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Julgamento do Bolsonaro: veja como foi o 2º dia de sessão no Supremo

Sessão foi marcada por questionamentos à atuação de Moraes, ataques à delação de Cid, interrupções e até piadas com a sogra

Segundo dia do julgamento do ‘Núcleo 1' da suposta tentativa de golpe na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou, nesta quarta-feira (3), o segundo dia de julgamento da ação que apura a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus na suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

A sessão teve início às 9h17 e os ministros da Primeira Turma ouviram as sustentações das defesas de Bolsonaro; do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; do ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira; e do general Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro.

Primeiro a se manifestar nesta quarta-feira (3), o advogado Matheus Milanez abriu a sessão reclamando da inclusão de novos arquivos e informações no processo dias antes do julgamento.

Em seguida, questionou a atuação de Moares no processo. “Um fato curioso, uma das testemunhas arroladas foi indagado pelo ministro relator a respeito de uma publicação dele nas redes sociais, que não consta nos autos. Ou seja, temos uma postura ativa do juiz relator de investigar testemunhas. Porque o MP não fez isso? Qual é o papel do juiz julgador ou é o juiz inquisidor? O juiz deveria ser imparcial e afastado da causa”, afirmou Milanez.

Milanez também afirmou que Heleno se afastou do governo após a aproximação de Bolsonaro com o Centrão. O advogado explicou que o ex-ministro “era a favor de políticos não de carreira, mas de pessoas que se destacassem pelo seu interesse na defesa nacional. Então, por conta desse posicionamento dele, muito claro desde o início do mandato, quando o presidente Bolsonaro se aproxima dos partidos de Centrão e tem sua filiação ao PL, inicia-se sim um afastamento no sentido da cúpula do poder”.

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Trabalho ‘cerceado’

Quase todos os advogados de defesa reclamaram da dificuldade para analisar todo o material do processo e citaram que seus trabalhos foram ‘cerceados’. Eles também questionaram as mudanças nas delações de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, considerado peça chave nas apurações da Polícia Federal.

“Ele (Mauro Cid) foi chamado para depor 11, 12, 15 ou 16 vezes. Em todas as 16 vezes ele mudou de versão diversas vezes. Não sou eu que estou dizendo, mas o MP e a PF. No último relatório, de novembro, a acusação diz que ele tem inúmeras versões e alterações”, afirmou o advogado de Bolsonaro”, afirmou o advogado Celso Vilardi, que representa o ex-presidente.

Vilardi também disse que a denúncia do Ministério Público não traz o envolvimento de Bolsonaro nos principais fatos investigados. “Não há uma única prova, vejo os advogados trazendo papéis, minutas, depoimentos. Não há uma única prova que atrele o presidente ao Punhal Verde e Amarelo, a operação luneta e ao 8 de janeiro. Nem o delator, que eu acredito que mentiu, chegou a dizer que houve participação. Não há uma única prova”.

Defesa à delação

O advogado do ex-ministro da Defesa Paulo Nogueira, Andrew Fernandes Farias, adotou uma estratégia distinta da de outros réus. Enquanto advogados de Bolsonaro e outras figuras buscam enfraquecer a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, o defensor utilizou trechos da colaboração para reforçar sua tese.

Ele afirmou que o ex-ministro da Defesa tentou demover o ex-presidente Jair Bolsonaro de medidas radicais.

“O general Paulo Sérgio atuou para demover o presidente de caminhar por qualquer medida de exceção. A inocência do general Paulo Sérgio, segundo a delação, o depoimento da principal testemunha de acusação, é manifesta”, declarou Farias. O advogado disse ainda que o general se mostrou desconfortável diante da possibilidade de adoção de “medidas de exceção” e que, em reunião realizada em 2022, aconselhou Bolsonaro sobre a impossibilidade de reverter o resultado das eleições.

Interferências

A sessão também ficou marcada por algumas interrupções durante a sessão, seja para esclarecimentos dos ministros, falhas na comunicação e até piadas e toques de celular.

Em um momento, Vilardi cometeu uma gafe, foi questionado pelo ministro da Primeira Turma, Flávio Dino, e se corrigiu. No momento em que falava sobre uma possível reunião entre Bolsonaro, o Ministério da Defesa e chefes das forças armadas para discutir o que chamou de “medidas constitucionais”, o advogado fez a confusão.

Veja o diálogo:

Vilardi: “O presidente disse, como disseram o ministro do Exército e o Brigadeiro, chefe de aeronáutica e chefe do exército, que houve uma conversa no dia 7/12”.

Dino: “Fiquei em dúvida: vossa excelência alude o tempo todo a ‘ministro do exército’. Como este ministério não existe, está falando de quem exatamente?’

Vilardi: “Perdão, estou falando do chefe do exército”.

Dino: “O Freire Gomes?”

Vilardi: “Freire Gomes. Perdão. O ministro da Defesa, Vossa Excelência tem razão. Estou falando do chefe do Exército, do chefe da Aeronáutica”.

Já Andrew Fernandes, que defende o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, protagonizou outro momento inusitado. Enquanto argumentava, Andrew decidiu citar uma frase de sua sogra, o que levou os ministros Flávio Dino e Alexandre de Moraes a brincarem com a situação.

Confira o diálogo:

Advogado: “Outra questão é que, na contestação pública, e aqui eu lembro minha sogra, ela sempre diz: que, às vezes, as palavras são como um punhal, como uma arma, elas machucam. E por que lembrei da minha sogra?”

Fávio Dino: “Eu também estou curioso.”

Alexandre de Moraes: “A sua sogra fala isso... ou as palavras dela são o punhal?”

Advogado (rindo): “Não, de forma alguma. Tenho um amor profundo por ela.”

Flávio Dino: “O seu antecessor citou Dreyfus, depois Gonçalves Dias... e agora você cita sua sogra. Estou curioso.”

Além disso, o celular de Andrew tocou na parte final de sua apresentação, o que provocou mais uma piada de Dino. “Não esqueça de atender telefone, foi sua sogra”, brincou.

Já durante a fala do advogado de Braga Netto, José Luiz Oliveira Lima, no Supremo Tribunal Federal, os microfones apresentaram uma falha técnica e pararam de funcionar.

O presidente da sessão, Zanin, interrompeu a sustentação do advogado até que o problema fosse resolvido. O áudio foi restabelecido pouco tempo depois, e o advogado pôde continuar sua apresentação.

O julgamento será retomado às 9 da manhã da próxima terça-feira (09).

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.
Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
Repórter de política em Brasília, com foco na cobertura dos Três Poderes. É formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e atuou por três anos na CNN Brasil, onde integrou a equipe de cobertura política na capital federal. Foi finalista do Prêmio de Jornalismo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2023.
Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio
Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.