Privatização da Copasa: o que diz a versão do texto em debate na Assembleia

Projeto original do governador Romeu Zema (Novo) recebeu um parecer com um substitutivo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) nesta quinta-feira (13)

Doorgal Andrada (PRD), relator da privatização da Copasa na CCJ, cumprimenta a deputada da oposição Beatriz Cerqueira (PT) — em primeiro plano, de costas — durante debate sobre o projeto

Metas de universalização do saneamento, a manutenção da tarifa social e a garantia de uma estabilidade temporária aos servidores foram acrescidas ao Projeto de Lei (PL) 4.380/2025, que prevê a privatização da Copasa. As incorporações ao texto original do governador Romeu Zema (Novo) estão no parecer distribuído em avulso pelo deputado Doorgal Andrada (PRD) na manhã desta quinta-feira (13) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A CCJ se reuniu às 9h para começar oficialmente a tramitação do projeto. Diante da obstrução da oposição, o parecer do projeto foi distribuído em avulso. Com a medida, a base evitou a chance de que algum parlamentar oposicionista pedisse vista e adiasse o debate em ao menos 24 horas. Com o relatório entregue separadamente para cada parlamentar, o intervalo mínimo entre as sessões passa a ser de apenas seis horas e já há reuniões marcadas para as 16h40 e 17h15 desta quinta.

No parecer que deve começar a ser discutido no fim desta tarde estão acréscimos importantes ao projeto original de Zema — que foi criticado pela oposição por ser considerado excessivamente curto, com apenas três páginas. Uma delas é a garantia de uma estabilidade temporária de 18 meses de estabilidade aos servidores da Copasa. O período seria contado a partir do início da gestão privada e não abrange casos de demissão por justa causa.

Além da estabilidade temporária, o substitutivo apresentado no parecer apresenta a exigência da meta de universalização dos serviços de água e esgoto em todos os municípios atendidos pela Copasa. Está também prevista na nova versão do texto a manutenção da tarifa social prevista em lei federal para a população vulnerável.

O texto, no entanto, não quantifica quantos servidores serão contemplados pela estabilidade temporária ou quantos cidadãos mineiros são atualmente contemplados pela tarifa social. O custo de ambas as operações também não está listado no substitutivo.

O substitutivo será analisado na CCJ e ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU) e Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) antes de ser votado em primeiro turno em plenário. Em todas as etapas citadas, há a possibilidade de alterações no texto, inclusive com a opção pela votação do projeto em seu texto original.

Uso exclusivo para prerrogativas do Propag

A privatização da Copasa, embora integre a pauta do governo Zema desde seu primeiro mandato, ganhou força e fôlego para tramitação na Assembleia após a regulamentação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). O projeto de refinanciamento das dívidas estaduais com a União — no valor de R$ 175 bilhões no caso mineiro — permite a federalização ou venda de ativos estatais para amortizar ao menos 20% do estoque devido para reduzir os juros cobrados sobre o parcelamento do pagamento em até 30 anos.

O substitutivo apresentado na CCJ determina que os recursos obtidos com a privatização da Copasa sejam exclusivamente utilizados para amortizar a dívida ou para cumprir com outras exigências previstas no Propag.

O Governo de Minas defende que a verba obtida com a venda da companhia de saneamento seja utilizada para a realização de investimentos em segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras rubricas. Este é um mecanismo que, dentro do Propag, garante a redução de um ponto percentual de juros cobrado sobre o parcelamento do débito (leia no fim da matéria os cálculos de benefícios previstos no programa).

A Copasa no Propag

A privatização da Copasa já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Propag. Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Além da redução de dois pontos percentuais dos juros com a amortização de 20% do estoque da dívida, é possível reduzir um ponto com a contribuição com o F undo de Equalização Federativa (FEF) destinado a estados que não estão em dívida com a União. Outro ponto pode ser retirado se a economia obtida ao não pagar a cobrança adicional for reinvestida no estado em obras de infraestrutura, educação profissionalizante, segurança pública e outros serviços à população.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Criado a partir de negociações entre deputados estaduais capitaneados pelo presidente da Assembleia, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o governo federal, o Propag nasceu como uma alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). O projeto foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024, sancionado por Lula e regulamentado em abril deste ano.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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