Com parecer pela rejeição de emendas, venda da Copasa será discutida na tarde desta 2ª

Em comissão no primeiro turno, base de Zema argumenta pela derrubada de 29 emendas na manhã desta segunda. Relatório será discutido nesta tarde e pode ir a plenário na terça (2)

Debate sobre a privatização da Copasa segue na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária na tarde desta segunda-feira (1)

O deputado estadual Zé Guilherme (PP) distribuiu em avulso seu parecer sobre o Projeto de Lei (PL) 4.380, que trata sobre a privatização da Copasa, na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) às 9h desta segunda-feira (1). Com o entendimento pela rejeição de todas as 29 emendas apresentadas ao texto do governador Romeu Zema (Novo), o relatório agora volta a ser discutido na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) às 15h30, respeitando o período regimental de seis horas entre as duas sessões.

A distribuição do parecer em avulso é uma estratégia da base governista para evitar que a oposição peça vista e atrase a discussão do tema em 24 horas. A reunião foi aberta e rapidamente fechada na manhã desta segunda. O texto distribuído aos deputados e ao qual a reportagem teve acesso aponta pele rejeição de todas as emendas apresentadas em plenário na última quinta-feira (28).

Em seu relatório, Zé Guilherme argumenta que as emendas apresentadas já estão contempladas no substitutivo n° 3, aprovado nas comissões antes do projeto ir a plenário para as sessões de discussão na semana passada. O deputado ainda fez críticas ao teor de ao menos dez das adições propostas por parlamentares da oposição ao afirmar que seu acolhimento implicaria na alteração do cerne do projeto de privatização.

O debate será retomado às 15h30 em uma reunião da FFO que deve durar significativamente mais que a sessão matutina. À tarde, deputados da oposição poderão discutir o parecer e defender a viabilidade das emendas apresentadas. A previsão é de que, mesmo diante da estratégia de obstrução da pauta, o relatório seja aprovado e o projeto de privatização da Copasa fique pronto para ser votado em plenário em primeiro turno na terça-feira (2).

As emendas apresentadas ao PL 4.380/2025 em plenário tratam sobre pontos como a extensão da estabilidade aos servidores da companhia para 36 meses — alterações no texto feitas durante as comissões garantiram a manutenção dos empregados por 18 meses após a privatização. Outras adições propostas pela oposição incluem a manutenção de investimentos já firmados com municípios sob contrato com a Copasa, a permanência de reservatórios de água sob gestão estatal e a limitação de ajustes tarifários após a venda da empresa.

A Copasa no Propag

O PL 4.380/2025 teve sua tramitação precedida por uma atribulada discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, também de autoria de Zema, que derrubou a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa.

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados, incluindo os imóveis do estado.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido. Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

O que é o Propag

O Programa de Pleno pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi criado a partir das dificuldades encontradas pelo governador Romeu Zema (Novo) em aprovar a adesão de Minas Gerais ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) na Assembleia Legislativa (ALMG). Principal pauta do Executivo Estadual para lidar com a situação da bilionária dívida com a União, a medida foi considerada excessivamente austera pelos parlamentares e não caminhou na Casa.

O RRF foi instituído durante a presidência de Michel Temer (MDB) como uma forma de adequação orçamentária dos estados endividados. Durante nove anos de vigência do regime, os estados precisam conter investimentos, limitar os reajustes salariais dos servidores e congelar novos concursos para o funcionalismo público, por exemplo.

Sem conseguir aderir ao regime via Legislativa, Zema conseguiu o ingresso via Supremo Tribunal Federal em 2024. Minas, então, se somou a um grupo formado por Goiás, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, todos operando sob o RRF. Paralelamente à empreitada jurídica do governador, membros da oposição na Assembleia, o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), começaram a costurar o que viria a ser o Propag.

O projeto de lei complementar que propunha a criação do Propag foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024, sancionado parcialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro do ano seguinte e regulamentado em abril.

O programa prevê a criação de condições para que os estados endividados com a União consigam parcelar o pagamento do débito em até 30 anos. Neste contexto, o Propag estabelece mecanismos para a redução dos juros cobrados sobre as parcelas, hoje calculados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que estabelece a inflação — mais 4% do estoque da dívida ao ano.

O ingresso no Propag deve ser decidido pelos estados até o fim deste ano e pode ser feito em diferentes modelagens, todas elas com a possibilidade da redução dos juros reais com a eliminação dos quatro pontos percentuais cobrados além da inflação.

O modelo escolhido pelo governo mineiro e em discussão com um pacote com mais de uma dezena de projetos enviados à Assembleia prevê a redução de dois pontos percentuais a partir do abatimento de ao menos 20% do estoque da dívida. Hoje, Minas deve cerca de R$ 175 bilhões à União e, portanto, precisaria pagar R$ 35 bilhões para atingir seu objetivo.

Esse pagamento pode ser feito a partir da federalização de ativos estatais para amortizar a dívida com seu repasse ao governo federal ou via privatização dos bens com uso do recurso para o abatimento do débito. Neste contexto estão os polêmicos debates de venda de imóveis do estado e da Copasa e da federalização da Codemig, há meses monopolizando a discussão no Legislativo mineiro.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado.

Por fim, mais um ponto percentual pode ser suprimido com a contribuição com o Fundo de Equalização Federativa. Instituído pelo próprio Propag, essa medida foi tomada como uma forma de negociar a aprovação do texto no Congresso junto a parlamentares de estados que não estão em dívida com a União e que viam no programa de refinanciamento uma iniciativa de favorecimento das unidades federativas em débito. Os valores destinados ao fundo serão redistribuídos entre os estados do país.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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