Gilmar comenta decisão que mudou impeachment no STF e elevou tensão com Congresso

Magistrado rebate críticas, aponta distorções no uso do impeachment e destaca que consultou AGU, Senado e PGR antes da decisão

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), comentou nesta quinta-feira (4) sua decisão que restringe à Procuradoria-Geral da República (PGR) a prerrogativa de pedir o impeachment de magistrados da Corte. Segundo ele, há uma “excessiva politização” do tema e um uso indevido do instrumento por razões estritamente políticas.

A manifestação ocorreu durante um fórum jurídico em Brasília, do qual também participaram o ministro do STF, Flávio Dino, e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Gilmar abriu sua participação no evento citando que o Senado acumula atualmente 81 pedidos de destituição de ministros do STF, muitos deles, segundo o magistrado, baseados apenas em decisões tomadas “no exercício regular da função jurisdicional”.

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A liminar, que ainda será analisada pelos demais ministros do STF, suspende trechos da Lei do Impeachment, de 1950. Entre as mudanças, ficam definidas:

  • Exclusividade da PGR para apresentar denúncias ao Senado;
  • Quórum de dois terços (2/3) para que a Casa admita o pedido — antes, bastava maioria simples;
  • Suspensão de regras que previam afastamento automático do ministro e corte de um terço do salário após a admissão da denúncia.

A decisão provocou forte reação no Congresso Nacional, além de críticas de parlamentares, especialmente do espectro bolsonarista.

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Gilmar, porém, afirmou que tomou a decisão após solicitar previamente manifestações da Advocacia-Geral da União (AGU), do Senado Federal e da própria PGR. Ele também destacou que a Lei do Impeachment, de 1950, precisa ser interpretada à luz da Constituição de 1988, que reforça a autonomia do Judiciário.

“Em geral, tem o foco em questões judiciais, aquelas tomadas por juízes no exercício de suas funções. Portanto, há uma excessiva politização dessa temática”, afirmou o ministro. Ele ressaltou que o debate sobre mau uso político do impeachment contra juízes ocorre “no mundo todo” e que o país precisa enfrentar o problema para evitar interferências indevidas no Judiciário.

A decisão segue em vigor até que o plenário do STF julgue o mérito da ação.

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio

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