O Ministério da Saúde anunciou nesta segunda-feira (25) os primeiros resultados do edital que pretende ampliar a presença de médicos
Atualmente, 59% dos médicos em atividade no Brasil são especialistas, número próximo à média internacional da OCDE. Apesar disso, estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste registram índices bem abaixo da média nacional, revelando um desequilíbrio histórico na distribuição desses profissionais.
Como foi feita a distribuição
A seleção dos especialistas seguiu três critérios principais:
- regiões com menos especialistas que a média nacional;
- locais onde os pacientes enfrentam maior deslocamento e tempo de espera para atendimento;
- unidades de saúde com estrutura adequada, como salas cirúrgicas e equipamentos de diagnóstico.
Com isso:
- 336 profissionais foram alocados em municípios do interior;
- 129 em regiões metropolitanas;
- 59 em cidades da Amazônia Legal;
- 32 em faixa de fronteira;
- 138 em municípios classificados como de alta vulnerabilidade.
Perfil dos médicos selecionados
O edital recebeu 993 inscrições. Cerca da metade foi contemplada na primeira chamada, e o restante compõe uma lista de espera para futuras convocações. Entre os selecionados:
- 26% atuavam exclusivamente no setor privado e agora ingressam no SUS;
- o tempo médio de formação é de 12 anos;
- a maioria dos inscritos já possuía especialização, contrariando a previsão de que seriam médicos sem título.
As especialidades com maior procura foram:
- Ginecologia – 185 inscritos;
- Cirurgia geral – 106 inscritos;
- Anestesiologia – 93 inscritos;
- Otorrinolaringologia – também com grande destaque.
Apesar de o Brasil contar com muitos ginecologistas, a taxa nacional ainda está abaixo da média internacional: 14 por 100 mil habitantes, contra 17 por 100 mil na OCDE.
Valores das bolsas
Para estimular a interiorização, os especialistas receberão bolsas mensais proporcionais à vulnerabilidade da localidade:
- R$ 20 mil – 138 profissionais em regiões mais vulneráveis;
- R$ 15 mil – 188 profissionais;
- R$ 10 mil – 175 profissionais.
A carga horária será de 20 horas semanais, sendo 16 horas de atendimento direto e 4 horas de mentoria.
Impacto já registrado
Um dos exemplos destacados pelo Ministério ocorreu em Patos (PB), onde um serviço de oncologia foi habilitado há duas semanas. Antes, pacientes precisavam viajar de 200 a 500 km para atendimento. Agora, com a chegada de especialistas, a capacidade local de atendimento aumentou 30%, reduzindo deslocamentos em até 400 km.
Formação e residência médica
O Brasil possui atualmente 75 mil vagas em residência médica e 26 mil em outras áreas da saúde, com investimento total de R$ 5 bilhões, dos quais 3,8 bilhões são exclusivos para residência médica. Cerca de 80% dos recursos vêm do setor público.
Entretanto, a expansão desordenada de faculdades de medicina nos últimos anos e a moratória das vagas de graduação resultaram em desequilíbrios: mais de 20 mil vagas foram abertas sem critério, enquanto 60 mil pedidos foram barrados. Esse cenário levou à formação de mais médicos generalistas, sem o devido aumento no número de especialistas.
Próximos passos
O cronograma prevê:
- 10 de setembro de 2025 – divulgação do resultado final das alocações;
- 11 a 18 de setembro – apresentação dos profissionais nas unidades de saúde;
- outubro de 2025 – novo edital com 500 médicos especialistas em Medicina de Família e Comunidade, conduzido pela Fundação Carlos Chaves de Nerá.
O Ministério também já anunciou a criação de até 3.000 novas bolsas de residência médica financiadas para 2026.
Parcerias e governança
A estratégia foi construída em parceria com secretarias estaduais e municipais de saúde, hospitais universitários federais, CONASS e CONASEMS. Os próprios secretários municipais participaram da indicação das áreas prioritárias, o que o Ministério considera um diferencial em relação a políticas anteriores.
A execução contará ainda com o apoio da Emiser (entidade de apoio à formação e acompanhamento), responsável por desenvolver metodologias pedagógicas, ambientes virtuais de aprendizagem, diários de campo e portfólios reflexivos para os médicos em formação.
Desafios e perspectivas
Entre os principais desafios estão:
- garantir adesão dos médicos e evitar desistências nas regiões mais remotas;
- preencher vagas de especialidades com baixa procura, como radioterapia (apenas 16 médicos formados neste ano) e patologia;
- superar a desigualdade regional histórica na oferta de especialistas.
Apesar disso, o Ministério avalia que o programa já produziu avanços. A seleção de 54 anestesistas para atuar em regiões do interior foi considerada um marco para reduzir a concentração nos grandes centros urbanos e pode influenciar outros profissionais a seguir o mesmo caminho.
Segurança jurídica e apoio no Congresso
O governo também reforçou que os contratos do programa têm segurança jurídica garantida. A MP3, que regulamenta a iniciativa, tramita no Congresso Nacional e, segundo o Ministério, recebeu boa receptividade entre líderes partidários e deve ser votada até o fim de setembro.