Dino critica excesso de pedidos de impeachment e vê ‘perseguição’ a Moraes

Decisão de Gilmar Mendes restringe apresentação de denúncias ao PGR e enfraquece estratégia bolsonarista de pressionar o STF

Flávio Dino, ministro do Supremo Tribunal Federal.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino defendeu nesta quinta-feira (4) uma atualização na lei que prevê o impeachment de ministros da Corte. O ministro citou que nunca houve volume tão alto de pedidos de impeachment contra ministros da Corte - segundo ele, são 81 solicitações atualmente em andamento, número que classificou como um “excesso evidente” e sem precedentes no país.

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As declarações foram feitas durante um fórum jurídico, em Brasília, onde Dino comentou a decisão do ministro Gilmar Mendes que suspendeu trechos da Lei do Impeachment. A medida, tomada de forma liminar, impede que ministros do STF sejam afastados imediatamente enquanto tramitam pedidos de destituição. A decisão será analisada pelo plenário do Supremo na próxima semana.

Dino afirmou que não irá antecipar seu voto, mas destacou que o cenário atual exige atenção. Ele declarou que o volume de pedidos é tão anormal que deve servir como alerta e estimular o Congresso a estabelecer regras mais claras sobre esse tipo de processo

O ministro chamou atenção para o fato de que Alexandre de Moraes concentra metade das solicitações enviadas ao Senado. Para Dino, o desequilíbrio é um indício de motivação política.

A decisão de Gilmar Mendes provocou reação imediata no Senado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), divulgou nota cobrando respeito ao Legislativo e mencionou a possibilidade de discutir mudanças na Constituição para resguardar as prerrogativas dos senadores.

Entenda:

Em uma liminar concedida na última quarta-feira (3), o ministro Gilmar Mendes determinou que somente o procurador-geral da República poderá apresentar ao Senado pedidos de impeachment contra ministros do Supremo. Até então, a Lei do Impeachment - de 1950 - permitia que qualquer cidadão protocolasse esse tipo de solicitação.

Na prática, a decisão atinge diretamente um dos principais eixos de mobilização de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que passaram a tratar o impeachment de ministros do STF como bandeira política desde o avanço das investigações sobre a trama golpista. O movimento incluía discussões sobre a formação de uma maioria no Senado em 2026 para aprovar processos desse tipo. Com a mudança, a estratégia perde força: o filtro fica mais restrito e depende exclusivamente da avaliação técnica e jurídica do PGR.

Gilmar argumentou que as regras antigas são incompatíveis com o modelo constitucional atual, sobretudo no que diz respeito à independência e à estabilidade de ministros, que têm vitaliciedade e devem estar protegidos de pressões políticas. Para ele, permitir denúncias de qualquer pessoa abria espaço para perseguições, intimidações e tentativas de influenciar decisões judiciais.

Outro ponto suspenso foi a possibilidade de iniciar um impeachment com maioria simples de senadores. O decano considerou esse número insuficiente e defendeu o quórum de dois terços, adotado em outros tipos de julgamento político previstos na Constituição. Ele também suspendeu dispositivos que autorizavam o afastamento temporário de ministros durante o processo, afirmando que isso prejudicaria o funcionamento do STF, já que não há ministros substitutos.

A liminar será analisada pelo plenário do STF em sessão virtual prevista para ocorrer entre 12 e 19 deste mês, quando os demais ministros decidirão se mantêm ou não as mudanças propostas por Gilmar.

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio

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