Moraes confirma reuniões com BC, mas nega ter atuado em favor do Banco Master

Em nota, ministro do STF afirmou que teve encontros com lideranças do setor bancário, mas que a pauta das reuniões foi os efeitos da Lei Magnitsky

Alexandre de Moraes confirmou reuniões com setor bancário, mas negou que Banco Master estivesse na pauta dos encontros

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), se manifestou nesta terça-feira (23) sobre as informações de que ele teria pedido reuniões com o Banco Central para atuar a favor do Banco Master. Segundo o magistrado, as reuniões com lideranças do setor bancário aconteceram em virtude de ter sido sancionado com a Lei Magnitsky pelos Estados Unidos, o que afetou a viabilidade das transações financeiras dele.

Em nota, Moraes confirmou que teve reuniões com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e outros dirigentes bancários, conforme as informações divulgadas pela jornalista Malu Gaspar na segunda-feira (22) no jornal O Globo. No entanto, o magistrado refuta ter atuado em favor do Master, cujo dono, Daniel Vorcaro, chegou a ser preso em investigação por fraudes no sistema financeiro

“O Ministro Alexandre de Moraes esclarece que, em virtude da aplicação da Lei Magnistiky, recebeu para reuniões o presidente do Banco Central, a presidente do Banco do Brasil, o presidente e o vice-presidente Jurídico do Banco Itaú. Além disso, participou de reunião conjunta com os Presidentes da Confederação Nacional das Instituições Financeira, da Febraban, do BTG e os vice-presidentes do Santander e Itaú. Em todas as reuniões, foram tratados exclusivamente assuntos específicos sobre as graves consequências da aplicação da referida lei, em especial a possibilidade de manutenção de movimentação bancária, contas correntes, cartões de crédito e débito”, diz a nota.

A coluna de Malu Gaspar aponta que ouviu seis diferentes fontes que confirmaram a ação de Moraes para pedir que Galípolo tomasse decisões favoráveis ao Master, incluindo a aprovação da compra de parte das ações da empresa pelo Banco de Brasília (BRB). A medida foi rejeitada pelo Banco Central em setembro após mais de cinco meses de análise da transação.

Na mesma coluna em O Globo, em 9 de dezembro, Malu Gaspar também divulgou que o escritório de advocacia de Viviane Barci, esposa de Moraes, tem um contrato para representar o Banco Master em ações na Justiça. O vínculo de três anos a partir de janeiro de 2024 é avaliado em cerca de R$ 130 milhões por todo o período.

Banco Master na Justiça

O Banco Master foi liquidado pelo Banco Central do Brasil em 18 de novembro deste ano, dia seguinte ao qual seu dono, Daniel Vorcaro, foi preso. A instituição se notabilizou nos últimos anos por um crescimento meteórico de patrimônio e por uma postura agressiva no mercado. O comportamento da instituição já chamou a atenção de autoridades reguladoras.

A trajetória do banco nesta década envolveu aportes bilionários em empresas com pouca capacidade econômica de dar retornos financeiros aos investimentos. Investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontou que as movimentações traziam suspeitas, inclusive, de transações que favoreciam empresas vinculadas à irmã de Vorcaro.

Reportagem publicada na Revista Piauí de outubro de 2024, mostrou que o patrimônio líquido do Master quintuplicou em cinco anos, saindo de R$ 219 mihões para R$ 5 bilhões. O sucesso foi inflado pela emissão de Certificados de Depósitos Bancários

O aumento baseado na emissão de CDBs cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para pessoas físicas — o que é um indicativo de baixa liquidez — chamou a atenção do mercado financeiro e do Banco Central e colocaram o Master no radar das instituições reguladoras.

Em março de 2025, o Banco de Brasília (BRB) anunciou o interesse em comprar 58% do capital do Master por cerca de R$ 2 bilhões. A operação foi investigada pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) e passou pelo crivo do Banco Central.

Em setembro, após mais de cinco meses de análise, o Banco Central decidiu reprovar a transação. A medida foi justificada pelos riscos considerados excessivos para a transação devido à diferença nos ativos detidos pelas duas instituições.

Entre o anúncio do interesse do BRB e a decisão do Banco Central em barrar a negociação com o Master, houve entre analistas do mercado financeiro uma percepção de que a transação se caracterizava como uma operação de resgate de um banco privado em situação de iminente insolvência financeira por uma empresa estatal.

Uma nova transação foi anunciada na véspera do caos vivido pelo banco nesta terça-feira. Na segunda (17), a Fictor Holding Financeira anunciou que injetaria R$ 3 bilhões no Master. A operação seria feita por um consórcio que contava ainda com investidores dos Emirados Árabes Unidos.

A operação, embora anunciada e celebrada por ambas as partes envolvidas na transação, ainda estava sujeita à aprovação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)

A Lei Magnitsky

Citada por Moraes como justificativa para suas reuniões recentes com autoridades do setor financeiro, a Lei Magnitsky foi aplicada contra o ministro pelo presidente americano Donald Trump em julho. A decisão foi feita na esteira das sanções aplicadas pelos Estados Unidos sobre exportações brasileiras e contra autoridades do país.

Os efeitos da Magnitsky incluem bloqueio de bens nos EUA, proibição de entrada no país e restrições bancárias ligadas ao sistema financeiro norte-americano. Como quase a totalidade das transações financeiras globais, em alguma medida, são mediadas por empresas americanas, a medida é tratada como um sufocamento econômico do sancionado.

Segundo Trump, Moraes recebeu a sanção por ter ordenado prisões arbitrárias e ferido a liberdade de expressão durante os julgamentos no STF que culminaram com condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete de seus aliados por crimes como tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.
Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio

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