Presidente do TCE-MG faz balanço de seu primeiro ano no cargo e projeta metas para 2026

Durval Ângelo destacou iniciativas pela transparência de dados públicos e pela mediação de conflitos. Presidente também falou sobre decisões do tribunal em temas polêmicos ao longo do ano

Durval Ângelo, presidente de Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG), falou à Itatiaia sobre seu primeiro ano no cargo

O Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG) fecha em dezembro um ano de protagonismo nas principais discussões de Minas Gerais, com atuação nos debates sobre a dívida estadual; as iniciativas de privatização perpetradas pelo Executivo e debatidas no Legislativo; e sobre a transparência no controle das emendas parlamentares. Em entrevista à Itatiaia, o presidente do órgão, Durval Ângelo, fez um balanço de 2025 e estabeleceu as metas para 2026.

Para Durval Ângelo, que assumiu a presidência do tribunal em fevereiro, seu primeiro ano no cargo teve três pilares de atuação: os convênios firmados com organizações da sociedade civil; as iniciativas de aliar a tecnologia da informação com a transparência de dados públicos; e as mesas de conciliação.

Um dos destaques, de acordo com o presidente do TCE, foi a c riação de um portal para fiscalização das emendas parlamentares. Em consonância com a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), órgão reuniu dados sobre os valores repassados por deputados federais e estaduais a Minas Gerais e permite a consulta das cifras, local de aplicação e o tipo de recurso ao qual o dinheiro será aportado.

“Criamos o melhor portal do Brasil sobre as emendas parlamentares. Tanto das emendas federais — que fizemos em convênio com o Tribunal de Contas da União (TCU) — como das estaduais. E em nosso portal, você não precisa ser especialista para entrar no site. Temos um robô chamado Veredas que dá ao cidadão a possibilidade de perguntar e consultar. A transparência não pode ser só para o órgão de controle, temos que nos aproximar da sociedade”, afirmou.

O TCE prepara, para 2026, a disponibilização de dados sobre emendas municipais. segundo o presidente do tribunal, as cidades devem disponibilizar as informações até 31 de janeiro, conforme definido no STF, para seguir com o pagamento dos valores.

Durval Ângelo destacou que, além das emendas parlamentares, o TCE avançou no uso da tecnologia para garantir que o tribunal consiga acompanhar os processos licitatórios do estado.

“Avançamos com a nova tecnologia e já temos vários robôs que vão ajudar na fiscalização. Hoje já temos 95% das licitações em MG cobertas previamente pela inteligência artificial. A gente espera chegar a 100% a partir do ano que vem”, analisou o conselheiro.

Decisões em temas de grande repercussão

O ano também foi marcado por diversas oportunidades em que o TCE foi instado a se manifestar em processos de grande repercussão envolvendo o governo estadual. A mais recente tratou sobre a suspensão do processo de consulta às comunidades escolares sobre a adoção do modelo de ensino cívico-militar, iniciativa que integra o rol de políticas de educação do governador Romeu Zema (Novo).

Ao longo do ano, o TCE também proferiu decisões contrárias a iniciativas como o Projeto Somar, que institui a gestão compartilhada das escolas públicas pela iniciativa privadas; a instalação de 12 pedágios nas rodovias do Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte; e às mudanças nas alíquotas de desconto nos salários dos trabalhadores das forças de segurança para a contribuição com o Instituto de Previdência dos Servidores Militares (IPSM).

“Tivemos que tomar algumas decisões polêmicas que não estavam de acordo com a legislação local. Como no caso das escolas cívico-militares; a privatização da gestão das escolas; a cobrança de pedágio na Grande BH; e o aumento do desconto sobre os descontos na previdência dos militares, que o governador fez por decreto e só poderia ser feito por lei. Tivemos que tomar decisões porque o tribunal não faz a lei, mas iluminados pela lei entendemos dessa forma. As nossas decisões, em geral, estão sendo mantidas por unanimidade seja no Supremo ou no Tribunal de Justiça (TJMG)”, declarou Durval Ângelo.

Criação das mesas de consensualidade

Durval Ângelo também destacou a criação das chamadas ‘mesas de consensualidade’ como um ponto alto de 2025 que deve ser mantido para o próximo ano. O termo foi adotado em substituição às ‘mesas de negociação’ para reforçar a necessidade de haver um entendimento mútuo dos participantes das tratativas sobre a melhor saída em casos de dissenso prévio.

“Desde março deste ano, as mesas de consensualidade permitiram, por exemplo, a limpeza da Lagoa da Pampulha. A briga da Prefeitura de BH e do Governo de Minas sobre quem vai ser dono do barco não nos interessa. O que interessa é que todo mês uma equipe de engenheiros do TCE vai fazer vistorias da qualidade da água lagoa e dos riachos que nela desaguam e vai nos permitir cobrar da Copasa, da PBH e da Prefeitura de Contagem”, disse

O presidente do TCe ainda citou a mesa de consensualidade que viabilizou acordos para renovação das frotas do transporte metropolitano e a que acelerou a construção e funcionamento do Hospital Regional de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri.

“As mesas seguem como prioridade para o ano que vem com a discussão sobre o Hospital de Conceição do Mato Dentro; com as dívidas relacionadas ao pagamento do mínimo constitucional dos trabalhadores da saúde e da educação; e a situação das 297 cidades em que a Copasa distribui água, mas não tem tratamento esgoto”, projetou.

Convênios

O estabelecimento de convênios com diferentes organizações também foi tratado por Durval Ângelo como um ponto importante das atividades do tribunal em 2025 e necessário para ampliar a atuação do TCE em 2026. Ele cita alguns exemplos.

“Tivemos a preocupação de fazermos convênio através da escola com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), com a Associação Mineira dos Municípios (AMM) e também com o Recivil, que é o Sindicato dos Oficiais de Registro Civil. Agora vamos ter o observatório da cidadania com tudo sobre nascimento, mortalidade, casamentos. Fizemos também uma parceria grande com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para mestrado, profissional, doutorado e pós-doutorado”, elencou o presidente do TCE.

O próprio estabelecimento do portal das emendas que deputados federais destinam ao estado foi fruto de um convênio com o TCU. Na frente municipal, a citada parceria firmada com a AMM viabilizará a continuidade da realização de encontros técnicos para capacitar as autoridades fiscais das cidades mineiras para preparar os municípios para os efeitos da reforma tributária.

“Fizemos nove encontros técnicos para discutir a reforma tributária e tivemos quase 500 municípios mineiros participando. Foi muito importante porque a reforma já começa no ano que vem. Nesse sentido, ainda não temos certeza sobre quem vai ganhar e quem vai perder, mas meu discurso é de que, certamente, quem não se preparar vai perder. Essa é a questão fundamental”, concluiu.

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Tce
Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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