foi rejeitado em Londres. Caso segue aberto nos Estados Unidos, onde reside André de Freitas, ex-presidente da fundação criada após a Tragédia de Mariana

Tragédia de Mariana aconteceu em novembro de 2015 e é considerada o maior desastre ambiental da história do país

O Tribunal Superior de Londres rejeitou um pedido da mineradora BHP para impedir que o escritório que representa atingidos pela tragédia de Mariana obtenha o depoimento e documentos de André de Freitas, ex-presidente da Fundação Renova. A decisão foi tomada na última quarta-feira (3) e trata sobre uma ação movida nos Estados Unidos, onde reside o ex-diretor da instituição criada para administrar indenizações e coordenar os esforços de reparação na Bacia do Rio Doce após o rompimento da barragem de Fundão, em 2015.

A decisão assinada pelo juiz David Waksman rejeitou uma liminar movida pela mineradora anglo-australiana que buscava interromper o processo de coleta de provas autorizado pela Justiça do estado americano do Arkansas. O magistrado argumentou que os depoimentos têm um propósito distinto e legítimo, que é “compreender melhor o papel da Renova em relação aos diversos acordos e sua forma”.

O Pogust Goodhead, escritório de advocacia que representa os atingidos, solicitou o depoimento de Freitas em novembro de 2024 alegando que a BHP interferiu nos direitos de permanência das vítimas da tragédia de permanecer no caso que tramita na Justiça do Reino Unido.

A decisão do Tribunal Superior de Londres significa que a BHP não pode usar os tribunais ingleses para prejudicar o processo em andamento nos EUA e não controlam como as partes obtêm legalmente provas no exterior.

O tribunal dos EUA foi considerado a autoridade apropriada para decidir o escopo e a propriedade da descoberta de provas. O caso segue nos Estados Unidos, onde há também o recurso movido pela BHP para anular as intimações.

Em novembro, a Justiça Inglesa proferiu uma sentença considerando a BHP responsável pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana. A decisão representou uma derrota da mineradora nesta fase de julgamento. A ação seguirá seu curso em Londres em julgamento já marcado para outubro de 2026. A etapa será determinante para avaliar o valor das indenizações, que podem chegar à casa dos R$ 260 bilhões, segundo os advogados.

O que diz a BHP

Em nota enviada à reportagem, a BHP afirma que a decisão se refere a uma tentativa do escritório Pogust Goodhead de cobrar honorários em relação a pagamentos feitos no Brasil via Fundação Renova e Samarco.

“A BHP Brasil sempre esteve empenhada em apoiar a Samarco nos extensos esforços de reparação e compensação no Brasil. O acordo assinado com as autoridades públicas brasileiras em outubro de 2024 esta sendo implementado e prevê um total de R$170 bilhões em programas de reparação e compensação no Brasil. No total, mais de 610 mil pessoas receberam compensação e assistência financeira desde o rompimento da barragem”, diz trecho da nota.

Leia também

Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

Ouvindo...